Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O estado paralelo petista: um caso de polícia

A coluna de Diogo Mainardi na VEJA desta semana começa assim: “Um delegado da Polícia Federal, citado por O Globo, definiu Vavá como ‘um cara simples, quase analfabeto, que enrola as pessoas’. Eu diria que ele possui todos os predicados para suceder ao presidente da República. Vavá 2010.” Pois bem. Ontem, foi a vez de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h24 - Publicado em 11 jun 2007, 05h48
A coluna de Diogo Mainardi na VEJA desta semana começa assim: “Um delegado da Polícia Federal, citado por O Globo, definiu Vavá como ‘um cara simples, quase analfabeto, que enrola as pessoas’. Eu diria que ele possui todos os predicados para suceder ao presidente da República. Vavá 2010.” Pois bem. Ontem, foi a vez de Nelson Passos Alfonso, advogado do primeiro-irmão, evocar a “pouca cultura” do seu cliente para negar que ele seja lobista. Em entrevista à Folha de hoje, Frei Betto (é incrível que este senhor ainda conceda entrevistas… Qual é mesmo a especialidade dele?) também evoca a simplicidade do homem, procurando limpar a sua barra. Vale dizer: cresce a olhos vistos a candidatura de Vavá…

“Simples” por quê? Nas conversas gravadas, é verdade, nota-se a sua baixa escolaridade. Desde quando isso é atestado de idoneidade moral? Sua gramática não é muito pior do que a do irmão mais novo — talvez ele evite aquelas palavras do jargão sociológico, que gente como Frei Betto e Marxilena Oiapoque andaram soprando ao ouvido do Babalorixá — coisas que ele repete por aí sem saber direito o que significam. Em Lula, a ignorância sempre foi vista como sinal de uma sabedoria natural; em Vavá, pretende-se que seja um atestado prévio de inocência.

O busílis é rigorosamente outro. Vocês sabem que foi este bloguinho o primeiro a deixar claro que um irmão e um compadre do presidente na rede da PF não são fatos corriqueiros. O recado está dado e foi devidamente compreendido. De Lula a Frei Betto — uma espécie de bobo da corte com crucifixo, com licença para dar bronca no rei —, a Polícia Federal só recebe elogios. Betto chega mesmo a sugerir ao ministro Tarso Genro que confirme logo Paulo Lacerda na superintendência do órgão. Há certa ânsia para pacificar a corporação.

O jornalismo descobriu, finalmente, a balcanização da PF e viu o óbvio: uma de suas facções decidiu mirar na Presidência da República. É claro que é um fato grave uma polícia sujeita a injunções que não aquelas rigorosamente ditadas pelo andamento da investigação. Só que este é um problema associado — ou, melhor ainda, derivado do problema principal. Vavá, com efeito, embora irmão de Lula, não parece ser um espécime típico da nova classe social que chegou ao poder. Mesmo envolvido com gente da pesada, leva mais jeitão para ser um oportunista: não por causa do seu “nível cultural”, mas por conta de sua história.

Não é esse o caso de Dario Morelli Filho. Este é um dos “profissionais” do PT. Basta ver que o homem que movimentou R$ 661 mil no ano passado tinha um empreguinho na prefeitura petista de Diadema, onde recebia R$ 4,5 mensais. É, como se sabe, compadre de Lula. Sua biografia se entrelaça com a dos chefões do partido, incluindo José Dirceu, a quem também já serviu. O PT, não sei se repararam, é uma espécie de nobreza, comandada por um monarca — Lula. Dario cuidava de desembaraçar problemas para Marisa Letícia. Vocês precisam se lembrar: em funções parecidas já houve Freud Godoy, Paulo Okamotto e, por que não?, até o primeiro-compadre, Roberto Teixeira — este um homem graúdo.

Continua após a publicidade

A notícia emblemática desse estado de coisas está na Folha desta segunda. Dario Morelli confessou à PF que fez um lobby em favor de Nilton Cezar Servo (apontado como chefão do grupo) junto à Superintendência Regional do Banco do Brasil de Tocantins porque a pessoa de lá seria ligada ao PT. Vale dizer: o estado brasileiro foi loteado pelos petistas. Quantas forem as operações espetaculosas da PF, será sempre fácil acertar alguém do partido, porque ele está em todos os lugares. Constitui-se, enfim, como um verdadeiro estado paralelo.

Dario Morelli não é uma exceção, é uma regra. Não é preciso ser muito bidu para supor que esta PF tão ativa; tão estimulada a investigar todo mundo e a meter algemas nos “figurões”; que deteve quase seis mil pessoas em quatro anos e meio (embora, na cadeia, estejam praticamente só os da Operação Xeque-Mate — sairão logo); não é preciso ser bidu para supor que essa Polícia Federal está com um bom par de petistas e filopetistas no bolso. É claro que ela cumpre a sua missão quando dá encaminhamento a suas investigações. Mas será que sabemos de tudo?

O atual estágio indica uma combinação bastante periogosa. A balcanização da Polícia Federal é fruto da desinstitucionalização a que o PT sempre submete os órgãos do estado, e a fisgada em Vavá e Dario são um sinal de que o estado paralelo petista se tornou um grande filão — TANTO PARA INVESTIGAR COMO PARA NÃO INVESTIGAR. Isso passou a depender da dinâmica interna da corporação.

Continua após a publicidade

Lula e o PT, por meio de Márcio Thomaz Bastos, quiseram usar a PF como um redutor do jogo político. Caíram na própria armadilha. Afinal, convenham: há muito tempo o petismo é um caso de polícia.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.