O discurso indecoroso de Lula, o dicionarista
Na Folha Online. Título é meu: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou hoje o caráter eleitoral de sua viagem ao Nordeste para visitar as obras de transposição do rio São Francisco. Para a oposição, a viagem é eleitoral e antecipa a pré-campanha em favor da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) –que acompanha Lula […]
Na Folha Online. Título é meu:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou hoje o caráter eleitoral de sua viagem ao Nordeste para visitar as obras de transposição do rio São Francisco. Para a oposição, a viagem é eleitoral e antecipa a pré-campanha em favor da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) –que acompanha Lula na viagem.
“Transposição não rima com eleição. É um sonho antigo desse país, reconhece a história, reconhece a covardia de alguns”, afirmou ele hoje em entrevista após após encontro com trabalhadores em Cabrobó (PE).
Lula disse que não vê diferença entre sua participação em atos públicos hoje e as assembleias de trabalhadores do seu tempo de sindicalista em porta de fábricas.
“Quando eu era sindicalista, qualquer ato era uma assembleia. Qual a diferença de fazer um ato público ou um comício? […] Eu, sinceramente, acho que não cometi nenhum ato falho. Se conseguir juntar mais de uma pessoa, se tiver duas é ato público. Se tiver três é comício, e 50 é assembleia daquelas grandes que eu fazia lá em São Bernardo”, afirmou.
A oposição vai protocolar na próxima terça-feira um pedido de informações à Casa Civil para ter acesso aos gastos da viagem do presidente Lula ao Nordeste. Na segunda-feira, lideranças do DEM e do PSDB devem discutir se acionam a Justiça Eleitoral acusando o presidente de uso indevido da máquina pública e de antecipar a campanha eleitoral.
Para Lula, a oposição não tem o que fazer. “Pobre da oposição que não tem o que fazer. A ociosidade é uma das desgraças da humanidade. Em vez de ficar parado, eu faço. […] Deveriam olhar o que estão fazendo e lembrar do tempo em que governaram. Não deve fazer discussão num nível menor. […] Nós já fomos oposição. [..] Com uma diferença, nós estamos fazendo o que eles não fizeram.”
Lula recomendou que seus adversários visitem mais obras e trabalhem mais se quiserem ganhar eleição. “Não pode levar em conta que projeto eleitoral atrapalha você para administrar. […]. Acho o seguinte: quem quiser ganhar eleição, que trabalhe. Como presidente não posso ficar preocupado com coisa menor.”
Comento
É verdade! Lula já foi oposição. E se opôs, de maneira sistemática e deliberada, ao que prestava e ao que não prestava nos governos anteriores — em especial, no governo FHC, que continua a ser a sua obsessão. Mesmo com uma popularidade altíssima, mesmo com um governo bem-avaliado, ele só tem uma preocupação: dizer que é melhor do que o antecessor. Não custa lembrar:- o PT foi contra o Plano Real e anteviu a catástrofe;
– o PT foi contra as privatizações que hoje lhe garantem a base de boa parte do poder que detém;
– o PT recorreu ao Supremo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal;
– o PT chamava superávit primário de “dinheiro pra banqueiro”;
– o PT se mobilizou contra a reforma da previdência (depois, encaminhou uma igual). Foi o tempo em que Lula desenvolveu a Teoria da Bravata: “Quando a gente (eles) está na oposição, faz muita bravata”.
Bem, tudo isso já é sabido. Mas precisa ser recuperado, nem que seja para a história, para que se entenda direito esse seu discurso indecoroso. Os petistas vão demonstrando que têm também vocação para dicionaristas. “Irrevogável” já tem sentido novo. Agora ficamos sabendo que a distinção entre reunião, comício e assembléia e só o número de participantes.
Os ataques boçais aos adversários é coisa de Lula; agia assim quando oposição; age assim quando governo. A diferença é que, agora, tem o controle da máquina pública. E faz rigorosamente o que acusava o outro de fazer.
O desafio que está posto é para o jornalismo. Falo a respeito no próximo post.