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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O discurso de Bush e sua aposta: um encontro com a justiça histórica. Será?

Em um discurso politicamente corajoso, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou, na noite de quarta, começo da madrugada desta quinta no Brasil, o envio de mais 21.500 homens para o Iraque — 17,5 mil para Bagdá e 4 mil fuzileiros navais para Anbar, base da Al Qaeda — e reconheceu, pela primeira […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 jun 2024, 08h48 - Publicado em 11 jan 2007, 04h14
Em um discurso politicamente corajoso, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou, na noite de quarta, começo da madrugada desta quinta no Brasil, o envio de mais 21.500 homens para o Iraque — 17,5 mil para Bagdá e 4 mil fuzileiros navais para Anbar, base da Al Qaeda — e reconheceu, pela primeira vez, que não havia soldados americanos em número suficiente para garantir a paz naquele país. O presidente insistiu que a vitória americana é fundamental para a segurança dos Estados Unidos e para a guerra global contra o terror. “As Forças Armadas dos EUA travam uma luta que determinará a direção da guerra global contra o terror e a segurança em nosso país. A nova estratégia que anuncio hoje mudará o rumo dos EUA no Iraque e nos ajudará a vencer a guerra contra o terrorismo”.

Bush fez algo bastante inusual para os padrões nativos (os nossos, é claro): reconheceu a própria responsabilidade: “Onde erros foram cometidos, a responsabilidade permanece comigo”. Poderia, sei lá, ter culpado o aloprado Donald Rumesfeld, o secretário da Defesa que foi demitido quando os democratas venceram as eleições legislativas. “Nossos esforços para proteger Bagdá fracassaram por duas razões principais: não havia soldados iraquianos e americanos suficientes para proteger os locais de onde tinham sido removidos os terroristas e insurgentes. Havia muitas restrições para as tropas de que dispúnhamos”, reconheceu o presidente, sem meias-palavras.

Embora os EUA estejam enviando mais tropas ao Iraque, o “novo plano” a que se refere Bush prevê que as forças iraquianas respondam pela segurança das 18 províncias do país — hoje, cuidam apenas de três. Os EUA exerceriam um papel de apoio: “Nossos comandantes militares revisaram o novo plano iraquiano para garantir a correção de erros. Eles informam que este plano pode dar resultados, e o primeiro-ministro Maliki prometeu que não vai tolerar a interferência política ou sectária”, afirmou o presidente num recado explícito aos religiosos xiitas que sonham com uma teocracia no Iraque, no modelo da que existe no Irã.

E até quando os americanos ficam lá? Bush se limitou a dizer que não é para sempre, mas não estabeleceu prazo: “Deixei claro ao primeiro-ministro e às demais autoridades iraquianas que o compromisso dos EUA não é eterno. Se o governo iraquiano não cumprir as suas promessas, perderá o apoio do povo americano e do iraquiano. Chegou a hora de atuar. O primeiro-ministro entende isso.” Bush não se referiu explicitamente à oposição democrata, mas fez uma consideração sensata: “Sair agora levará ao colapso do governo iraquiano, dividirá o país e resultará em assassinatos em massa em uma escala inimaginável.” Para ler a íntegra do discurso, em inglês, no New York Times, clique aqui.

Embora esteja no que pode ser ainda considerado o início do seu segundo mandato, Bush joga uma cartada que, espera — e é só o que pode esperar —, será reconhecida pela história. Os democratas reclamam, protestam. Mas sabem que, no atual estágio, esta é a única alternativa. A saída das tropas americanas do Iraque empurraria o país, primeiro, para uma carnificina e, depois, para uma ditadura. O envio de tropas é decidido antes que o Congresso, com maioria oposicionista, libere os recursos. Vai acontecer. Haverá protestos, mas o dinheiro sairá. Pior, aos olhos da opinião pública, do que manter a guerra é deixar sem recursos os soldados em solo estrangeiro. Não vai acontecer.

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Aprove-se ou não a decisão de Bush de invadir o Iraque, o que se tem agora é um fato consumado. E aumentar a presença dos EUA no Iraque era o único caminho. O presidente finalmente concorda com todos os críticos de Rumsfeld: a ocupação foi um desastre, e faltaram tropas, o que o ex-secretário nunca admitiu com suas teorias fracassadas de guerra cirúrgica.

Há, como se sabe, propostas para todos os gostos. Uma comissão bipartidária se formou para fazer sugestões ao presidente. À falta de uma, nada menos de 79 lhe foram apresentadas. A principal delas, que a mim também parece um tanto exótica, foi rejeitada: pedia o engajamento do Irã e da Síria nos esforços de paz no Iraque. A presunção certamente é a de que um ajudaria a pacificar os xiitas, e o outro, os sunitas. Parece bom no papel, não fossem os dois países, também eles, promotores do terrorismo. Há moderados nos dois grupos religiosos com os quais se deve dialogar? Talvez. Não acredito é em moderados sírios e iranianos… Negociações informais já se fazem com os dois países. Chamá-los à mesa como interlocutores da paz parece-me próximo do escárnio.

Enquanto Bush for o presidente, ou o Iraque permanece no caos — tomara que não — ou se chega a algo parecido com um governo pluralista (para os padrões locais), com as forças internas se equilibrando, sempre com alto teor de violência. A eventual ascensão de um democrata, no pós-Bush (não apostem tanto assim nisso…), talvez marque o encontro dos iraquianos com uma nova ditadura feroz, xiita desta feita. Feroz, mas garantidora da ordem.

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Parece que é isso o que quer boa parte do mundo e dos anti-republicanos, os que não comungam do chamado “fundamentalismo” bushiano. Estranha forma que essa gente tem de ser humanista…

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