O Diabo Veste Barba. É a minha versão, adaptada, para um sucesso certo chamado O Diabo Veste Prada, filme de David Frankel, que tem Meryl Streep como estrela. No nosso caso, desnecessário dizer quem é. Prestem atenção a esta fala de Lula sobre a baixaria em que o PT se envolveu para tentar ganhar a eleição em São Paulo:
“Eu fico imaginando que, se todas essas denúncias forem mentiras, quem é que vai dizer que é mentira, quem vai reparar o erro que aconteceu, depois das eleições. A história do Brasil tem exemplos de pessoas que foram acusadas de matar pessoas, perderam a eleição e depois ficou por isso mesmo. Então, quem quiser fazer bandidagem, por favor, não queira o Lula como parceiro, porque não aceito esse tipo de coisa (…) Eu acho abominável as pessoas tentarem comprar notícias. Tem pessoa que ainda acha que pode ser melhor que o outro se tiver uma denúncia maior do que a que ele foi vítima. Eu acho isso uma coisa absurda na política brasileira, isso não ajuda o eleitorado a decidir no dia 1° de outubro. Pelo contrário, vai deixando a sociedade com nojo da política, vai deixando a sociedade afastada das pessoas”. E disse mais: “Quem negociou dossiê vai pagar o preço por seu ato.”
A fala é um lixo moral. E um perigo. Ela concentra, em sua aparência mansa, o que de pior o pensamento delinqüente pode produzir. Vamos lá. Aos pedaços:
“Eu fico imaginando que, se todas essas denúncias forem mentiras, quem é que vai dizer que é mentira, quem vai reparar o erro que aconteceu, depois das eleições. A história do Brasil tem exemplos de pessoas que foram acusadas de matar pessoas, perderam a eleição e depois ficou por isso mesmo.”
Reparem na condicional “se forem mentiras”. Ele sabe que se trata de mentiras. Até parece que o método tentado não é um clássico no petismo. Eduardo Jorge Caldas Pereira está, até agora, desfazendo as safadezas que o PT lhe aprontou. Por sua própria conta. Com seus próprios advogados. Lula revela, no trecho, a intenção do PT de combater verdades comprovadas com mentiras. Os mensaleiros estão aí. É incontroverso. Como incontroverso é o acordo da Telemar com seu filho. Mas ele quer jogar todos os fatos no mesmo saco para ver se todos ficam pardos..
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“Então, quem quiser fazer bandidagem, por favor, não queira o Lula como parceiro, porque não aceito esse tipo de coisa (…) Eu acho abominável as pessoas tentarem comprar notícias. Tem pessoa que ainda acha que pode ser melhor que o outro se tiver uma denúncia maior do que a que ele foi vítima.”
Nem parece o presidente que, no dia anterior, havia entregado um dossiê a jornalistas na Band tentando provar que as quadrilhas haviam sido formadas em governos anteriores — o que, obviamente, indicaria um suposto vínculo entre aqueles governos e os bandidos. Desde quando um presidente da República se dá o desfrute de fornecer dossiês? Mas observem que ele classifica a ação do PT de mera reação. Seria a resposta de uma vítima. Entenderam? O PT cansou, pobrezinho, de ser vítima. E teria resolvido aderir também ao jogo sujo. Mas, claro, não contem com Lula para isso. Ele não sabia de nada, como sempre.
“Eu acho isso uma coisa absurda na política brasileira, isso não ajuda o eleitorado a decidir no dia 1° de outubro. Pelo contrário, vai deixando a sociedade com nojo da política, vai deixando a sociedade afastada das pessoas”.
É espetacular. Uma operação contra o PSDB e contra Serra armada, anunciada, vazada para blogs, que envolveu um revista de circulação nacional, tudo isso, diz o Babalorixá de Banânia, de nada adianta. O que ele pretende é nos dizer que, de maneira análoga, tudo o que se diz sobre o seu governo é igualmente uma armação.
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“Quem negociou dossiê vai pagar o preço por seu ato”
Claro, claro. Assim como Delúbio Soares, José Dirceu, José Genoino, Silvio Pereira. João Paulo Cunha, Antonio Palocci, Duda Mendonça e, por que não dizer?, o próprio Lula pagaram pelos seus, não é mesmo? Quem foi que passou a mão da cabeça dos companheiros e afirmou que eles erraram? Que partido está dizendo por aí que eles têm direito de ser julgados pelo povo nas urnas?
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Qual é a essência do diabo? O que ele faz quando tenta o próprio filho de Deus? O diabo quer que duvidemos de nós mesmos: do que sabemos, do que percebemos, do que sentimos, do que vemos, daquilo em que cremos. O Mal não é uma realidade autônoma, reconhecível, com fronteiras claras, definidas; não é um abismo que possamos identificar e do qual conseguimos prudentemente nos afastar por causa de sua aparência ameaçadora. O Mal, o verdadeiro Mal, o que destrói é corrompe, não é outra coisa que não o Bem pervertido.
O diabo veste barba. Ele perverte a democracia. Ele perverte a Justiça. Ele perverte as leis. Ele põe a mão no nosso ombro, chama-nos de irmão e de semelhante e nos deixa pobres de nossas verdades.
Vade retro, Lula!