O desespero

Leitores me perguntam se o PT não tem mais a perder do que a ganhar se optar pela baixaria. Bem… Mais baixaria? Eu acho que sim. Mas os petistas têm razão em desconfiar das minhas opiniões, não é mesmo?, por mais objetivas que sejam. E olhem que eu até dei dicas para Marta Suplicy: “Pára de bater numa administração que tem 60% de ótimo e bom…” Eles não pararam. Já havia dito o mesmo, antes, a Geraldo Alckmin. Há uma diferença entre análise e opinião. A primeira, investiguem a etimologia da palavra, significa separar um todo em partes e verificar suas características e implicações no conjunto. A opinião, de fato, é um “gosto ou não gosto disso”.

Confundir as duas coisas é fazer a opção preferencial pelo erro. Num partido político, é muito comum tomar a opinião por análise. “Isso, vamos bater em Kassab, ele merece, ele não é bom prefeito, vamos perguntar se é casado, se tem filho, vamos pra briga”. Um analista recomendaria calma.

A campanha petista está desesperada. Isso, por exemplo, não é opinião. É análise. Quais as evidências? Ontem, apareceu o amplo arco de apoios da candidatura Marta: senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Aloizio Mercadante (PT-SP); deputados Carlos Zarattini (PT-SP), coordenador da campanha, e Ricardo Berzoini, presidente do PT); prefeito de Diadema, José Fillipi Jr., também do PT… Com 50% de rejeição, segundo o Ibope — a do partido é de fantásticos 40% na cidade —, a campanha de Marta mostrou que tem o apoio dos… petistas! Além deles, há também o empresário Ivo Rosset, compadre de Marta, padrinho de seu casamento com Felipe Belisário Wermus, e o pagodeiro Netinho.

Usar a imprensa para ameaçar com vídeos dessa ou daquele tem o cheio óbvio do desespero. Eu, no lugar dos petistas, tentaria um discurso de recomposição de imagem na reta final, tentando despertar no eleitor uma certa saudade do que, então, os petistas acreditam que eles não terão com a eleição de Kassab. Mas, reconheço — e isso também é análise —, tal comportamento é alheio à natureza do PT.

Para perder com dignidade, é preciso aceitar que a democracia supõe a alternância de poder, a vitória e a derrota, o triunfo legítimo do adversário, essas coisas. Vejam a fala de ontem de Gilberto Carvalho, nada menos do que o braço direito de Lula. Ao dizer por que Kassab não pode ser eleito, ele não fez restrição a seu programa de governo ou recorreu a uma comparação com o que de positivo Marta poderia representar para a cidade. Nada disso! Esse santarrão do pau oco recorreu à desqualificação pessoal do adversário. O partido do mensalão e dos dólares na cueca — verdades factuais, certo? — acredita que o adversário não tem moral para ser prefeito.