O desentendido
Elio Gaspari não cansa de não me surpreender. Em seus textos, nunca emprega “eu” ou verbos na primeira pessoa. A exceção é quando “recebe” e-mails do além, servindo de cavalo de personalidades já mortas. Deve achar que afetaria a sua objetividade. Essa é uma das razões que confere a seu texto aquele tom “magister dixit”, […]
Elio Gaspari não cansa de não me surpreender. Em seus textos, nunca emprega “eu” ou verbos na primeira pessoa. A exceção é quando “recebe” e-mails do além, servindo de cavalo de personalidades já mortas. Deve achar que afetaria a sua objetividade. Essa é uma das razões que confere a seu texto aquele tom “magister dixit”, como se estivesse fazendo o download do Olimpo. Não deixa de ser divertido. Na sua coluna de hoje, escreve a seguinte nota:
CANIBALISMO
Entende-se que a doutora Dilma quisesse fritar o presidente da Vale, Roger Agnelli.
O que não se entende é que tenha permitido uma negociação que terminou na execução do executivo Tito Martins, que estava posto em sossego no seu serviço, foi abatido em voo e acabou satanizado, como se tivesse cometido um crime por ter boas relações com o presidente da empresa onde trabalha.
Voltei
Na nota acima, ele poderia ter escrito: “ENTENDO que a doutora Dilma quisesse fritar o presidente da Vale…” Mas preferiu aquele “se”, que torna coletivo o que é um entendimento seu.
“Entende-se por quê?” Eu não entendo! Gaspari está dizendo, na verdade, que Dilma se meteu numa empresa privada, derrubando o seu presidente, porque tinha motivos aceitáveis para fazê-lo. Quais? Já o veto a Tito Martins, ah, esse não!
Numa democracia, parece-me que só há um “entendimento” aceitável nos dois casos: é um absurdo um governo derrubar e nomear presidentes de empresa privada!