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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O caso Altalena: a democracia tem de ter coragem de bombardear o navio do terror

Como sabem, as pessoas costumam “amanhecer”. Eu entardeço. E hoje entardeci generoso, disposto a guiar, qual Virgílio, alguns leitores pela selva escura do pensamento. Aí me escreve um deles, tentando relativizar que Lamarca fosse um terrorista e, segundo entendo, o terrorismo como um todo: Rótulo complicado esse, de terrorista.O Irgun e o Lehi eram terroristas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h23 - Publicado em 14 jun 2007, 18h32

altelena

Como sabem, as pessoas costumam “amanhecer”. Eu entardeço. E hoje entardeci generoso, disposto a guiar, qual Virgílio, alguns leitores pela selva escura do pensamento. Aí me escreve um deles, tentando relativizar que Lamarca fosse um terrorista e, segundo entendo, o terrorismo como um todo:

Rótulo complicado esse, de terrorista.O Irgun e o Lehi eram terroristas quando explodiam bombas (91 mortos no atentado ao Hotel King David) na luta pela constituição do Estado de Israel? Qualquer um que faça parte de luta armada é um terrorista, mesmo que do outro lado esteja uma ditadura?

Aos leitores não-iniciados, ele está se referindo a movimentos terroristas — sim, terroristas — judaicos que lutavam pela criação do Estado de Israel e tinham, entre seus alvos, também a Coroa Britânica. Pesquisem a respeito quando houver tempo. É uma história fascinante. Mas Tio Rei tem algo a dizer a respeito.

Leiam este trecho (em azul) de um evento muito importante da história de Israel, narrado pelo jornalista Zevi Ghivelder. É muito importante para o que vou dizer a seguir:

(…) O terceiro momento crucial vivido por Ben-Gurion corresponde ao episódio do navio “Altalena”. No dia 12 de junho, Menachem Begin, líder da organização Irgun, que havia cometido ações armadas contra militares ingleses, anunciou que dali a cinco dias chegaria a Israel um navio com mil imigrantes e armas e munições que dariam para abastecer dez batalhões. Begin queria que seus homens, lutando em Jerusalém, ficassem com vinte por cento da preciosa carga. Ben-Gurion respondeu que tudo deveria ser entregue aos combatentes da nova nação, inclusive as armas que a Irgun ainda mantinha em seu poder. Era imprescindível, naquela quadra dos acontecimentos, a união nacional. Begin não se conformou e ameaçou ficar com tudo. “O Altalena” deitou âncora em frente a Kfar Vitkin e os caixotes começaram a ser descarregados. Um oficial da Haganá (ainda não havia o exército regular israelense) entregou a Begin um ultimato: ou as armas eram entregues, ou tudo seria confiscado. Diante da recusa, Ben-Gurion decidiu usar a força. O navio deslocou-se até a costa de Tel Aviv e encalhou sobre os destroços de um velho navio afundado pelos ingleses. Na manhã do dia 22, Ben-Gurion reuniu o gabinete. Seus olhos flamejavam enquanto dizia: “O que está acontecendo coloca em perigo nosso esforço de guerra e, mais importante ainda, ameaça a existência do país. Um estado não pode sobreviver sem que o seu exército seja controlado pelo próprio estado”. E enquanto Ben-Gurion se dirigia ao gabinete, Menachem Begin falava de um alto-falante no navio: “Povo de Tel Aviv! Nós, da Irgun, trouxemos armas para combater o inimigo, mas o governo está negando o acesso a elas. Ajude-nos a descarregar. Se há diferenças entre nós, vamos resolvê-las depois”. Ao mesmo tempo, no quartel-general da Palmach, corporação ligada à Haganá de Ben-Gurion, seus comandantes, Ygal Allon e Itzhak Rabin, começaram a distribuir granadas a seus homens. Uma lancha passou a trazer a carga para a praia e Ben-Gurion estava perfeitamente calmo quando disse: “Não há jeito. Vamos ter que bombardear o navio”. Em seguida, o “Altalena” foi atingido (foto) por um petardo e pegou fogo. Mais de cem pessoas morreram. Outras se jogaram ao mar e foram recolhidas por botes, inclusive Begin que, naquela noite, voltou a falar através de sua estação de rádio secreta: “Os soldados da Irgun não vão entrar numa guerra fratricida, mas também não vão aceitar a disciplina de Ben-Gurion”. Mas a história demonstrou que a disciplina de Ben-Gurion acabou mesmo prevalecendo. A rigor, ele não conferia ao Exército de Defesa de Israel apenas um valor militar, mas encarava-o como um poderoso centro de integração social, como uma instituição que traria homogeneidade nacional aos jovens judeus que tinham chegado ao país provenientes de todos os cantos do mundo.

Sabem por que Israel é um Estado — democrático! — e os palestinos estão em guerra civil? Porque um país precisa ter a coragem de afundar o navio de seus terroristas, de fato e em espírito, se quiser existir como tal. Vejam o desastre a que o corrupto Yasser Arafat (repatriaram os US$ 40 milhões que ele tinha no exterior ou não?) conduziu o seu povo. Por quê? Quando podia combater o terrorismo, resolveu usá-lo como aliado. Quando achou que era o caso de contê-lo, já não havia mais o que fazer.

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