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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O Brasil exaurido

Ontem, na Globo News, apareceu Romeu Tuma Jr., nada menos do que Secretário Nacional de Justiça, afirmando que a Corte de Mônaco “exauriu a sentença” sobre Salvatore Cacciola. Ele certamente tentou dizer “exarou”, do verbo “exarar” — em juridiquês, “registrar por escrito”. Uma bela metáfora da língua, já que o verbo “exaro”, em latim, podia […]

Por Reinaldo Azevedo 5 jul 2008, 07h37 • Atualizado em 31 jul 2020, 19h16
  • Ontem, na Globo News, apareceu Romeu Tuma Jr., nada menos do que Secretário Nacional de Justiça, afirmando que a Corte de Mônaco “exauriu a sentença” sobre Salvatore Cacciola. Ele certamente tentou dizer “exarou”, do verbo “exarar” — em juridiquês, “registrar por escrito”. Uma bela metáfora da língua, já que o verbo “exaro”, em latim, podia significar “lavrar profundamente” — em sentido físico mesmo — ou ainda “entalhar”, “sulcar”. Exarar uma sentença, portanto, por associação de idéias, é deixar o documento “lavrado” porque irreversível.

    O latim é assim. Muito práticos, os latinos fizeram derivar de ações muito concretas as noções abstratas. Etimologia é uma aventura e tanto, acreditem.

    Convenhamos, né? Só um chato como eu exige de um Secretário Nacional de Justiça que saiba a diferença entre “exaurir” e “exarar”. Pra quê?

    Tuma Jr., com aquela barba sempre por fazer, a gravata torta, a camisa amarfanhada e plurais pouco harmoniosos — o que lhe confere uma aparência, assim, de constante “Teje preso” — exauriu o latim e a última flor do Lácio de uma vez só.

    Ninguém pode me culpar se, quando o vejo, imagino-o prendendo um palito entre o molar e o pré-molar, depois de comer uma daquelas lingüiças mergulhadas em óleo e cebola cozida pelo tempo no boteco da esquina, com meias paredes em que se alternam azulejos brancos e azul-claros*. Fazer o quê? Sou também um cronista destes tempos…

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    Um lulista me chamou de chato, de reclamão, não me agüenta mais (como se fosse obrigado a me ler). Dane-se. Sou brasileiro e não desisto nunca…

    *Antes de alguém corrigir o meu plural, favor pesquisar.

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