O bispo que vá reclamar com o papa
É tão raro a hierarquia brasileira da Igreja Católica dizer coisa com coisa, que é o caso de saudar quando isso acontece. Foi o que fez hoje dom Aldo Pagotto, presidente da Comissão para Serviço de Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A primeira reação que tive foi pesquisar […]
A crítica, até aqui, está corretíssima. O Bolsa Família é a unificação de vários programas que havia no governo FHC. Chegava a pouco mais de 5 milhões de famílias. Contrapartidas eram exigidas: manutenção das crianças na escola, carteira de vacinação em dia etc. Lula unificou os programas, botou um carimbo novo e amplou o programa para 11 milhões de famílias. E o governo deixou de fazer a fiscalização. A exigência de contrapartida, hoje, só existe na lei. Pior de tudo: o Bolsa Família tem porta de entrada, mas não tem prevista nenhuma de saída.
O bispo dá uma dimensão humana, existencial, àquilo que é matéria econômica. Sem um gerenciamento competente e sem que se tenha estabelecido um prazo para a assistência, a tendência é que os beneficiados, premidos pela ignorância e por toda sorte de carências, acabem se acomodando na miséria. No momento em que se fala em corte de gastos, uma coisa parece certa: o programa pode não ser cortado, mas também não será expandido — enquanto novos miseráveis vão sendo jogados no mercado. Alguma chance de haver racionalidade na área? Nenhuma. Calcula-se que o Bolsa Família chegue a mais de 40 milhões de pessoas. Pensemos em 11 milhões de famílias com, vá lá, pai, mãe e ao menos um filho em idade de votar. Não existe esse levantamento, mas não é absurdo supor que perto de 30 milhões de eleitores conheçam as “generosidades” de Lula.
Ora, bispo! Vá reclamar com o papa! Mudar por quê?