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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O analfabetismo moral e gramatical dos Remelentos e das Mafaldinhas

A melhor saída para a Universidade de São Paulo, nunca se esqueçam, quem deu fui eu: deixar a Cidade Universitária entregue à Fefeléchi, Educação e ECA, transferir os demais cursos para outros campi, cercar a área e permitir que eles se reproduzam livremente lá dentro. Racionamos a quantidade de comida tendo em vista o espaço […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h18 - Publicado em 16 jul 2007, 21h59
A melhor saída para a Universidade de São Paulo, nunca se esqueçam, quem deu fui eu: deixar a Cidade Universitária entregue à Fefeléchi, Educação e ECA, transferir os demais cursos para outros campi, cercar a área e permitir que eles se reproduzam livremente lá dentro. Racionamos a quantidade de comida tendo em vista o espaço disponível. Aí é só dar início a uma contagem literalmente regressiva. No curso de umas três gerações, conheceremos os nossos ancestrais. Os pêlos que essas pessoas têm na alma começarão a lhes brotar na cara, nos membros superiores, nas costas… Depois, será a hora de começar a vergar a cerviz.

Nove entidades estudantis da universidade assinam uma absolutamente inacreditável carta à população em que se referem aos roubos — quem rouba é ladrão — de computadores e componentes eletrônicos havidos durante a ocupação. Numa estranha matéria, a Folha On Line diz que elas reconhecem a responsabilidade por parte dos danos. Mentira! Não reconhecem nada. Atribuem, como vocês verão, a culpa às vítimas. Comentarei, como gosto de fazer, o texto trecho a trecho.

Mas quero voltar àquela minha perspectiva “involucionista”. Reitero: nove entidades estudantis da USP se reúnem e conseguem produzir coisas como (listo apenas alguns erros):

“seria impossível impedir a entrada de pessoas má intencionadas [na reitoria]”

“ (…) o movimento propôs à Reitora Suely Vilela, nas diversas reuniões de negociação que houveram, a criação de uma comissão paritária (…)”

“ (…) punições sem provas cabais e irrefutáveis (…) será interpretado pelo movimento como um ato de punição política(…)”

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“ficou reservada uma sala no qual

“ Entendemos que, os danos causados pela entrada no prédio”

“a ocupação da reitoria, colocou em cena os estudantes”

Meu problema com os remelentos e as Mafaldinhas é a sua gramática achada no lixo? Não, é claro. Ocorre que o que está estampado no texto também lhes corre na alma, como se verá. Um grupo de pessoas se reúne para produzir esse lixo impublicável, nove entidades assinam, e não há um miserável capaz de advertir: “Espere aí, gente. Isso será uma carta pública. Vamos pedir, sei lá, para o professor Paulo Arantes (ou Chico de Oliveira, ou Olgária Matos, ou outro qualquer) revisar?” Talvez um deles tenha revisado, não é?

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Segue, em vermelho, a carta dos valentes, interrompida por comentários meus, em azul. Noto que parte da mídia apoiou entusiasticamente o movimento. Laura Capriglione, da Folha, por exemplo, foi lá e viu em ação uma verdadeira democracia ateniense. “Reacionários”, segundo ela, eram os que tentaram fazer uma passeata contra a invasão.

O que se vê abaixo é a tentativa de justificar um crime — ou uma série deles. Mais: os signatários, com novas ameaças, exigem impunidade. O governo do Estado, a Polícia, o Ministério Público e a reitoria vão condescender com o banditismo? É o que veremos.

Carta pública à comunidade USP e sociedade civil.
Desde o primeiro dia de ocupação da Reitoria da USP, a preocupação com a segurança do patrimônio público tornou-se prioritária para o movimento de ocupação; afinal seria um contra-senso reivindicar o caráter público da universidade e sua autonomia promovendo a destruição de seu patrimônio. Neste sentido, umas das medidas tomadas pela primeira assembléia deliberativa da ocupação, feita poucas horas após a entrada nos prédios, foi a de criação de uma comissão de segurança com membros rotativos. Esta comissão era responsável por zelar pela preservação do espaço físico, não permitindo o acesso de pessoas aos andares superiores dos prédios; estabelecia-se, assim, um limite físico para a movimentação dos ocupantes que ficou restrita apenas às áreas do andar térreo. Foram, também, montadas barricadas nas escadas de acesso aos andares superiores que eram vigiadas 24 horas por dia pelos membros que rotativamente participavam da comissão de segurança. Para preservação dos computadores que não seriam usados pelo movimento, além de outros objetos de valor que se encontravam no andar térreo, ficou reservada uma sala no qual estes objetos foram guardados.
Que delícia! Não sou advogado, claro. Mas, acima, o próprio movimento identifica os responsáveis: os membros da comissão de segurança. Com alguma esperteza, dizem que os membros eram “rotativos”. Mas, suspeito, a dita-cuja deveria ser formada por pessoas de confiança. Ora, são os primeiros que devem ser investigados, certo?

Ainda assim, devido ao grande número de pessoas que passavam pela ocupação diariamente, uma vez que o movimento abriu as portas da reitoria para toda a comunidade USP e outras universidades, não poderiam existir garantias efetivas para um controle total das condições de segurança do prédio, uma vez que seria impossível impedir a entrada de pessoas má intencionadas.
Tenho uma filha na sexta série e outra na quarta. Por Deus, não escreveriam “má intencionadas”. Fiz o teste. Chamei as duas ao escritório separadamente: “Você escreveria ‘má intencionadas’ ou ‘mal-intencionadas’. Ambas acertaram. Ensinei à mais velha aquele truquezinho: o antônimo de “mal” é “bem”, de “mau/má é bom/boa”. A mais nova acertou de ouvido. A outra pensou: “Pô, pai, é claro que é mal-intencionadas, né? Porque eu não poderia dizer boas-intencionadas”. Não são gênios, não. São duas garotas normalíssimas. O que elas têm, admito, é uma alfabetização compatível com seu nível de leitura.
Basta ler as reportagens a respeito. Havia uma espécie de guarita na entrada da reitoria. Só entrava gente com autorização. Se os invasores deixaram entrar os bandidos, nem por isso são menos responsáveis. As entidades que assinam a “carta”, as nove, assumem, então, a responsabilidade pelo patrimônio da reitoria. A USP tem de quem cobrar o ressarcimento; a Polícia tem de quem cobrar a responsabilidade criminal; o Ministério Público tem de quem cobrar a agressão aos direitos do povo de São Paulo, verdadeiro dono da USP.

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Conscientes dessa condição, o movimento propôs à Reitora Suely Vilela, nas diversas reuniões de negociação que houveram, a criação de uma comissão paritária com membros da reitoria, comunidade USP e participantes do movimento de ocupação, para averiguarem conjuntamente e de forma transparente, as condições materiais do prédio – averiguação esta que seria feita logo após a desocupação do mesmo. Porém, para nossa surpresa, assim que a desocupação foi efetivada, as portas novamente se fecharam e não houve o cumprimento por parte da reitoria do que fora anteriormente acordado.
A que está na quarta série também escreveria “houveram”, a exemplo dos invasores da USP. A que está na sexta acertou. Acabou de ter uma aula a respeito. “Haverrr no sentido de existirrr é invariável”, escandiu num sotaque muito paulistano, que contrasta com o de seu pai, meio caipira.

Não podemos, portanto, reconhecer os números amplamente alardeados na imprensa que supostamente dariam a conta dos danos ao patrimônio público. Repudiamos, também, aquilo que entendemos ser uma “desavergonhada” tentativa de criminalização do movimento político de ocupação, por meio da apresentação de números duvidosos e desencontrados por parte da reitoria, além da exacerbação de algumas notícias veiculadas por parte de setores oportunistas da imprensa, que, desde o primeiro dia de ocupação, não se contentam em procurar desmoralizar um movimento autônomo que teima passar ao largo do receituário político e ideológico do status quo, dos quais não passam de meros porta-vozes.O certo é “statu quo”. Adiante. A tática é a mesma de Lula, dos petistas, da esquerda… Tudo não passa de uma conspiração contra os coitadinhos. Lembrem-se que, quando os jornalistas e cinegrafistas tentaram entrar na reitoria, foram repelidos pelos invasores com jatos d’água. A reitora Suely Vilela fez, sim, uma bobagem adicional — como se bobagens lhe faltassem — ao fechar o prédio (vedando, também ela, o acesso à imprensa), dando aos invasores essa desculpa covarde, mas facilmente contestável. Ah, claro, claro, a imprensa burguesa é culpada

Entendemos que, os danos causados pela entrada no prédio, da porta principal e de um vidro de uma porta de acesso, no dia 3 de maio, decorreram da pressão e do número excessivo de pessoas que entraram ao mesmo tempo devido ao inconformismo de ver as portas da reitoria sendo fechadas enquanto pedíamos um diálogo com o vice-reitor; não cabendo, portanto, nenhum tipo de punição a ninguém, uma vez que o ato foi puramente político.
Certo. Entenderam? Os culpados pelos danos foram os que tentaram fechar as portas. Quem depredou a reitoria? A falta de diálogo. É como o garoto que pega escondido a chave do carro e provoca um acidente: “Pô, pai, também você não me deixava dirigir…”

As acusações de que o movimento promoveu pichações são totalmente infundadas e oportunistas, umas vez que enxergam em pinturas e grafites, feitos nos tapumes que envolvem toda entrada e a fachada do portão principal, indícios de vandalismo – vale notar aqui o simbolismo, qual não foi nossa surpresa, quando as pinturas que davam nova vida e significado ao entorno do prédio lúgubre da reitoria, foram logo apagadas e substituídas por uma monótona camada de tinta cinza.
Eu não sei se vocês entenderam direito. Eles não estão negando as pichações. Em novilíngua, afirmam que aquela sujeira são “pinturas e grafites”. E estão indignados: as obras de arte foram cobertas por uma “monótona camada de tinta cinza”. Alguns dirão que isso é prova de ingenuidade. Não é não. É manifestação de cinismo.

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Quanto a supostos furtos, entendemos que punições sem provas cabais e irrefutáveis que dêem conta de identificar precisamente o autor de um ato de furto determinado será interpretado pelo movimento como um ato de punição política em total desacordo com o que foi assinado pela reitora Suely Vilela nos termos de compromisso para desocupação da reitoria.
Além do analfabetismo explícito, há o truque orientado por advogados. Na ação criminal, não existe culpa coletiva. Seria preciso chegar “ao” nome ou “aos” nomes que roubaram os computadores e depredaram a reitoria. Mas calma aí. Lembro que o Sintusp, o sindicato dos servidores, por exemplo, é pessoa jurídica. Independentemente da investigação policial, cabe, reitero, a ação do Ministério Público, que defende os direitos dos cidadãos.

Voltamos a afirmar que a ocupação da reitoria se constituiu em um ato político legítimo dos estudantes da universidade que barrou parcialmente os ataques do governo José Serra á autonomia universitária. Além disso, a ocupação da reitoria, colocou em cena os estudantes, não mais como apenas aprendizes, mas como agentes da construção política. Abriu-se, assim, uma nova perspectiva, a ser construída com toda a comunidade USP e com a sociedade, de uma efetiva democratização dos mecanismos arcaicos e autoritários de poder desta universidade.
A cascata de sempre. Escrevendo como escrevem, não querem ser aprendizes, mas professores… Pior: acho que eles chegam lá. A USP não está na lama por acaso. “Efetiva democratização dos mecanismos arcaicos e autoritários…” Que lixo! Eles querem, em suma, uma universidade em que o rigor intelectual, moral e ético que revelam nessa carta seja a regra. Assinam a carta as seguintes entidades:

CCA FFLCH

AMORCRUSP
DCE LIVRE DA USP “ALEXANDRE VANNUCHI LEME”
CENTRO ACADÊMICO ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA (CAASO)
CENTRO ACADÊMICO “XI DE AGOSTO”
CENTRO ACADÊMICO IARA IAVELBERG (CAII)
OCUPAÇÃO AFIRMATIVA
CENTRO ACADÊMICO LUPE COTRIN (CALC)
CENTRO ACADÊMICO “EMÍLIO RIBAS” (CAER)

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