Nelson Motta e a velha toupeira
O e-mail é do amigo Nelson Motta, Reinaldo,O novo livro dos Emirados Sáderes se chama A Nova Toupeira – Caminhos da Esquerda Latinoamericana.Deve ter sido escrito na primeira pessoa. Será autobiográfico? Ou de confissões?É ou não é o país da piada pronta?Grande abraço do leitor militante,Nelson ComentoProntíssima! Embalada pela Boitempo Editorial.Mas agora sou eu quem […]
Reinaldo,
O novo livro dos Emirados Sáderes se chama A Nova Toupeira – Caminhos da Esquerda Latinoamericana.
Deve ter sido escrito na primeira pessoa. Será autobiográfico? Ou de confissões?
É ou não é o país da piada pronta?
Grande abraço do leitor militante,
Nelson
Comento
Prontíssima! Embalada pela Boitempo Editorial.
Mas agora sou eu quem lhe dá, Nelson, motivos para gargalhar.
O site da editora explica assim o título:
“A toupeira, animal com problemas de visão, circula embaixo da terra sem fazer alarde e surge onde menos se espera. Sua figura aparece em obras de pensadores tão díspares quanto Shakespeare e Marx. Segundo Sader, ‘tal imagem remete às incessantes contradições intrínsecas do capitalismo, que não deixam de operar, mesmo quando a paz social – a das baionetas, a dos cemitérios ou a da alienação – parece prevalecer”.
Viu só? No capitalismo, só existe paz debaixo de bala, abaixo da terra ou na inconsciência. Mas o livro mostra que a felicidade existe. Quer ver?
“Como aponta o autor, na virada para [sic] do terceiro milênio a América Latina surpreende o mundo ao contestar o modelo que até então reinava absoluto. Assim, foram eleitos os presidentes Hugo Chávez na Venezuela (1998), Lula no Brasil e Néstor Kirchner na Argentina (2003), Tabaré Vázquez no Uruguai (2004), Evo Morales na Bolívia (2006), Daniel Ortega na Nicarágua e Rafael Correa no Equador (2007) e Fernando Lugo no Paraguai (2008).”Não corrigi a inculta e bela para que o trecho fique à altura do autor.
E Sader, meu amigo Nelson, continua o mesmo. Exibe o soberbo domínio da língua que tão bem o caracteriza. Observe, no trecho abaixo, como as frases se encadeiam com elegância. Repare como as orações subordinadas se harmonizam com os principais, num bailado que faria corar Eça de Queirós.
Trecho de A nova toupeira
“O continente americano é o de maior grau de desigualdade no mundo – e, portanto, de injustiça –, situação que só se acentuou com a década neoliberal, mas os duros golpes sofridos pelo campo popular, tanto com as ditaduras quanto com as políticas neoliberais, não faziam pressagiar uma mudança tão rápida e profunda. Buscaremos compreender as condições que permitiram uma virada tão radical e transformaram o paraíso neoliberal em oásis antineoliberal num mundo ainda dominado pelo modelo neoliberal, assim como o potencial e os limites dessa virada, num marco continental e mundial.”
Definitivamente, o que se tem acima não é um trecho de “A Nova Toupeira”. É a mais legítima expressão de uma velha toupeira.