Nelson Motta: “A incrível história do informante que não sabia de nada…”
Nelson Motta, que conheceu a turma toda, que viveu os bastidores da luta dos artistas contra a ditadura, manda o comentário que segue. Volto em seguida: Reinaldo, O Simonal — assim como a Xuxa ou Adriano Imperador — informaria o quê a quem?Só quem não viveu nem sabe de nada da época, ou um idiota, […]
Nelson Motta, que conheceu a turma toda, que viveu os bastidores da luta dos artistas contra a ditadura, manda o comentário que segue. Volto em seguida:
Reinaldo,
O Simonal — assim como a Xuxa ou Adriano Imperador — informaria o quê a quem?Só quem não viveu nem sabe de nada da época, ou um idiota, pode imaginar o Simonal entrando numa das incontáveis “assembléias da classe artística” em luta contra a ditadura… Bem, se deixassem, talvez botasse todo mundo para cantar.Imagine-se o marrento Simonal, exibicionista e espaçoso, esgueirando-se pelos camarins da TV Record para bisbilhotar conversas altamente subversivas entre Geraldo Vandré e o Trio Maraiá… Aliás, o chefe de segurança da TV Record na época, que protegia TODOS os artistas da casa, era o delegado Sérgio Fleury! Ó ironia!
Finalizando a palhaçada: o Simonal não era informante simplesmente porque não PODIA e nem SABIA, mesmo se quisesse, mesmo se fosse estúpido o suficiente para fingir ser. Não é uma questão de moralidade, é de incapacidade. Ponto final.
Nelson Motta
Comento
Pois é, Nelson. Acontece que a acusação dispensa o fato. Torna-se mera questão de alinhamento ideológico. Como era — e, por incrível que pareça, ainda é — considerado um artista “de direita”, não basta a besteira que Simonal efetivamente fez. É preciso que lhe atribuam a que não fez. E é aí que reside a cereja amarga do mau-caratismo dessa gente. Explico-me.
É motivo bastante de indignação que tenha mandado dar uma sova no contador — ainda que suas suspeitas fossem fundadas. Mas, claro, isso não seria o suficiente para decretarem a sua morte. Afinal, você sabe, era só um contador… Como o objetivo é eliminá-lo da história, então é preciso, por assim dizer, fazê-lo cometer um crime nefando, de lesa aristocracia ideológica. Surra em contador é coisa pouca. Mas ser informante!? Ah, isso é gravíssimo! AINDA QUE INEXISTA VÍTIMA. AINDA QUE INEXISTA UMA SÓ PESSOA QUE POSSA DIZER: “Simonal me dedurou”. Ainda que inexista qualquer evidência a respeito.
São os aiatolás Khamenei da moralidade alheia!