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Reinaldo Azevedo

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Não encontraram veneno nos restos mortais de Jango. Não me digam! Pergunta: por que ninguém fala nada sobre Lacerda?

Se há coisa que a gente aprende com o tempo é que o ridículo não tem limites. O corpo do ex-presidente João Goulart (1919-1976) foi exumado, como se sabe, para se investigar se há indícios de que possa ter sido envenenado. Depois de um ano de investigação, a Polícia Federal põe um ponto final ao […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 02h32 - Publicado em 2 dez 2014, 05h03

Se há coisa que a gente aprende com o tempo é que o ridículo não tem limites. O corpo do ex-presidente João Goulart (1919-1976) foi exumado, como se sabe, para se investigar se há indícios de que possa ter sido envenenado.

Depois de um ano de investigação, a Polícia Federal põe um ponto final ao trabalho e conclui que não há indícios de envenenamento. Mas também não pode, por, digamos, manutenção da dúvida decorosa, negar que tenha havido envenenamento, uma vez que eventuais substâncias letais podem ter desaparecido no tempo.

Então ficamos assim: a Comissão da Verdade promove a pantomima, a PF investiga, não encontra nada — e, porque não encontrou, então a dúvida continua. Donde se conclui que se procedeu a um exame que só poderia dar um resultado confiável: positivo. Se dá negativo, é o caso de manter a hipótese conspiratória.

Jango era um cardiopata grave e estava longe de ser um paciente disciplinado. O mais provável é que tenha morrido mesmo de infarto. Ocorre que não se fez autopsia à época, o que colabora para manter acesa a chama da conspiração.

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Leio na Folha o seguinte: “Familiares do presidente dizem que o resultado não encerra as investigações ainda em aberto no Ministério Público Federal e na Argentina. Apesar do resultado da perícia, as apurações podem avançar em outras frentes, com a busca de provas testemunhais do suposto assassinato. ‘Vamos continuar lutando’, afirmou João Vicente Goulart, filho de Jango.

Então tá. Quem sabe as provas testemunhais, não é?, quase 40 anos depois, possam dar aquela certeza que as provas científicas se negam a conferir. Ah, tenham paciência!

Olhem aqui, estamos num daqueles casos típicos de um erro lógico já apontado pela escolástica: “post hoc ergo propter hoc”: depois disso; logo, por causa disso”. Ou por outra: já que algo aconteceu depois de determinado evento, esse evento passa a ser causa do acontecido. O exemplo clássico é este: o galo canta, e o dia amanhece. Sim, o dia amanhece depois que o galo canta, mas não porque o galo canta.

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Vamos ver. Havia uma ditadura no Brasil. Juscelino morreu num acidente de automóvel no dia 22 de agosto de 1976. Jango morreu do coração no dia 6 de dezembro do mesmo ano, e Carlos Lacerda, no dia 21 de maio de 1977. Em nove meses, três líderes civis do Brasil pré-golpe se foram, justamente o trio que formara a “Frente Ampla” contra o regime militar.

Vejam que curioso: dos três, o que teve morte mais surpreendente foi Lacerda: internou-se num dia na Clínica São Vicente para cuidar de uma desidratação gerada por uma gripe, e estava morto no dia seguinte, vítima de “endocardite bacteriana”, que é uma infecção no coração.

Curiosamente, não se levanta a hipótese de que Lacerda também possa ter sido assassinado. E por que não? “Ah, afinal, ele era um direitista, né?, um reacionário!” E os progressistas, sabem como é?, só se preocupam quando morre um dos seus.

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Isso tudo não passa de teoria conspiratória, perda de tempo e desperdício de dinheiro.

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