Não! Chalita não foi bem na entrevista ao Estadão. Ou: Uma presidente que cobre aliados de abraços e carinhos e beijinhos sem ter fim…
Admiradores do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) — parece que alguns deles leem este blog… — enviaram alguns comentários me esculhambando porque, dizem, deixei aqui de chamar a atenção para uma entrevista que ele concedeu ao Estadão de domingo, aos repórteres Fausto Macedo e Bruno Boghossian. O link está aqui. Segundo esses leitores, eu só […]
Admiradores do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) — parece que alguns deles leem este blog… — enviaram alguns comentários me esculhambando porque, dizem, deixei aqui de chamar a atenção para uma entrevista que ele concedeu ao Estadão de domingo, aos repórteres Fausto Macedo e Bruno Boghossian. O link está aqui. Segundo esses leitores, eu só teria “omitido” — como se eu fosse obrigado a reproduzir o mundo em meu blog! — a entrevista porque “Chalita foi muito bem…” Errado! Não achei importante, mas, se esses leitores acham, pois não!
Ele não foi bem coisa nenhuma! Foi é muito mal. E, considerando duas respostas que deu, vou fazer aqui algumas perguntas que não querem calar. Leiam (em vermelho). Volto depois.
(…)
Como conheceu Grobman?
Esse cara frequentou mesmo a minha casa e foi em algumas viagens do Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação). Ele namorou uma menina que foi diretora da PUC, a Márcia (Alvim). Ela trabalhava na secretaria. Eu vi as fotos que ele tirou do meu apartamento, ele ia sozinho lá, tirava foto dele próprio no apartamento. Se ele tirou tanta foto porque não tirou foto do dinheiro? Se ele viu esse dinheiro colocado lá por que não fez foto?
O que ele fazia na secretaria?
Roberto nunca teve sala na secretaria. Eu não sei por qual caminho ele chegou na secretaria. Ele começou a ficar mais próximo da Márcia. Nunca foi assessor, nem formal nem informal. Ter foto comigo ele pode ter, todo mundo tem foto comigo. A Márcia namorou com ele um tempo e depois descobriu que ele era casado. Teve viagem que ele (Grobman) foi junto. Deve ter ido a duas, três, não sei se quatro dessas viagens. Na Espanha, eu comecei a ficar um pouco preocupado porque ele abordava muitos outros secretários e usava meu nome para apresentar projetos. Quando percebi, cortei totalmente. Ele começou a ir no meu programa de TV, da Canção Nova, dois anos depois. Falou que tinha um dossiê contra um inimigo político. Eu disse: leva para a polícia. Ele sempre foi muito esperto em questões tecnológicas, em apagar coisas. Roberto falava “se sair alguma coisa contra você me fala que eu faço sumir tudo da internet”. Resolvi me afastar dele. Ele é meio estranho, já se vestiu de marinheiro, de piloto de avião. Uma amiga dele disse que para a última namorada ele se apresentava como da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Cada vez uma história. Ele realmente fantasia histórias, cria coisas. Com as mulheres ele é gentilíssimo. É uma coisa complicada. Eu fiquei com medo.
Voltei
1: Chalita admite que Grobman foi a algumas viagens do Conselho Nacional dos Secretários de Educação. Era funcionário do COC, uma empresa privada. O que fazia ele nessas “viagens”?
2: Chalita costuma levar a tiracolo, em viagens, os namorados de suas assessoras? Por quê?
3: Segundo o deputado, o rapaz visitou seu apartamento algumas vezes, sozinho. Há coisas que só são explicáveis no Admirável Mundo de Chalita. Pergunto:
a: Grobman tinha a chave?
b: a mansão suspensa de Chalita era administrada por empregados. Por que eles deixavam Grobman entrar na ausência do proprietário?
c: Grobman era esquisito? Mas não o suficiente para acompanhar Chalita em viagens internacionais, inclusive a uma praia na Normandia?
4: VEJA traz uma foto dos dois na França. Na entrevista, Chalita disse que começou a ficar incomodado com o seu parceiro de viagens quando estavam na… Espanha! É aquele que o deputado diz nem saber como chegou à Secretaria…
5: Chalita diz que Grobman já se fantasiou de marinheiro e piloto de avião. Tudo para demonstrar que o rapaz “é estranho”. O deputado só não achava estranho que o funcionário de uma empresa privada o acompanhasse em viagens oficiais à França, à Espanha etc.
6: Segundo diz, Grobman o procurou com um dossiê. Ético, Chalita teria dito: “Vá à polícia”. Está certo! Foi o que fez o deputado Walter Feldman quando o material contra Chalita chegou às suas mãos. Em vez de botar no horário eleitoral, encaminhou ao Ministério Público.
A entrevista informa que Chalita recebeu, só em 2012, R$ 1,7 milhão em direitos autorais. Corresponde à venda de um ano? Digamos que fique com 10% do valor de capa dos livros. O valor total da venda seria de R$ 17 milhões. Considerando a sua vastíssima obra, o preço médio de capa seria aí da ordem de R$ 30. Ele precisaria ter vendido quase 600 mil exemplares em único ano — e isso só no Brasil — para atingir esta marca. Digamos que, sendo quem é, fique com 20% — seriam quase 300 mil exemplares. Tudo isso pode ser verdade, claro!; não estou a aqui a dizer que é mentira. De toda sorte, é impossível confirmar. As editoras não revelam quantos livros ele vendeu. “Está sugerindo o quê?” Nada! Estou apenas apontando como tudo é incomum no mundo de Chalita.
Dilma e os beijinhos
Parte do sucesso, até agora ao menos, de Chalita se deve ao que me parece ser uma espécie de ausência de superego, que confere às pessoas o prudente senso de ridículo. Seja para os padrões à esquerda, de centro e à direita, ele tem realmente uma abordagem absolutamente inusitada, que surpreende e constrange. Leiam esta pergunta e esta resposta:
O caso afeta pretensões políticas?
Vou ser candidato. Governador, deputado… A presidenta Dilma nunca me convidou para ser ministro. Ela me trata muito bem. Estive com ela essa semana, me deu um abraço carinhoso, como sempre, no jantar na casa do (Michel) Temer. Ela me beijou muito, “ô Chalitinha”. Vou presidir a Comissão de Educação e quero fazer um trabalho muito legal. Eu tenho um sonho na minha vida que é aprovar a Lei de Responsabilidade Educacional, com sanções ao gestor que não cumprir as metas previstas.
Voltei
Chalita era, sim, candidato a ministro. A promessa de cargo fez parte do acordo para apoiar Fernando Haddad — em cuja companhia (e da família) ele passou a desfilar em eventos sociais. Vejam ali. Dilma o teria beijado “muito”, afirmando: “Ô Chalitinha”.
A presidente tem marqueteiros que cuidam de sua imagem. Também é avó de um neto. O fotógrafo oficial da Presidência a acompanha. Se quisesse essa imagem da “beijoqueira”, já teria aparecido fazendo tchuca-tchuca no netinho… Mas não! Notem bem: qual petista, neste vasto país, diria: “A presidente me beijou muito”? Dirceu? Delúbio? Genoino? João Paulo Cunha? Nem Fernando Haddad, que também faz a linha fofo-ternurinha, a tanto se atreveria…
Mas Chalita segue adiante, defendendo coisas como a tal “Lei de Responsabilidade Educacional”, para punir gestor que não cumprir metas previstas. Parece coisa avançada e progressista. É só mais uma tolice vistosa. Por que não uma Lei de Responsabilidade Sanitária? Uma de Responsabilidade de Segurança, e por aí afora?
Vênia máxima aos que acham que Chalita foi bem na entrevista. Não foi, não! Ele foi é muito mal. Há respostas suas que desafiam a lógica mais elementar — ao menos com o que se sabe até agora. O destaque fica para o destemor com que desafia o ridículo, observação que segue válida mesmo que seja inocente.
Beijinhos de Dilma… “Ô Chalitinha…” Quem, reproduzindo a fala de um interlocutor, refere-se a si mesmo no diminutivo? Chalita parece fascinado com essa imagem do menino certinho e prodígio, sempre amparado por uma mulher mais velha, que o protege das maldades do mundo. Antes de Dilma, houve outras a ocupar esse lugar na sua imaginação — e nos eventos sociais. Diante de um grupo delas, certa feita, teria aceitado o desafio de começar a escrever um livro de imediato, durante a conversa… Parece que tudo começou com uma professora que morava num asilo e que lhe teria dado Sartre para ler quando o inocente infante tinha apenas oito aninhos. Ele contou isso numa entrevista. A molecada ranhenta e de cascão no pé soltava pipa, jogava pião, fugia do banho, fazia coisas inconfessáveis. Chalita lia Sartre. Teria surpreendido aquela doce (e perigosíssima!) senhora, segundo ele mesmo revelou, com uma frase que vale por uma divisa intelectual. Ao devolver o livro à sua preceptora, disparou: “Não entendi nada, mas adorei”.
PS – Não, não estou dizendo que Chalita é culpado — e peço que vocês também não digam. Estou sustentando que o caso tem de ser investigado. E que a entrevista dele, ao contrário do que disseram seus admiradores, é ruim de doer e mais deixou fios desencapados do que explicou o imbróglio, ainda que Dilma o tenha coberto de beijos.