MinoCartismo: a variante minimalista do macartismo
Escreveu ontem Mino Carta em seu, digamos, blog: “Ontem veio a São Paulo a comissão do Senado que pretende investigar os contratos do metrô paulistano. O motivo é óbvio, a voragem da linha 4, estação Pinheiros. Nosso queixo não desabará se a operação senatorial der em nada, mas os parlamentares vieram e inspecionaram diligentemente as […]
“Ontem veio a São Paulo a comissão do Senado que pretende investigar os contratos do metrô paulistano. O motivo é óbvio, a voragem da linha 4, estação Pinheiros. Nosso queixo não desabará se a operação senatorial der em nada, mas os parlamentares vieram e inspecionaram diligentemente as obras. Foram acompanhados por jornalistas e câmaras, alem de curiosos. Estranhamente, rádios e televisões não transmitiram, ontem ainda, uma única, escassa informação a respeito, assim como, na manhã de hoje, O Estado de S.Paulo e a Folha silenciaram. Sabemos que as reportagens chegaram a ser editadas, mas não foram ao ar, ou ao prelo. (…)O governador [José Serra] preferia que a visita dos senadores ficasse em nuvem alvíssima, e o secretario [Hubert] Alqueres desencadeou uma blitz junto às redações, de sorte a ser cumprida a vontade do seu amo. Serra, isso não é de hoje, goza de imenso prestigio junto aos patrões da mídia nativa, com os quais mantém contatos periódicos, sobretudo quando algum profissional desabrido mostra-se inclinado a exercer o espírito critico. De todo modo, Alqueres cobriu-se de glória.”
Mino, esse gigante do jornalismo, está sendo injusto. Que é que isso? Na segunda, dia 26, às 20h22, eu noticiei aqui, sim. Está lá: “Ao fim dos encontros, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que anda em busca de uma causa, reafirmou a importância da Linha 4 para a cidade e disse que, segundo os senadores verificaram, não há qualquer risco de se excederem os limites estabelecidos na lei.” Os senadores tinham vindo a São Paulo para saber se a PPP celebrada para a operação da Linha 4 excedia os limites de endividamento do Estado. Parece que Mino está reclamando do fato de que os meios de comunicação foram tímidos em noticiar o elogio ao governo de São Paulo.Mas o que chamou a minha atenção na nota do velho lobo da imprensa, reproduzida por José Dirceu em seu blog, foi outra coisa. Vejam lá o que destaquei em negrito. Sobre os jornais e as TVs, escreve Mino Carta: “Sabemos que as reportagens chegaram a ser editadas, mas não foram ao ar, ou ao prelo”. Pelo visto, os jornalistas independentes a favor do governo, categoria de que Mino Carta é chefe, onde brilha como autoridade suprema, montaram algo parecido como uma rede de espionagem, uma verdadeira polícia secreta, encarregada de patrulhar as outras redações.Trata-se do MinoCartismo, a variante minimalista do macartismo.O pior é que, às vezes, parece que a patrulha acaba rendendo frutos. Há que se intimide. Aos chefes de redação, deixo uma dica: um bom parâmetro para tomar decisões editoriais é se indagar: “O que o MinoCartismo faria nesse caso?” E fazer rigorosamente o contrário.