Mato a cobra e mostro o pau
A petralhada está ensandecida com o texto de hoje de Elio Gaspari. Ele me é enviado como exemplo de jornalismo isento, coisa a que eu deveria aderir. Pois não. Começo assim: ESCREVE GASPARI HOJE: A principal gracinha propagada pelos defensores de Eduardo Azeredo é a teoria do “não sabia”. Se ele não sabia que sua […]
ESCREVE GASPARI HOJE:
A principal gracinha propagada pelos defensores de Eduardo Azeredo é a teoria do “não sabia”. Se ele não sabia que sua campanha era azeitada por recursos tungados à Viúva e entregues a Marcos Valério, qualquer tentativa de associá-lo à roubalheira é injusta. Afinal, Lula diz que não sabia das mesmas trambicagens, praticadas quatro anos depois pela direção do PT com o mesmo Marcos Valério. Nas palavras da assessoria do tucano: “As questões financeiras da campanha não foram de [sua] responsabilidade”.
ESCREVEU REINALDO AZEVEDO NO DIA 20 DE SETEMBRO:
“Vejam só: com efeito, Azeredo está nessa história [mensalão de Minas] como Lula está na outra. Embora Lula fosse o principal beneficiário do mensalão federal, ele não sabia de nada. Embora Azeredo fosse o principal beneficiário do esquema mineiro (só não foi porque perdeu), ele também não sabia de nada. Acho, por isso, que ele deve ser poupado? Eu não. Acho é que Lula também tem de ser processado. Entenderam o meu ponto?
ESCREVE GASPARI HOJE
“Quando um petista é confrontado com as mutretas de seus companheiros, se enraivece e atribui a referência a algum tipo de conspiração elitista. Quando um tucano fica na mesma situação, ofende-se e corre para a blindagem do silêncio.” Entendi que ele acha que Azeredo tem de ser punido.
ESCREVE REINALDO AZEVEDO EM 18 DE JULHO DE 2006
“Que os dois partidos não repitam agora o erro cometido antes com Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Roberto Brant (PFL-MG). Se vocês se lembram, os dois foram flagrados num caso de caixa dois de campanha, esquema de Marcos Valério. Nada tinha a ver com o Estado paralelo montado pelo PT. Mas foi o bastante para conferir verossimilhança a uma mentira oficial: ‘somos todos iguais’. Os partidos não precisam esperar o resultado das instâncias oficiais de investigação. Isso vale para questões criminais e para a perda ou não de mandato no futuro. A expulsão de uma legenda é um ato partidário.”
Então…
O que vai acima é a referência mais antiga que achei neste blog de texto pedindo a punição de Eduardo Azeredo. Quem me acompanhava já em Primeira Leitura sabe que defendo que o PSDB o puna desde 2005. Assim, se os petralhas tomam o texto de Gaspari como exemplo de isenção, estão atestando também a MINHA ISENÇÃO, o que, para mim, é uma lástima. PORQUE EU NÃO QUERO QUE PETRALHAS ME CONSIDEREM UM JORNALISTA ISENTO. No dia em que isso acontecer, vou me sentir na obrigação de perguntar onde é que estou errando.
A verdadeira questão
Pisou na bola, tem de ser punido. É o meu lema. Mas jamais cairei na cilada de considerar que caixa dois de campanha é tão grave quanto tentar comprar o Congresso. Mesmo no crime, há hierarquia. Sigamos. Dado o que vai nos parágrafos anteriores, fica parecendo, então, que eu e Gaspari concordamos em tudo (ao menos nos textos citados). Não concordamos de jeito nenhum.
ESCREVE ELE
“Afinal, Lula diz que não sabia das mesmas trambicagens, praticadas quatro anos depois pela direção do PT com o mesmo Marcos Valério. Nas palavras da assessoria do tucano: “As questões financeiras da campanha não foram de [sua] responsabilidade”.
Seria um caso clássico de dois pesos e duas medidas. Todavia, o argumento é falso. Para que fosse verdadeiro, precisaria aparecer um empréstimo pessoal de R$ 511 mil, feito por Lula junto a um petista amigo que participou da coordenação de sua campanha. (Em 2003, Paulo Okamotto, atual presidente do Sebrae, pagou uma conta de R$ 29 mil de Lula, mas não esteve na banca petista de 2002.) Isso não permite sugerir que Lula não sabia dos malfeitos de Delúbio Soares, ou que não sabe de onde veio o dinheiro de Okamotto. Indica apenas que não se acharam as suas impressões digitais. No caso de Azeredo, elas estão lá, no empréstimo de Mares Guia.”
LEMBRO EU
As digitais de Paulo Okamotto, tudo indica, só não apareceram porque o então ministro do STF Nelson Jobim impediu a quebra de seus sigilos bancário, telefônico e fiscal. À época daquela crise, dizia-se que era potencial candidato à Presidência da República, quem sabe a vice de Lula. Terminou no Ministério da Defesa.
ESCREVE GASPARI
SE O MINISTRO da Articulação Política do governo fosse um petista saído do movimento sindical, o céu já teria desabado sobre Brasília. Imagine-se um companheiro metido numa reunião para definir a arrecadação da caixinha eleitoral de um candidato que acabou derrotado na eleição de 1998. Some-se um empréstimo pessoal feito por esse mesmo petista ao candidato, depois de sua derrota. Walfrido Mares Guia fez tudo isso, mas o tucanato trata o assunto com um silêncio retumbante, indicador do oportunismo com que manipula a moralidade alheia. Mares Guia não é um sindicalista, mas próspero empresário; não está no ABC, mas na plutocracia mineira; não se meteu na campanha dos companheiros, mas na do então governador Eduardo Azeredo, que viria a ser presidente do PSDB.”
ESCREVO EU
Opa! Também quero depenar os tucanos que estão fazendo bobagem. Mas pelos pecados que são deles. Diga aí, ó Gaspari: quem está mais empenhado hoje em proteger o “próspero empresário”? São os tucanos ou os petistas? Quem foi lá ontem, em romaria, para “prestigiar” o ministro? Até onde sei, a base aliada.
Por que defendo, desde 2005, a expulsão de Azeredo do PSDB? Além de ser uma questão de moralidade e de justiça, porque sempre soube que um texto como este de Gaspari seria escrito um dia. Como se vê, ambos achamos que o senador tucano tem de ser punido. Só discordamos na decisão de misturar alhos com bugalhos — e, pior, vendendo bugalho como se fosse alho…