Lula, Raul Seixas e o embuste intelectual
Leiam abaixo o texto de Renata Giraldi, na Folha On Line. Volto em seguida:O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez mea-culpa e justificou nesta quarta-feira o motivo pelo qual mudou de opinião com relação à cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Bem humorado, Lula brincou com a oposição e disse que se […]
Leiam abaixo o texto de Renata Giraldi, na Folha On Line. Volto em seguida:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez mea-culpa e justificou nesta quarta-feira o motivo pelo qual mudou de opinião com relação à cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Bem humorado, Lula brincou com a oposição e disse que se sente como se fosse uma “metamorfose ambulante” -numa alusão à música do cantor Raul Seixas.
O presidente defendeu a flexibilidade de posições ao tratar sobre as mudanças que ele viveu em relação à CPMF. Lula contou que, no passado, foi a Brasília para criticar a adoção da contribuição e agora defende a manutenção da cobrança.
“Por isso que há muito tempo eu digo: ‘prefiro ser uma metamorfose ambulante e estar mudando à medida que as coisas mudam. Não tenho a dureza do manifesto de um partido comunista ortodoxo”, afirmou Lula durante a cerimônia de lançamento do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) da Saúde, no Palácio do Planalto.
Segundo Lula, os ortodoxos já têm “tudo escrito”. Mas ele disse acreditar que “ainda tem muita coisa para ser escrita”, numa referência à necessidade de as pessoas reverem suas posições e estarem abertas a mudar de opinião.
“Como eu não tenho vergonha e muito menos tenho razão para não dizer que mudo de posição”, afirmou o presidente.
Lula disse que aprendeu que deveria ter flexibilidade para mudar de opinião com a mãe e tenta passa a mesma lição aos filhos.
“Eu aprendi com a minha mãe [a ter humildade para mudar de posição] e passei para os meus filhos: ‘vocês só vão aprender a ser pai quando forem pais’”, disse o presidente.
VolteiPoderia tratar Lula apenas por aquilo que ele é na superfície: um homem irrelevante, com a sua citação de Raul Seixas. Posso e devo tomá-lo por aquilo que ele é mais profundamente: o sintoma de um mal. Quando tiverem tempo, entrem no Google e ponham lá na área de procura os seguintes termos: “Reinado Azevedo presente eterno”. Pode ser sem aspas. E vocês verão quantas vezes, neste blog (e já o fazia desde 2001 no Primeira Leitura, antes de Lula ser presidente), afirmei que o petismo havia instituído o presente eterno na política. No meu artigo de estréia na VEJA, tratei do assunto.
Isso que diz Lula é o ápice da amoralidade. Com a frase, ele quer dizer que estará sempre certo e que jamais se arrepende de qualquer ato. Negar a CPMF no governo FHC era parte da construção de seu partido. E ele o fez. Sem medir as conseqüências. Aprovar a contribuição agora, idem. Vejam lá seu exemplo: só se aprende a ser pai sendo pai. Só se aprende a ser presidente sendo presidente. E, pois, só se aprende a ser ex-presidente sendo ex-presidente.
Uma das críticas que ele faz a FHC é qual? O seu antecessor não deveria falar de política. É o que fará Lula quando deixar o poder? Claro que não. Porque o próprio Lula dirá que ele não tinha ainda tal experiência. Quando ela vier, ele dirá: “Mudei de idéia. Sou uma metamorfose ambulante”. Isso é coisa de embusteiro político e intelectual, de gente sem princípio. Os anões e os mascates devem se encantar com esse tipo de pragmatismo.
Esse comportamento lhe cai muito bem, adapta-se perfeitamente a seu caráter? Sem dúvida. Mas não duvidem. É uma das formas da esquerda, daquela mais inteligente, menos brucutu e, por isso mesmo, mais perigosa. É a face macunaímica do partido enquanto “imperativo categórico”, como queria Gramsci: toda a realidade só existe na medida em que é ou não é útil ao Moderno Príncipe. Antes, a CPMF não interessava. Agora interessa.