Lula, o torneiro-mecânico
O melhor da conversa de Lula com os jornalistas ficou para o fim, quando estava posando para as fotografias. Parece que alguém lhe perguntou se era de esquerda, e ele respondeu: “Quando me perguntam, digo que sou torneiro-mecânico”. E depois afirmou que é católico na religião e corintiano no futebol. Estava tentando ser engraçado. Ai, […]
RESPOSTA ANTIGA – Lula é um antigo depredador da teoria. Os que estão com ele e se dizem de esquerda são picaretas até como esquerdistas. Sem que esta observação implique qualquer endosso ao esquerdismo, é claro que existem os crentes autênticos, os que se acham adeptos de algumas causas por motivos que consideram bons. Podem estar equivocados, mas têm respeito por si mesmos e já abandonaram o lulismo.
Os mais jovens ou os de memória curta talvez não se lembrem. Mas Lula já deu essa mesmíssima resposta em 1982. Indagado num debate da TV Bandeirantes pelo pedetista Roger Ferreira (já morto) sobre sua ideologia — “comunista, socialista, trabalhista?” —, o então candidato ao governo de São Paulo mandou bala: “Sou torneiro-mecânico”. Os petistas foram ao delírio na platéia; aplaudiram entusiasticamente.
Era o primeiro passo de uma impostura que faria história, como estamos vendo. Lula certamente serve à forma que tomou a luta de certas esquerdas no mundo contemporâneo. Mas é claro que não é um esquerdista autêntico. Não quer dizer que seria melhor se o fosse, entendam bem. Mas é preciso caracterizá-lo adequadamente. No que respeita à ideologia, é um oportunista como nunca houve no país. No que diz respeito, vá lá, à economia política, conhecem a minha tese sobre ele: é um burguês do capital alheio. Integra a nova classe social oriunda do sindicalismo que tomou conta do Estado, especialmente das estatais e fundos de pensão, onde realmente está o dinheiro. No que respeita à democracia, aí, sim, toma emprestado à esquerda o arcabouço autoritário, que sonha em ultrapassar os limites institucionais do “estado burguês”.
Esquerdista mesmo? Não, é claro. Por mais que o esquerdismo responda por boa parte do que se produziu de delinqüente em matéria de política, democracia e governança, ser um esquerdista supõe um certo ascetismo, uma certa renúncia à vida folgazã, uma dedicação um tanto monástica, em tudo avessas à indisciplina intelectual do Babalorixá.