Lula, o terceiro mandato, superego e simancol
“Só Deus sabe”. É Lula, na Turquia, respondendo à indagação se concorrerá a um terceiro mandato em 2014. Já chegou a jurar de pés juntos que jamais o faria porque, sabem, ele não gosta dessa história de ex-presidente ficar dando pitaco na política. Ai, que preguiça! Então ele já conta com a possibilidade de concorrer, […]
“Só Deus sabe”. É Lula, na Turquia, respondendo à indagação se concorrerá a um terceiro mandato em 2014. Já chegou a jurar de pés juntos que jamais o faria porque, sabem, ele não gosta dessa história de ex-presidente ficar dando pitaco na política. Ai, que preguiça! Então ele já conta com a possibilidade de concorrer, mas guardará quatro anos de obsequioso silêncio, não é mesmo? Na semana passada, este senhor já estava imaginando um PAC para o período 2011-2014. O de 2006-2010 mal conseguiu sair do papel.
Vale, a propósito, uma correção. Lula ainda não tem a certeza se quer ou não concorrer a um novo mandato em 2010 mesmo. Os jornalistas que o acompanham estão sendo imprecisos ao dizer que ele tem negado essa possibilidade. Não! Ele tem dito que a Constituição não permite um terceiro mandato consecutivo, o que corresponde a dizer que, se permitir, “só Deus sabe”…
A verdade é que, mais uma vez, a “Operação Terceiro Mandato” não está sendo lá tão bem-sucedida quanto alguns feiticeiros imaginavam. Eles pretendiam que, lançada a possibilidade no mercado, houvesse um entusiasmado movimento das lideranças políticas, dando início, então, ao “queremismo”, que logo se estenderia às “massas”. Mas ninguém se animou muito.
Lula tem chamado seus auxiliares diretos para ouvi-los a respeito. Os que o desaconselham a tentar a aventura são tratados com certa hostilidade. Quando menos, ele quer ouvir que seria a melhor coisa que poderia acontecer ao Brasil — a essa altura, suponho, ele acha mesmo que pode ser um evento de dimensões planetárias.
Lula já contou algumas vezes que teve uma relação difícil com o pai, que, parece, não era lá muito dedicado. Lembro-me, acho que já citei aqui, do Sartre em As Palavras, a sua autobiografia precoce. Segundo ele, o fato de não ter conhecido o pai fez com que não tivesse superego. Freud, aquele, dividiu o aparelho psíquico em três partes. Numa versão simples, mas correta, o superego é o conjunto de valores morais e éticos que vamos aprendendo em sociedade, que vão nos dando limites. A família, o pai em especial (ou quem o substitua), exerce papel importante nessa conformação. Vá lá: é o chamado “Simancol”, entendem? Lula não tem superego, não tem simancol. Pode tudo.
Fosse hoje uma criança, seria daqueles pequenos monstrinhos sem limites, que fazem tudo o que têm vontade, sem ninguém que lhes possa pôr um freio. E tanto pior se um bando de tias embevecidas aplaude: “Olhem, que bonitinho!”