Lula não vai ao velório de Plínio de Arruda Sampaio: quando a grosseria se encontra com a mesquinhez
Eu não concordava com praticamente nada do que pensava e dizia Plínio de Arruda Sampaio, que morreu nesta terça de câncer, aos 83 anos, e foi sepultado nesta quarta. Há coisa de uns três ou quatro anos, tivemos um debate bastante azedo na Faculdade de Direito da USP. Ele não teve receio nenhum de dizer […]
 
                Eu não concordava com praticamente nada do que pensava e dizia Plínio de Arruda Sampaio, que morreu nesta terça de câncer, aos 83 anos, e foi sepultado nesta quarta. Há coisa de uns três ou quatro anos, tivemos um debate bastante azedo na Faculdade de Direito da USP. Ele não teve receio nenhum de dizer o que pensava sobre as minhas opiniões e as minhas escolhas políticas, e eu idem. Alguns tentaram colar em mim a pecha de agressivo porque eu não teria respeitado a sua idade — coisa de que ele, obviamente, não reclamou porque, também para bater, ele não pensava no assunto. Há pouco mais de um ano, ainda nos encontramos num bate-papo promovido pela revista “Imprensa”, aí numa conversa cordialíssima. Era um homem inteligente e educado no trato pessoal, que fez uma trajetória curiosa: o tempo o foi conduzindo cada vez mais para a esquerda. Como tinha formação intelectual bastante sólida, às vezes eu chegava a desconfiar de sua adesão a certas ideias. Eu julgava impossível que ele não soubesse que algumas contrariavam a aritmética. Era, no entanto, um militante político em sentido, vá lá, clássico (ou ortodoxo): mais valia a coerência política do que a aritmética.
Não é verdade que sempre tenha sido um homem de esquerda, como li em muitos lugares. Era, como ele próprio chegou a admitir mais de uma vez, o que se chamava um “conservador”, do Partido Democrata Cristão. Foi secretário de Carvalho Pinto. Nesse grupamento, aí, sim, alinhava-se com algumas teses da ala progressista da Igreja Católica. E foi caminhando para a esquerda, fundou o PT e dele se desligou para criar o PSOL. Tinha um pensamento até certo ponto curioso: digamos que fosse marxista nos meios, mas não na teoria. E se acrescente — no Brasil, nunca é demais — que jamais pesou qualquer sombra de dúvida sobre a sua honradez pessoal.
Muito bem! Políticos das mais diversas correntes compareceram a seu velório: muitos deles ligados à esquerda e ao PT; outros, a partidos aos quais Plínio se opunha, como é o caso dos tucanos Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e de José Serra, ex-governador e ex-prefeito, com quem Plínio chegou a dividir uma casa nos EUA, no tempo de exílio.
Pois é… Plínio foi um fiel militante petista — nunca submisso, isso é verdade — desde a criação do partido até a sua decisão de romper com a legenda para se filiar ao PSOL. Por mais que eu discordasse também da crítica que ele fazia ao PT — onde ele via os problemas, eu enxergava algumas poucas virtudes —, sua crítica sempre foi de natureza política. Jamais enveredou para o terreno do ataque pessoal. Lula, não obstante, pouco importa o pretexto, não compareceu a seu velório.
Foi uma decisão mesquinha. Gostemos ou não disto — eu, deixo claro, não gosto —, Lula é uma das lideranças mais importantes do país e é certamente uma das referências da militância alinhada com a esquerda — ainda que seu esquerdismo tenha um viés muito particular (Plínio também diria isso por motivos distintos dos meus). Não tem jeito, não! O Babalorixá de Banânia não perdoa ninguém que desafie a sua liderança, não importa se dentro ou fora do arco de forças da esquerda.
A decisão de não comparecer ao velório remete a uma deformação moral de que já tratei aqui muitas vezes: Lula é capaz de se oferecer para lavar a biografia do pior sacripanta se este lhe cair aos pés e jurar fidelidade. E não hesita um minuto para enlamear a reputação de uma pessoa digna se esta resistir a seus encantos.
Não comparecer ao velório de Plínio é de uma grosseria política e de uma mesquinhez inaceitáveis.
 
	 
                
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