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Reinaldo Azevedo

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LULA, JUDAS E A REVOLUÇÃO TEOLÓGICA

Como vocês viram, o presidente Lula concedeu uma entrevista à Folha. Lula já fala muito no dia-a-dia, né? Suas entrevistas acabam sendo meio chatinhas porque ele, sem bola na rede, é mais interessante e revelador. Com assistência, ele é menos interessante. No bate-papo publicado, o presidente apenas responde a uma espécie de “dizem por aí…”. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h35 - Publicado em 22 out 2009, 16h54

Como vocês viram, o presidente Lula concedeu uma entrevista à Folha. Lula já fala muito no dia-a-dia, né? Suas entrevistas acabam sendo meio chatinhas porque ele, sem bola na rede, é mais interessante e revelador. Com assistência, ele é menos interessante. No bate-papo publicado, o presidente apenas responde a uma espécie de “dizem por aí…”. E, claro, o que “dizem por aí”, não sendo um elogio, está errado. Comento um trecho realmente encantador, que rendeu a manchete da Folha. Leiam:

FOLHA – Ciro disse que o sr. e FHC foram tolerantes com o patrimonialismo para fazer aliança no Congresso. Ou seja, aceitaram a prática de usar bens públicos como privados.
LULA –
Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão.

Antes que fale da resposta, comento um pouco a pergunta, que também é um achado deontológico. Em primeiro lugar, a pergunta é terceirizada, e a tolerância com o patrimonialismo não é necessariamente um dado da realidade, mas algo que alguém disse, uma avaliação externa. Em segundo lugar, como se nota, FHC (segundo Ciro…) incorria no mesmo pecado. Ai, ai… Lula não pode viver sem FHC. Nem certo jornalismo,

Agora Lula. Uma boa pergunta que poderia se seguir à resposta é onde fica a tese da tal “vontade política”, brandida pelo PT durante mais de 20 anos. Os outros governos não faziam isso ou aquilo porque lhes faltaria “vontade política”. A questão é importante porque deu origem à Teoria Geral da Bravata, formulada por Lula: referindo-se ao próprio passado, afirmou que, quando se está na oposição, faz-se muita bravata. Ou por outra: o papel da oposição é mesmo sabotar o governo de turno, prática que, felizmente, não foi adotada por aqueles que se opõem a seu governo. Quanto a Judas…

Não se deve exigir de Lula conhecimento histórico — ou, se quiserem, teológico. Aliás, de Lula, não se deve exigir conhecimento nenhum porque isso é coisa de gente reacionária. De Lula, como diria Marilena Chaui, a gente só espera iluminações, rasgos de imaginação e originalidade que esclarecem o que antes era tão obscuro. É o caso de Judas. A sua leitura da realidade política é um pequeno passo para explicar a lambança no Brasil. Mas é um salto gigantesco para a  teologia.

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Na prefiguração, Lula se coloca, evidentemente, do lado do bem: é o Cristo, o ungido, o filho de Deus. Judas seria o outro lado, o horror — no caso da pergunta, representa o “patrimonialismo”, os vícios. Lula não quer ser crucificado, é claro, então ele defende o “acordo com Judas” como uma imposição do realismo político. É a primeira vez que ele se compara a Cristo? Não é, não. Leiam um pequeno post deste blog do dia 24 de setembro de 2006!!! Volto depois.

A ceia macabra de Lula
domingo, 24 de setembro de 2006 | 16:08

Só pode ser coisa do demo!!! Em comício em Sorocaba, em que disse que vai vencer a eleição no primeiro turno, Lula voltou a se comparar a Jesus Cristo. Em Goiânia, ele já havia dito que seu sangue e suas células estavam no povo; hoje, lembrou que, “numa mesa de 12, um traiu Jesus Cristo” ao se referir aos petistas que se meteram com o dossiê fajuto. Huuummm, deixe-me ver, entre mensalão e dossiegate, já “traíram” Lula 1) José Dirceu, 2) José Genoino, 3) Silvio Pereira, 4) Delúbio Soares, 5) Antonio Palocci; 6) Luiz Gushiken, 7) Aloizio Mercadante; 8 ) Freud Godoy; 9) Jorge Lorenzetti; 10) Osvaldo Bargas; 11) Expedito Veloso, 12) Ricardo Berzoniev. Não, não é possível. Na Santa Ceia, numa mesa de 13, pusilânime era um só – e, ainda assim, vá lá, cumpria um roteiro que já estava na mente divinal. À sua moda, era inocente… Mesmo assim, ele se enforcou. Na ceia de Lula, 12 seriam Judas para um só Cristo? A verdade é que o Apedeuta Herege é um dos 13 de uma mesa macabra – ou, no caso da denúncia do procurador, o 41º elemento. “Se alguém pensa que vai ganhar a eleição com esse comportamento [de denúncias], pode tirar o cavalinho da chuva porque o povo brasileiro é mais esperto do que eles imaginam”, afirmou o Apedeuta Impostor. E pensar que foram eles, os petistas, que se mobilizaram para comprar um dossiê contra os adversários!!! Essa raça tem de ser banida da política.

Voltei
Como se nota, “Judas” é uma imagem em trânsito na mente de Lula. Já serviu para identificar supostos “traidores” que estariam em seu próprio partido — a  associação de idéias de 2006, não fosse toda aquela gente da sua cozinha, é até mais adequada do que essa de agora, não?

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Convenham: Fernando Collor não fica bem no papel de traidor. Renan Calheiros também não. José Sarney, então, nem se diga. Jáder não é exatamente alguém que mudou de lado. Cada uma dessas pessoas está a fazer o que sempre fez. Lula é que surgiu na política com o propósito declarado de combatê-los e é, hoje, a melhor esperança que  eles têm de continuar no poder — e o instrumento da hora é Dilma Rousseff.

Havendo um Judas na história, convenham, nenhuma dessas figuras merece o papel. Nenhuma delas traiu o que pensava ou as alianças que havia feito por causa de 30 (só 30? Nem pensar!!!) moedas.

A revolução teológica a que me referi é precisamente esta: a ter alguma validade a prefiguração lulista, Cristo continua a ser crucificado, sim, mas Judas, em vez de se enforcar, chega ao poder e inaugura uma nova ética: a da traição em nome do bem comum. Não é a religião do Cordeiro de Deus, mas a do bezerro de ouro. E Jáder, Sarney, Renan e Collor são seus apóstolos.

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