LULA COMPARA SERRA E AÉCIO A CRAQUES DO FUTEBOL. E REITERA A SUA ESTRATÉGIA PARA EMPLACAR O ZAGUEIRÃO PERNA-DE-PAU
Todo mundo já comparou, eu também, Lula a Chance Gardner, personagem do filme Muito Além do Jardim, dirigido por Hal Ashby. Parte da comparação é procedente, parte não. Quem já conhece o filme vá direito para o que se segue ao intertítulo. Quem não conhece ou não se lembra direito vá para o próximo parágrafo. […]
Todo mundo já comparou, eu também, Lula a Chance Gardner, personagem do filme Muito Além do Jardim, dirigido por Hal Ashby. Parte da comparação é procedente, parte não. Quem já conhece o filme vá direito para o que se segue ao intertítulo. Quem não conhece ou não se lembra direito vá para o próximo parágrafo.
Lula pensa o mundo a partir do futebol. Suas metáforas vêm sempre do campo e passam como sabedoria para aquele bando de puxa-sacos que o cercam. A exemplo de Chance, de filme Muito Além do Jardim (inspirado no romance O Vidiota, de Jerzy Kosinski), Lula vê qualquer coisa pelo ângulo da sua especialidade.
Chance (Peter Sellers) é jardineiro e passa seus dias entre as plantas e a televisão. É analfabeto. Aprendeu o pouco que sabe de ouvido. Um dia seu patrão morre, e ele é posto na rua. É atropelado por Benjamin Rand (Melvyn Douglas), um ricaço. Quando volta a si e perguntam o seu nome, responde “Chance, o jardineiro”. Confundem o “gardener” com “Gardner” — havia um tal Chance Gardner, homem muito sábio, chegado a tiradas filosóficas. E ele é, então, levado a conhecer o círculo de amigos de Rand — incluindo a mulher do empresário, Eve (Shirley MacLaine), que se apaixona pelo suposto Chance Gardner sem saber que se trata de “Chance, gardener”.
Chance encanta os poderosos. Chega a conhecer o presidente dos EUA. É cotado para sucedê-lo porque, dizem, é preciso alguém com o seu “perfil”, acima das divergências, na política americana. E qual é o seu segredo? Falar de plantas o tempo todo. Se alguém lhe pergunta como enfrentar o perigo soviético, ele manda ver (estou dando exemplos apenas possíveis; meu livro está aqui em algum lugar…): “Num jardim, as ervas daninhas têm de ser contidas antes que tomem conta de todo o canteiro”. E os presentes se espantam: “Ohhh, isso quer dizer que…” E como fazer para enfrentar aqueles que são hostis ao próprio país? “Devemos cultivar plantas de diferentes espécies porque, num jardim, a graça está na variedade”. E os ouvintes: “Ah, entendi…” E Chance vira uma referência naquele círculo de amigos. Ele percebe que dar aquelas respostas faz sucesso. Até a hora em que dá tudo errado.
O intertítulo – Volto a Lula
Lula não é idiota como Chance, “the gardener”. É capaz, por exemplo, de entender o jogo complexo da política. Mas, com efeito, o que ele faz é seduzir a audiência reduzindo tudo a uma mera disputa de futebol: da ditadura iraniana ao confronto eleitoral de 2010, tudo se explica pelo futebol. Tem sempre soluções fáceis e erradas para problemas difíceis.
Nesta segunda, já mirando o governador José Serra (PSDB), considerou que pode não ser uma boa para o PSDB Aécio Neves ser vice do pré-candidato tucano. Vejam que maravilha: Lula Player está preocupado com o futuro dos tucanos e se atreve a dar conselhos: “Não sei. Eu acho que num time de futebol… não sei se dois coutinhos, se dois tostões, se dois dirceus lopes dariam certo no mesmo time. Não sei. Às vezes, é preciso fazer uma composição diferenciada para poder dar certo, então… mas aí o PSDB que decide.“
Entendi. Que a torcida fique sabendo: para Lula, Serra e Aécio são dois craques de primeiro time. Não sei se perceberam a notável ausência de Pelé na metáfora. Bem, Pelé, como vocês sabem, só existe um: o próprio Lula.
Chance, o “gardener”, não o “Gardner”, acabou sendo descoberto porque sua mesmice o traiu. Quando viram que suas metáforas eram insuficientes para explicar a realidade, ninguém mais deu bola pra ele. Acho que Lula, de certo modo, entrega ao menos a natureza do jogo: ele reconhece, como se nota, que os coutinhos, dirceus lopes e tostões estão do lado de lá. E ele escalou um zagueirão perna-de-pau. Confia que o “Pelé”, ele próprio, fará a diferença. Vamos ver. Indagado por jornalistas, negando-se a falar sobre disputa eleitoral, Serra afirmou que é, sim, possível fazer um time com vários craques. Afinal, dizer o quê?
Lula disse ainda não saber se a decisão de Aécio é definitiva e que vai telefonar para o governador de Minas. Anunciou também que estará com Serra na quarta. Segundo ele, para o PT, nada muda, pouco importa quem seja o candidato porque “nós queremos é uma campanha polarizada com dados comparativos dos dois governos”. Em suma, Lula Coach quer ganhar o jogo que já foi jogado porque não tem um Coutinho, um Diceu Lopes, um Tostão…