Luiz Dulci sempre foi uma espécie de “intelectual” do regime. É aquele que consegue pensar com alguma sutileza e um dos poucos da cúpula que não seriam fulminados por um livro, assim como a kryptonita acaba com o Super-Homem. Numa entrevista em que pode deitar e rolar, tudo fica bom. Ele está na
Folha desta segunda. O título da entrevista parece apelar a um tom crítico: “Governo trocou emenda e cargo por apoio, diz Dulci”. É mesmo? Bem, assim é nas democracias do mundo inteiro. O pecado do PT não está aí. A propósito, quem levanta a bola para ser cortada é a própria
Folha quando pergunta: “
O governo Lula, tal como o governo FHC, defendeu a reforma política, mas acabou adotando a negociação no Congresso com base na distribuição de cargos e liberação de emendas do Orçamento?” Pronto. Neste exato ponto, aquilo que, no título, parecia assumir um viés crítico vira a água benta da absolviçãoo. O jornal também acha, a exemplo de Dulci, que é tudo culpa de FHC. Está decretado o empate. Mas o pior está por vir: se o PT, coitadinho, foi obrigado a fazer aquelas coisas horríveis por causa “do sistema”, então, o que fazer? Ora, uma mudança geral. Dulci, do núcleo do governo mais corrupto da história do Brasil, ensina: “
Eu pessoalmente não acredito que haja solução paliativa, tópica, precisa ser de uma reforma política global, que instaure no Brasil um novo modelo político. Todos os governos da redemocratização tiveram muitas dificuldades de assegurar a necessária governabilidade política.” Ao longo da entrevista, disse que Lula adotou uma política monetária realmente parecida com a de FHC, mas não a fiscal, diz ele. A de FHC teria sido “neoliberal”, a de Lula, não. Lula foi fiscalmente mais duro do que o antecessor. Dulci não explica, e não lhe foi perguntado, como é que o outro podia, então, ser um neoliberal se era mais frouxo em questão fiscal do que o petista. Aí Dulci fala da expansão do crédito como exemplo de “política desenvolvimentista”, mas também não se quis saber quanto do irregular crescimento brasileiro se deve ao mercado interno. Eles estão de volta. Mais um pouco, ainda darão lição de Educação Moral e Cívica. E os alunos estão longe de inquirir os mestres com a dureza de uma classe intelectualmente aplicada.
A entrevista está aqui. Leia se quiser