LOVE, OS FUZIS E A FALA ESTÚPIDA DE UM ADVOGADO
Ainda mais lamentáveis do que as declarações do jogador Vagner Love, flagrado num convescote com traficantes armados de fuzis na favela da Rocinha, foram as de Michel Asseff Filho, advogado do Flamengo. Para ele, haver armamento pesado no morro é um problema da polícia, e Love é livre para freqüentar a favela. Claro que é. […]
Ainda mais lamentáveis do que as declarações do jogador Vagner Love, flagrado num convescote com traficantes armados de fuzis na favela da Rocinha, foram as de Michel Asseff Filho, advogado do Flamengo. Para ele, haver armamento pesado no morro é um problema da polícia, e Love é livre para freqüentar a favela.
Claro que é. Ir à favela, especialmente se for para ajudar a população que lá vive — Love diz que financia projetos sociais por lá; gostaria de saber quais —, está longe de ser um problema. Ao contrário: seria uma ação realmente meritória.
Mas desfilar em companhia de bandidos — na verdade, protegido por eles —, doutor Michel, é, sim, um problema do jogador e, lamento dizer-lhe, do Flamengo. O atual artilheiro do time mais popular do Brasil carrega a força da representação e do exemplo. É um dos milhões de meninos pobres do Brasil que conseguiu vencer pelo talento, livrando-se, justamente, às imposições do tráfico.
Vínculo com a “comunidade” é uma coisa; convivência com a bandidagem é outra bem diferente. E esses termos são empregados, muitas vezes, como sinônimos. Quando Love, do Flamengo (sim, senhor!), desfila ao lado de traficantes armados, o que devem pensar o menino e o jovem da Rocinha? Que aqueles são mundos que podem conviver harmonicamente. E sabemos que isso é mentira.
É verdade, doutor! A segurança pública é mesmo um problema do governo do Estado, da polícia. Mas isso não exime os cidadãos de responsabilidades ou de imperativos éticos. Cada indivíduo tem de responder por suas escolhas. Lembram-se da revolta que o filme Tropa de Elite provocou num pedaço da outra elite, a do asfalto, fumadora e cheiradora? Capitão Nascimento dava uns tabefes nuns viciados mauriçolas e lhes indagava quem eram os culpados pela morte de alguns traficantes — os presuntos estavam ali do lado. Um dos rapazes responde: “A polícia”. Novo tabefe. Resposta errada. Nova pergunta. E ele mesmo responde: “Você é o culpado” — o consumidor de droga. Nem era propriamente a moral do filme, mas do policial. Ocorre que ele caiu no gosto popular. E então começou a gritaria: “Filme fascista!!!”
“Fascismo”, por aqui, é lembrar que quem consome droga alimenta o tráfico e o crime! Que absurdo, não? O cara quer fumar e cheirar, mas acha que a segurança pública é problema da polícia. Love diz que não fuma nem cheira. Mas prestigia a bandidagem. E o advogado do Flamengo emenda: a polícia que se vire.
E se Love começasse a aparecer ao lado de gente com livro na mão, ainda que ele não goste muito da coisa? Estou partindo do princípio de que ele também não aprecia fuzis. Quanto a seu “trabalho social”, digamos que seja verdade. As vidas que ele salva, o tráfico elimina. E com sobras. Uma sobra que se mede em cadáveres, senhor Vagner Love. Uma sobra que se mede em famílias destruídas, senhor Asseff.
E isso não é só um problema da polícia.