LEMBRAM-SE DA TAL TRIBO ISOLADA? ERA MENTIRA!
Lembram-se da descoberta daquele tribo isolada? Tio Rei publicou o post que segue em azul no dia 30 de maio. O título: “Para mim, é bem mais fácil acreditar em Deus do que em índios isolados. Ou ‘O neo-indianismo brasileiro’”. Peço que vocês releiam se me fazem o favor. Volto depois:*Como vocês sabem, Tio Rei […]
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Como vocês sabem, Tio Rei é um reacionário, um direitista, uma pessoa realmente horrível, que não quer pesquisas com células-tronco embrionárias porque, é óbvio, defende que a Igreja mande no estado, não é? Mais do que isso: quer que as pessoas com doenças genéticas continuem doentes. Em suma: uma pessoa desprezível mesmo. O Tio não pára por aí. TIO REI ACREDITA EM DEUS, MAS NÃO ACREDITA EM ÍNDIOS ISOLADOS. Não em 2008.
Tio Rei achou lindas as fotos dos índios isolados e se fez uma primeira pergunta: um fato com essa relevância não seria matéria de divulgação da Funai em entrevista coletiva, com o levantamento fundamentado de hipóteses antropológicas aos menos? Quer dizer que a Funai descobre um povo primitivo e “vaza” fotos para um portal da Internet? Huuummm�� Mas elas já estão nos sites e portais do mundo inteiro.
O Tio, em seu ceticismo deísta, mesmo sendo um indiodescendente, tem algumas dúvidas, que passa a dividir com vocês.
1 – Se eu fosse escrever um roteiro de filme B sobre o choque de civilização entre uma tribo isolada e o “pássaro de ferro”, imaginaria o quê? Ora, o que está nas fotos: índios majestosos erguendo seu arco e flecha contra o perigo que desaba da morada de Tupã (Tupã mora nas alturas? Não sei. Preciso me informar…);
2 – Na realidade dos fatos, acredito que índios isolados, se “ameaçados” pelo pássaro de metal, corram pra dentro do mato, borrando-se todos, com a virilidade recolhida no prepúcio por causa do medinho, hehe…
3 – O Acre é o segundo estado mais desmatado da Amazônia. Só perde para Rondônia. Podem olhar os mapas do Inpe. E justamente ali há índios isolados?
4- Achei as fotos, como direi, “super National Geografic”, vindas a público no momento em que se discutem os chamados “direitos dos índios” e em que se questiona se a política indigenista brasileira, que é segregacionista, está mesmo correta. Quer dizer que esses índios nunca tiveram contato com branco — nem mesmo contato com quem já conhece os caras-pálidas? Desculpem-me acreditar em Deus, mas não em índios isolados;
5 – Gostei também do perfilamento dos silvícolas para a batalha. Parece-me que os machos estão com o corpo pintado de vermelho, e as fêmeas, de preto (ou algo meio azulado). Na composição das fotografias, há de tudo (elenco características de ambas):
A – arco e flecha contra o pássaro de ferro, em pose majestosa;
B – senso de coreografia (dois repetem gestos idênticos para dar a flechada);
C – adereços idênticos na perna e na cintura;
D – índia correndo com filhote no colo;
E – índio com duas lanças na mão, uma das imagens-clichê dos silvícolas.
Estou sugerindo que as fotos sejam fraudulentas? Não necessariamente. Estou estranhando é o conjunto da obra: da divulgação “informal” feita pela Funai a estes índios, cenográficos demais para o meu gosto.
E, é óbvio, torço para que seja tudo de verdade mesmo, né? Afinal, sou um indiodescendente, e essa “descoberta” tem tudo a ver com o clima que quero criar no país para que venhamos a ter direitos sobre a terra de nossos antepassados, quando Deus era Tupã, e a lua, Jacy.
Sei não… Acho que defender reserva indígena com base no vitimismo dos índios está meio fora de moda. É o caso daquela turma de Raposa Serra do Sol. Como ser vítima com 35 mil cabeças de gado? Talvez o melhor negócio seja defender reservas para os novos “filhos do vento”, para os majestoso filhos da mata. É o neo-indianismo brasileiro. Lembram-se deste trecho?
“Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóboda das árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade.
Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caia-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava como reflexos dourados, os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte, a pupila negra, móbil cintilante, a boca forte, mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto um pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas plumas matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham roçar com as pontas negras o pescoço flexível.
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida”.
Voltei
Como vivo dizendo aqui, a principal fonte de um jornalista é a lógica. Sempre que ela é contrariada, e jabuti aparece em árvore, mesmo que alguém assevere que aquilo é normal, que acontece sempre, convém não acreditar. Pois bem, clique aqui e leia uma reportagem do The Guardian. Se você tiver um apreço mínimo pela verdade, vai concluir: aquela descoberta, como a lógica me dizia no texto acima, foi uma fraude. Agora confessa.
Leia a reportagem e fique sabendo que:
– a existência daquela tribo é conhecida desde 1910;
– a fotografia, longe de ter sido casual, foi uma missão; a função do “empreendimento” era provar a existência de tribos isoladas numa área considerada ameaçada.
A pessoa por trás da foto é José Carlos Meirelles, homem da Funai que responde pelos tais “índios isolados”. Ele contou, imaginem só, à TV al-Jazeera como os índios foram encontrados e fotografados — uma operação meticulosa, que contou com a ajuda de equipamentos eletrônicos de rastreamento. A reportagem também informa que as fotos foram feitas pela Survival International, aquela ONG inglesa de que falei aqui há alguns dias.
É a mesma ONG que filmou aquele conflito na Raposa Serra do Sol entre os índios que invadiram uma fazenda e os seguranças da área. Em seu site, ela noticiou que se tratou da invasão de uma aldeia por “pistoleiros de aluguel”. O que, obviamente, também é mentira .