Lamento! Obama avilta a ONU bem mais do que Bush
O fato de os esquerdopatas brasileiros terem se agarrado a tudo quanto é ditador no mundo e exercido, nos oito anos de governo Lula, um antiamericanismo rombudo está contribuindo para distorcer a percepção de muita gente, impondo supostos alinhamentos automáticos. Há leitores estranhando as críticas que tenho feito às impotências ocidentais no caso da Líbia. […]
O fato de os esquerdopatas brasileiros terem se agarrado a tudo quanto é ditador no mundo e exercido, nos oito anos de governo Lula, um antiamericanismo rombudo está contribuindo para distorcer a percepção de muita gente, impondo supostos alinhamentos automáticos. Há leitores estranhando as críticas que tenho feito às impotências ocidentais no caso da Líbia. Entendo o estranhamento, embora não haja motivo. Vamos pensar.
É mentira, por exemplo, que George W. Bush tenha invadido o Iraque ao arrepio do Conselho de Segurança da ONU. Não houve autorização, mas também não houve veto. A exemplo de Obama, agora, na Líbia, ele não estava sozinho, certo? A exemplo de Obama, agora, houve vozes críticas à ação — a dos franceses, por exemplo, que se mostram os mais beligerantes contra Kadafi. Nicolas Sarkozy está obcecado pela idéia de apagar as pistas de sua proximidade com o dinheiro líbio…
De todo modo, constate-se: a ONU não se comprometeu com a ação do Iraque, vista como expressão máxima do “detestável unilateralismo de Bush, que se arvorava em polícia do mundo, achando que poderia sair por aí depondo e entronizando governos à vontade, decidindo quem pode e quem não pode governar, que forças são ou não legítimas…” Bem, vocês conhecem essa crítica.
Digamos que ela seja verdadeira, exata, reconheçamos ao detestável Bush ao menos uma virtude: não deu um truque nas Nações Unidas; não conspurcou o Conselho de Segurança. Transformou-se no satã de plantão sem arrastar consigo a instituição. E Obama?
Pela primeira vez na sua história, a ONU votou uma resolução que permite às potências ocidentais dar suporte a um grupo armado contra outro grupo armado. Não se está falando de uma força de paz que chega para tentar impedir o confronto, quando governo já não há. Nada disso! Sob o pretexto da proteção aos civis e da imposição de uma zona de exclusão aérea, bombardeia-se o país; sob o pretexto da proteção aos civis, adere-se abertamente a um dos lados do conflito sustentando, como fez o conselheiro Thomas Donilon (post acima): “Os rebeldes são civis”. Ainda que não sejam.
Bush invadiu o Iraque sem uma resolução; Obama se aproveita da resolução para fazer o que bem entende. Bush invadiu o Iraque porque havia decidido que Saddam não podia mais ficar no governo; Obama invadiu a Líbia — por ar e mar — porque decidiu que Kadafi não pode mais ficar no poder. Bush queria proteger a humanidade das armas de destruição em massa — o conselho não aceitou o argumento, e ele foi adiante. Obama quer proteger os civis, o conselho aceitou o argumento, e ele mandou bombardear o país. O conselho saiu preservado do erro — ou da má fé (cada um avalie como quiser) — de Bush; Obama tornou o conselho cúmplice de seus “motivos”. Reitero: que Kadafi se dane, mas que as coisas sejam chamadas pelo nome: “Estamos agindo para derrubar Kadafi!” E que isso tivesse sido submetido à votação do Conselho de Segurança. Da forma como as coisas estão, EUA, Inglaterra e França usam a ONU como mero pretexto. E eu, definitivamente, não creio que isso contribua para uma “ordem inernacional” saudável!
PS: Ah, sim: todos os esquerdosos que babavam e babam ainda quando falam de Bush apóiam incondicionalmente a ação contra Kadafi. Talvez nem achassem Saddam um cara mais bacana do que Kadafi; é que um caça despejando bombas sob as ordens de Bush são a barbárie; sob as ordens de Obama, um verdadeiro poema de amor à humanidade!
Bando de vigaristas!