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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Lá vamos nós: Bolsonaro, Dilma, os gays e a ofensa que não houve

Ai, ai… Vamos lá comprar mais umas briguinhas e excitar a fúria de outros algozes. Fazer o quê? Tenho a certeza de que, se escrevesse sobre decoração de interiores, não seria no estilo “revista de bordo”, né?, feita para a gente esquecer que aquela estrovenga é mais pesada do que o ar… Comecemos pela ressalva. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h03 - Publicado em 28 nov 2011, 06h51

Ai, ai… Vamos lá comprar mais umas briguinhas e excitar a fúria de outros algozes. Fazer o quê? Tenho a certeza de que, se escrevesse sobre decoração de interiores, não seria no estilo “revista de bordo”, né?, feita para a gente esquecer que aquela estrovenga é mais pesada do que o ar…

Comecemos pela ressalva. Não, eu não sou fã do estilo do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Alguns de seus admiradores já me esculhambaram algumas vezes por isso. A propósito: devem admirá-lo profundamente alguns de seus detratores. É impressionante como dão visibilidade a aspectos de sua retórica que, ainda que não me agradem, crimes não são. Ao fazerem sempre escarcéu quando ele diz isso ou aquilo, dão visibilidade a seu discurso e, desconfio, concorrem para ampliar seu eleitorado. É o que se chama de “combate contraproducente” — vale dizer: provoca efeitos contrários ao desejado.

Bolsonaro pode ter todos os defeitos do mundo, mas tem um mérito: deve-se a ele o veto da presidente Dilma Rousseff ao material didático que o MEC deste incrível Fernando Haddad havia preparado para tratar da chamada questão homoafetiva. Entre outras pérolas, afirmava-se que o adolescente bissexual tem 50% mais chances de ter com quem sair no fim de semana… Não fosse a estupidez em si, há o erro de matemática: a elevação nesse “mercado de carne pedagógico-afetivo” seria de 100%. Essa era, vamos dizer assim, a abordagem decorosa. Havia também as indecorosas. Foi o deputado quem deu visibilidade ao que chamou de “kit gay” — de fato, uma coleção de absurdos.

Leiam agora o que informou a Agência Estado na quinta:
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) criou nova polêmica na Câmara dos Deputados hoje ao questionar a sexualidade da presidente Dilma Rousseff em discurso no plenário. O parlamentar destacou que, em audiência na Câmara ontem, representantes do Ministério da Educação teriam discutido a inclusão do combate à homofobia nos currículos escolares. Bolsonaro lembrou que a presidente Dilma tinha ordenado a não distribuição nas escolas de material relativo ao combate à homofobia, chamado de kit gay pelo deputado do PP e outros parlamentares evangélicos.
“O kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assume. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas de 1º grau”, afirmou Bolsonaro. O pronunciamento de Bolsonaro foi retirado das notas taquigráficas pelo deputado Domingos Dutra (PT-MA), que ocupava a presidência da sessão, a pedido do deputado Marcon (PT-RS). Caberá agora ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), decidir se o pronunciamento ficará registrado nos documentos da Casa.

Voltei
Foi um deus-nos-acuda. Marta Suplicy (PT-SP), vice-presidente do Senado, imaginem!, decidiu censurar Bolsonaro lá da outra Casa. Até aí, vá lá… Mas o fez chamando ao debate o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), como a dizer: “Puxe a orelha do seu deputado aí…” Ninguém contou à senadora, então eu conto, que Bolsonaro tem as mesmas prerrogativas que ela tem. De resto, não é tão feio quanto, falando de um acidente aéreo, sugerir aos brasileiros um “relaxem e gozem”. Bolsonaro, ademais, recorreu à sua crueza característica. A linguagem oblíqua é pior: “É casado? Tem filhos?”

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Eu ainda não entendi, e não estou sendo irônico, não, por que militantes gays e  os notórios defensores da chamada “causa gay” e da tal “lei de combate à homofobia” consideram um crime de lesa indignidade a inferência de que este ou aquele são… gays!

Há uma contradição evidente aí! Bolsonaro certamente acha que ser gay não é bom; com absoluta certeza, deplora os valores da militância homossexual e tal. Investigada a sua consciência, ele, de fato, não tentou elogiar Dilma Rousseff. Mas voltemos às suas palavras: “O kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff, pare de mentir! Se gosta de homossexual, assume. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas de 1º grau”.

Se há algo próximo da injúria aí, é o “pare de mentir”, mas me parece que o deputado está protegido pela imunidade parlamentar, não? Em termos gramaticais, e a gramática existe, ele recorreu a duas orações subordinadas adversárias condicionais. A conjunção “se”, como é óbvio, submete as orações principais às condições que ele enunciou. Mas digamos que tivesse sido mais incisivo e dito: “Dilma, eu acho que o teu negócio é amor homossexual”. Que crime teria cometido mesmo?

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Calúnia não é porque ser gay não é crime. Para que se considerasse “injúria” ou “difamação”, seria preciso dar como certo que a condição homossexual ofende, que o alvo de sua fala está sendo associada a condição degradante, que mancha a sua reputação. Bem, meus caros, e não estou tentando ser irônico, não: há alguns anos, até poderia ser; hoje, não mais. Existe o “Dia do Orgulho Gay”; as tais passeatas são do “orgulho gay”. Reitero: onde diabos está a “ofensa”? Que aqueles a quem chamam “homofóbicos” possam achar as palavras insultuosas, vá lá… Mas, com efeito, não entendo por que os “progressistas” querem punir o parlamentar.

Essas susceptibilidades são curiosas. Um ator da Globo, li em algum lugar, caiu na boca do sapo dos “descolados” porque disse algo mais ou menos assim: “É melhor ter fama de pegador do que de gay”. Pronto! Está sendo demonizado, se vocês notarem bem, por motivos opostos.  Estão bravos porque ele considera que a fama de “hétero pegador” é, na sua escala de valores, superior à de “gay”. No caso da fala de Bolsonaro, acham que associar a presidente à homossexualidade é uma agressão. E ainda há o fato óbvio: Dilma não é gay, e isso é notório.

Tive alguns embates aí com um deputado que é militante da causa homossexual — e nem foi por causa desse assunto. Quando ficou evidente que ele havia perdido na argumentação, não hesitou: me chamou de bicha. Por acaso, se quisesse me elogiar, teria me chamado de “hétero pegador”?

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Encerrando
Já li alguns textos que estão pondo em dúvida, recorrendo até a psicanalistas, a sexualidade do próprio Bolsonaro. Como o tacham de homofóbico, inferem que, então, deve ser um gay enrustido. Vale dizer: aqueles que tentam combater Bolsonaro, julgando que, assim, combatem a homofobia, o acusam, para detraí-lo, de… gay!!! Há só uma questão verdadeiramente séria nessa história toda, e não consegui detalhes a respeito: saber se há mesmo o risco de o tal material didático ir parar nas escolas. Aquilo, sim, é uma soma de várias ignorâncias com violência pedagógica.

Abespinhar-se porque um deputado exerceu, ainda que num estilo de que não gosto, as prerrogativas de que dispõe e criar celeuma porque pode ter eventualmente associado a presidente a uma prática de que os militantes da causa e seus apoiadores se orgulham, bem, isso não tem a menor importância. Só contribuiu para agregar alguns eleitores novos a Bolsonaro.

Querem saber? Conservador mesmo, reacionário até, foi terem tirado a fala das notas taquigráficas, uma iniciativa dos petistas. Muitos já foram chamados de ladrões ali, e ficou tudo registrado.

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