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Reinaldo Azevedo

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“la bocca mi basciò tutto tremante”.

Noi leggiavamo un giorno per dilettodi Lancialotto come amor lo strinse;soli eravamo e sanza alcun sospetto. Per più fïate li occhi ci sospinsequella lettura, e scolorocci il viso;ma solo un punto fu quel che ci vinse. Quando leggemmo il disïato risoesser basciato da cotanto amante,questi, che mai da me non fia diviso, la bocca mi […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h29 - Publicado em 4 jul 2006, 22h45

Noi leggiavamo un giorno per diletto
di Lancialotto come amor lo strinse;
soli eravamo e sanza alcun sospetto.

Per più fïate li occhi ci sospinse
quella lettura, e scolorocci il viso;
ma solo un punto fu quel che ci vinse.

Quando leggemmo il disïato riso
esser basciato da cotanto amante,
questi, che mai da me non fia diviso,

la bocca mi basciò tutto tremante.
Galeotto fu ’l libro e chi lo scrisse:
quel giorno più non vi leggemmo avante.

Em homenagem à vitória da Seleção Italiana, um trecho do muito pio Dante Alighieri, na Divina Comédia. Quer dizer: “pio”, mas nem tanto. É uma das passagens, como direi?, mais eróticas da literatura, no conteúdo e na forma. Francesca de Rimini está no Segundo Círculo do Inferno, aquele destinado aos luxuriosos, aos lascivos. Encontra-se em companhia de Paolo, o cunhado, com quem foi pega em flagrante num beijo ardente. Foram surpreendidos pelo marido dela e irmão dele, Gianciotto, um corno muito bravo, e assassinados. A atração se torna irresistível — sim, é preciso resistir, como sabemos — justamente enquanto ambos liam a história de Lancelote. Lembram-se? É o cavaleiro sem mácula que não resistiu a Guinevere, a mulher do rei Arthur, o melhor amigo do Ricardão da Cavalaria. Francesca e Paolo acabam reproduzindo na vida a literatura. Arthur era bem mais manso do que Gianciotto… Prestem atenção neste verso: “la bocca mi basciò tutto tremante”. Huuummm: ou você sente palpitações lendo ou não sente. Depende da quantidade de informação dos seus hormônios. Não vou traduzir eu mesmo porque depois o Diogo Mainardi acaba comigo. Então segue uma versão de Cristiano Martins, que acho boa, porque não distorce o sentido e procura repetir, dentro do possível, as assonâncias do original, incluindo as do citado verso. Está em primeira pessoa. Quem fala é a própria Francesca, explicando por que esta se danando no Inferno.

“Estávamos um dia por lazer
de Lancelote a bela história lendo,
sós e tranqüilos, nada por temer.

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Às vezes um para o outro o olhar erguendo,
nossa vista tremia, perturbada:
e a um ponto fomos que nos foi vencendo.

Ao ler, que, perto, a boca desejada
sorria, e foi beijada pelo amante,
este, de quem não fui mais apartada,

os lábios me beijou, trêmulo, arfante.
Galeoto achamos nós no livro e autor:
e nunca mais foi a leitura adiante.”

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Informações adicionais interessantes. Reparem que ela se refere àquele “de quem não fui mais apartada”. Está no Inferno, presa a seu amante, arrastada por um vento permanente. Será assim tão chato? Embora a sua narrativa seja de sofrimento, uma espécie de fatalismo palpitante é evidente. Referindo-se a Paolo, diz Francesca:

“Amor, que a amado algum de amar não priva.
uniu-me a ele também tão doce e forte,
que, como vês, ainda aqui se aviva”

Vejam aí: um Dante, de quem se diz ser sempre tão pio, mostra, sim, as agruras e o castigo dos luxuriosos. Mas aquela atração que resultou no verso “la bocca mi basciò tutto tremante” sobrevive no e ao inferno. “Galeoto” é quem serviu de alcoviteiro entre Guinevere e Lancelote. Em Dante, quem assumiu esse papel foi a própria história de cavalaria. Ta bom, escrevi demais. Esqueçam minha cascata. Fiquem com o verso: “la bocca mi basciò tutto tremante”.

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