Juros bancários cairão mais, diz Setubal
Por Marcio Aith, na Folha: Desde o início do atual ciclo de corte de juros, em janeiro, o Banco Central já reduziu a taxa básica da economia, a Selic, em cinco pontos percentuais. Mas os bancos privados não repassaram todo esse alívio a empresas e consumidores de forma proporcional, sob a alegação de que a […]
Por Marcio Aith, na Folha:
Desde o início do atual ciclo de corte de juros, em janeiro, o Banco Central já reduziu a taxa básica da economia, a Selic, em cinco pontos percentuais.
Mas os bancos privados não repassaram todo esse alívio a empresas e consumidores de forma proporcional, sob a alegação de que a inadimplência subiu muito, anulando em parte os esforços do BC.
Roberto Setubal, 54, presidente-executivo do Itaú Unibanco, diz que a inadimplência tende agora a cair, o que permitirá aos bancos reduzir mais rapidamente as taxas aos clientes -mesmo se o BC não fizer cortes adicionais à Selic. “Estamos provavelmente passando pelo pico da inadimplência”, disse Setubal em entrevista à Folha. “As taxas de empréstimos podem cair muito mais à medida que a inadimplência se reduza.”
Segundo Setubal, o maior componente do “spread” bancário é exatamente o nível de perdas dos bancos, que atingiram seu recorde histórico. “Este tem sido um ano muito ruim para o crédito em todos os aspectos. Os volumes não estão crescendo como anteriormente, o que não é bom para o mercado financeiro, para os bancos e para o crescimento”, disse Setubal. “A inadimplência está muito alta. Estamos batendo os picos históricos de inadimplência. Já há algum sinal de melhoria, mas as perdas são grandes.”
“Spread” é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para quem aplica seu dinheiro neles e a taxa cobrada pelas instituições para repassar esse mesmo dinheiro a quem precisa de empréstimo.
Nessa diferença, estão embutidos os custos administrativos dos bancos e a taxa de inadimplência -além, é claro, do lucro. Quanto maior for a inadimplência, portanto, maior tende a ser o “spread”.
Até a primeira quinzena de maio, a taxa Selic havia recuado 3,5 pontos percentuais, de 13,75% anuais para 10,25% (desde então ela já caiu para 8,75% ao ano). No período, a taxa média para pessoas físicas recuou dez pontos percentuais, de 57,9% ao ano para 47,9%.
Proporcionalmente, a taxa Selic recuou mais do que os juros bancários: a queda de 3,75 pontos corresponde a uma redução de 25%, enquanto a diminuição no custo dos empréstimos foi de 17%. Setubal também fez um alerta à estratégia agressiva adotada pelos bancos oficiais para forçar a queda dos juros.
“O governo procurou usar os bancos públicos como mais um elemento para estimular a economia. Entendo isso como uma medida contracíclica válida por um período”, disse Setubal. “Mas é impossível imaginar que eles possam operar de forma sustentável em condições muito abaixo daquelas em que o mercado opera.”
FOLHA – Como o senhor vê a reação da economia brasileira à crise?
ROBERTO SETUBAL – Sempre acreditei que o Brasil se recuperaria melhor do que o resto do mundo por suas virtudes macroeconômicas, pela solidez do sistema financeiro e pela inexistência, aqui dentro, das causas que levaram à deflagração da crise lá fora. Isso de fato está ocorrendo. A surpresa é a velocidade de recuperação. Estamos hoje num ritmo de crescimento de 4% ao ano, o que é extraordinário. O número de 2009 provavelmente será zero porque partimos de uma base mais baixa, mas, na margem, o crescimento é espantoso.
(…)
SERRA OU DILMA?
FOLHA – Como o senhor vê uma eventual disputa para a Presidência entre o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff?
SETUBAL – O Itaú sempre procurou apoiar a democracia contribuindo de forma equilibrada para os vários candidatos. Evidentemente procuramos contribuir mais para os partidos que partilhavam nossos ideais. Mas de forma muito equilibrada. E exclusivamente dentro das regras. Nunca pedimos nada em troca de contribuições.
FOLHA – Há algum risco eleitoral na campanha de 2010?
SETUBAL – O Brasil adquiriu um nível alto de maturidade política e de equilíbrio econômico. Houve uma institucionalização das políticas econômicas. Na campanha, iremos ver algumas diferenças mais claras. Vai ser interessante analisar as propostas de um e de outro, mas não há risco de revermos 2002.
FOLHA – Serra ou Dilma?
SETUBAL – Só vou dizer uma coisa: Os dois têm a mesma qualidade de serem firmes em suas convicções e seus credos, de serem administradores com objetivos claros e muito pragmáticos em função dos benefícios pretendidos para a população. Aqui