Há uma coisa que o advogado Ives Gandra nunca soube: a hora de silenciar. Quando eu trabalhava em jornal, e havia um debate sobre qualquer assunto, sempre era preciso achar alguém que dissesse que algo era “inconstitucional”. E havia a blague: “Chamem o Ives”. Era batata! Pois é. Desta vez, o “Ives” surpreendeu. Em vez de dizer o ululante, que uma constituinte só para votar a reforma política é inconstitucional, ele se saiu com uma das maiores bobagens já ditas no país nos últimos anos. Vejam o que falou ao
Globo: “
Sou favorável à proposta, desde que tenha respaldo popular e que seja uma Constituinte exclusiva, ou seja, que qualquer cidadão possa concorrer, menos políticos. Caso contrário, não haverá reforma alguma. Se não for assim, é uma bobagem, porque hoje já há diversos projetos tratando da reforma política no Congresso Nacional e os políticos nunca tiveram interesse em fazê-la”. Qual é o princípio jurídico, doutor? O povo é favorável a linchamentos e pena de morte. Eu sou contra. E quero que o povo se dane se ele é a favor. E o senhor? Tudo o que o povo defender deve ser endossado por nós? E que história é essa de “político” não poder participar de uma constituinte — se constitucional ela fosse? O senhor, por acaso, anseia por uma sociedade sem política? O poder ficaria entregue a quem? Às corporações de ofício? Nem um petista de carteirinha diria uma asneira desse tamanho. Ives se igualou a alguns “acadêmicos” de meia-tigela que andaram falando coisas semelhantes ao longo do dia. Falando ao mesmo jornal, opuseram-se à tese o jurista Carlos Roberto Siqueira Castro, professor de direito constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e, para minha surpresa, confesso, o petista de carteirinha Dalmo de Abreu Dallari. Há uma monte de coisas em que concordo com Ives Gandra. Talvez sejamos próximos ideologicamente em muitos assuntos. Por isso eu o censuro com ainda mais energia. A tolice que nos é próxima merece um combate mais duro do que a que está distante de nós.
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