Itamar, Aécio, Alckmin, John Donne, livro místico

O apoio de Itamar Franco à candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência veio acompanhado, é inescapável, do lançamento — um tanto precipitado, me parece — da pré-candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República. O ex-presidente não escondeu isso ao se referir a 2010 e falar em nome desta verdadeira entidade da política nacional: “Minas”. Minas é, na política brasileira, a “mulher” da Elegia de John Donne: “Como encadernação vistosa, feita/ Para iletrados a mulher se enfeita;/ Mas ela é um livro místico e somente/ A alguns (a que tal graça se consente)/ É dado lê-la.” Depois emenda o “eu” lírico: “eu sou um que sabe”. Bem, não sei se sei. Mas se Itamar condiciona o seu apoio a 2010, está convocando Alckmin, em caso de vitória, a não se recandidatar à reeleição. Isso nunca chegou a ser um acordo entre o ex-governador paulista, Aécio e José Serra. Mas ficou devidamente subentendido. Acordos em política não têm essa duração toda. Digamos que o tucano se eleja presidente e faça uma gestão considerada virtuosa, com apoio popular. Não vai se recandidatar? Ok, o apoio de Itamar é importante. Mas o que realmente vale a pena destacar, na forma como se fez, é que Aécio Neves é candidato à Presidência em 2010. E, hoje ao menos, está dizendo que o será no PSDB ou fora dele. Em nome de Minas, o “livro místico”. A operação me pareceu escancarada demais para colher efeitos virtuosos.