Irã é hoje mais ditadura militar do que teocracia
Por Danielle Pletka e Ali Alfoneh, no New York Times (texto publicado no Estadão: Logo após saírem os resultados da eleição fraudada no Irã, centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas e era como se uma nova revolução fosse iminente. Mas, cinco dias depois, a revolta tornou-se pouco mais do que um protesto simbólico […]
Por Danielle Pletka e Ali Alfoneh, no New York Times (texto publicado no Estadão:
Logo após saírem os resultados da eleição fraudada no Irã, centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas e era como se uma nova revolução fosse iminente. Mas, cinco dias depois, a revolta tornou-se pouco mais do que um protesto simbólico esmagado pela Guarda Revolucionária. Mas a verdadeira revolução ocorreu sem que se percebesse: a Guarda Revolucionária realizou um golpe de Estado silencioso.
As sementes desse golpe foram plantadas há quatro anos com a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. E embora ele tenha decepcionado a sociedade desde sua posse, não adotando as prometidas reformas políticas e econômicas, seus aliados hoje controlam o Irã. Na mais dramática reviravolta desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã passou de Estado teocrático para uma ditadura militar.
A desilusão com o governo clerical cresce há anos. Para os jovens das cidades, que formam a classe política mais atuante do Irã, os mulás simbolizam a rigidez primitiva da lei islâmica. Para os pobres das zonas rurais, encarnam a corrupção, indicada pelas escolas não construídas, estradas sem pavimentação e promessas de desenvolvimento não atendidas.
A hostilidade veio à tona durante a disputa presidencial em 2005, com a derrota do ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, considerado um clérigo corrupto, por Ahmadinejad.
A população via em Ahmadinejad uma pessoa que repudiava o desregramento da classe clerical, um asceta humilde e devoto. E ele tirou proveito dessa imagem para consolidar-se no poder e promover seus camaradas de armas. Quatorze dos 21 ministros de gabinete nomeados por ele são ex-membros da Guarda Revolucionária ou seus associados paramilitares, os basij. Alguns deles, incluindo o ministro da Defesa, Mustafa Mohammad Najjar, são veteranos de unidades famosas que apoiaram operações terroristas na década de 80.
Essa militarização paulatina e sub-reptícia não se restringiu ao governo central; cada vez mais, funções de governadores de províncias, comissários de imprensa, diretores de cinema, oficiais da inteligência e líderes empresariais são preenchidas por antigos membros da Guarda Revolucionária. Hoje a força de elite controla grande parte da economia, diretamente – por exemplo, os basij têm direito à extração de petróleo – ou por meio de empresas de representação como a Khatam al-Anbiya, que domina o setor de construção em todo o país. Aqui