Imprensa ameaçada: no dia em que jornalistas apanham de petistas, presidente do PT critica o… jornalismo!
Num post abaixo, vocês têm relatados os ataques de que foram vítimas os jornalistas na frente de Palácio da Alvorada. A questão é grave. Alguns dos agressores são funcionários comissionados do governo federal. A hostilidade dos petistas já começou no aeroporto, em Brasília: “Ou, ou, ou, a Veja de ferrou” e “O povo não é […]
Como já se informou aqui, um jornalista foi agredido com o mastro de uma bandeira do PT. “Tem alguém da Veja por aí?”, perguntavam, como se estivessem caçando pessoas. Na frase mais significativa do dia, afirmou um deles: “A ditadura era melhor do que a imprensa, eles matavam com baionetas, vocês matam com a língua”. E pediam o fechamento dos jornais. O PT ficou chocado com isso, certo? Ah, Marco Aurélio Garcia, presidente da legenda, criticou, claro, os atos de violência. Mas gastou a maior parte do tempo atacando a imprensa, que apanhara havia pouco.
No meu artigo desta semana na Veja, digo que faz 26 anos que o sistema político tenta civilizar o canibalismo petista. Não adianta. Escrevam: eles vão querer alguma forma de censura. Vão tentar nem que seja a econômica. Vão estimular grupos de pressão a se comportar como horda. O trabalho já começou. Garcia cobra “da imprensa” um desmentido sobre o mensalão. Segundo ele, o PT fez apenas caixa dois. Ele deveria perguntar por que Valdemar da Costa Neto renunciou. Confessou ter recebido R$ 10 milhões do PT. Ok, não foi em parcelas. A compra se fez de uma vez só. E em dinheiro vivo. Ele deveria cobrar ainda uma autocrítica do procurador geral da República.
Garcia também quer uma “auto-reflexão” da imprensa sobre o seu comportamento durante as eleições. A sugestão é que prejudicou o PT. Vejam só: o presidente do partido que, até agora, não disse de onde saiu o dinheiro sujo do dossiê fajuto tem a coragem de fazer cobranças ao jornalismo. Não só cobranças. Também intrigas e ameaças.
Para Marco Aurélio Garcia, esse sentimento de crítica à mídia “atravessa uma parte dos jornalistas nas redações.” E acrescentou: “Tenho informações disso e sei que existem instituições da sociedade civil preocupadas. Da mesma forma que sei que há movimentos crescentes de consumidores de órgãos de imprensa que estão manifestando a sua inconformidade através do cancelamento de assinaturas”. Certamente ele não está se referindo aos veículos que puxam o saco do governo. Para os petistas, todos os jornais e revistas seriam cartilhas. Cartilhas capitais.
Ele chamou esse movimento de “sadio”, sugerindo a sua espontaneidade. Nós sabemos muito bem como essas coisas funcionam no PT. As “instituições da sociedade civil” são as ONGs que o partido cria para patrulhar a sociedade. Por dia, recebo mais de mil e-mails malcriados de militantes. Trata-se de um movimento organizado.
PS: Uma equipe da TV Globo teve de se esconder no veículo da emissora com medo de agressões. O Jornal Nacional ignorou o caso. Não sei por quê. Jornalista não é mesmo para ser notícia. A não ser quando apanha de militantes de um partido que cobram o fechamento dos jornais.