Ignorância arrogante
Há vários tipinhos irritantes na rede. O que não entende o que lê, mas opina ainda assim, é o pior. O ponto extremo é o arrogante que pretende corrigir o erro que você não cometeu. Vejam o que escrevi sobre o “nhenhenhém” no último post desta madrugada: Permito-me aqui uma digressão com um pouco […]
Há vários tipinhos irritantes na rede. O que não entende o que lê, mas opina ainda assim, é o pior. O ponto extremo é o arrogante que pretende corrigir o erro que você não cometeu. Vejam o que escrevi sobre o “nhenhenhém” no último post desta madrugada:
Permito-me aqui uma digressão com um pouco de memória pessoal. A palavra “nhenhenhém”, que viria a render tanto debate-boca político, nasceu na Folha. Participei de seu nascimento. A repórter Gabriela Wolthers foi cobrir um evento com FHC — pode ter sido a primeira coletiva do presidente, a conferir. Era fevereiro de 1995, acho. Naquele tempo, não sei hoje como se faz nos jornais, os repórteres chegavam e faziam um breve relato aos editores do que tinham presenciado e/ou apurado, e chegávamos juntos à, digamos, “pegada” da matéria. A conversa era importante porque muita reportagem morria antes de nascer. “É só isso? Então não tem nada”. Era um bom procedimento porque ajudava a preservar as árvores, entendem?
Nesse caso, Gabriela me disse que FHC havia falado em “hanhanhan”, “nhanhanham”, “humhumhum” ou onomatopéia (?) parecida para se referir a críticas que ele considerava infundadas. Depois de conversar um pouco, chegamos à conclusão de que a coisa mais próxima que a língua oferecia era mesmo “nhenhenhém”. E até me penitencio: grafamos a palavra com erro. Saiu “nhém-nhém-nhém”, com hifens. O “Controle de Erros” nos mandou a edição do dia seguinte tingida de vermelho. Nascia ali o “nhenhenhém” como expressão do debate político.
Aí o Celso Sachi me envia o que segue:
Sinto muito desapontá-lo mais a expressão “nhenhenhém” não é sua nem de Fernando Henrique nem de sua reporter. Ela é uma expressão tupy-guarani. É só pegar um bom dicionário que voce vai encontrá-la.
Desculpe, mas blog também é cultura
Comento
Já você não me desaponta e confirma as minhas piores expectativas. É um caso de analfabetismo funcional. Eu escrevi que inventei a palavra? Não! Repito: “Depois de conversar um pouco, chegamos à conclusão de que a coisa mais próxima que a língua oferecia era mesmo ‘nhenhenhém’. E até me penitencio: grafamos a palavra com erro. Saiu ‘nhém-nhém-nhém’, com hífens.”
Se escrevo que era uma opção que “a língua oferecia”, está claro que não era uma invenção nossa; se chego a lembrar que, inicialmente, grafamos erradamente a palavra, é porque ela já estava dicionarizada. De resto, “nhenhenhém” não é uma “expressão”, mas uma palavra. Não é de origem “tupy-guarani” (na verdade, tupi-guarani), mas tupi. Estude a diferença entre as duas coisas, Celso. Aprenda a acentuar “repórter” e “você”. Leitores já corrigiram e corrigem o blogueiro, e correções são bem-vindas quando o erro existe. Mas eu realmente detesto o tipinho ignorante de nariz empinado. Olhe aqui, rapaz, vá comer feijão primeiro. Muito feijão.