IDELI, A IRREDIMÍVEL, E O DISCURSO FASCISTÓIDE
Em sua intervenção na Comissão de Constituição e Justiça, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) esbravejou: os senadores ficavam ali debatendo se houve ou não a reunião entre Dilma Rousseff e Lina Vieira, e ninguém dava bola para a criação de uma universidade nova. Há pouco, com aquele sotaque muito característico — que nada tem a […]
Em sua intervenção na Comissão de Constituição e Justiça, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) esbravejou: os senadores ficavam ali debatendo se houve ou não a reunião entre Dilma Rousseff e Lina Vieira, e ninguém dava bola para a criação de uma universidade nova.
Há pouco, com aquele sotaque muito característico — que nada tem a ver com Santa Catarina; ela é paulista —, ocupou a tribuna do Senado para repetir a ladainha. E ainda diz, como se a CCJ fosse um tribunal, que Lina é quem tem de “provar” que o encontro aconteceu.
Segundo o sofisticado pensamento de Ideli, desde que o governo realize obras, a oposição é desnecessária; desde que um governo faça obras, pouco importa o seu comportamento; desde que um governo faça obras, é irrelevante se segue ou não a lei.
Se a interferência da ministra Dilma Rousseff realmente aconteceu, isso que Ideli considera uma irrelevância constitui nada menos que um grave atentado ao estado de direito. Trata-se de mobilizar a estrutura do estado para proteger aliados do governo. E quem o faz para proteger amigos também o faz para prejudicar inimigos.
O sufixo “óide”, em português, designa, de acordo com sua origem grega, “aparência”, “aspecto”. É bastante usado na ciência, mas ganhou as ruas e o debate político. Assim é, por exemplo, com o termo “fascistóide”. Acusar algo ou alguém de “fascistóide” não significa dizer que a pessoa é “fascista”, mas que age, num determinado tema, à moda de um, com a aparência de um.
Nesse particular, a senadora Ideli foi “fascistóide”. E “fascistóide” tem sido o governo quando tenta opor algumas ilegalidades à sua suposta eficiência, como se uma coisa compensasse a outra; como se a alegada competência lhe desse o direito de transgredir as leis. Por que evoco os regimes fascistas? Porque todos eles, sem exceção, abusaram dessa mesma mentalidade, dessa mesma visão de mundo: praticavam violências contra adversários, mas evocavam a seu bem-fazer, o seu “choque de ordem”. Os petistas, evidentemente, praticam a violência possível hoje em dia.
Ainda que o governo Lula fosse o espetáculo que diz ser, isso não lhe daria o direito de jogar a Constituição no lixo. E a senadora Ideli Salvatti precisa saber que o Congresso não deve apenas homologar e aplaudir os atos do Executivo.
O discurso desta senhora sataniza a política e está adequado aos piores tempos da ditadura. O ano de maior crescimento econômico da história do Brasil foi 1969. Ideli deveria escrever hoje um texto sustentando a seguinte tese: “Criticar o AI-5 era pura perda de tempo; afinal, o Brasil crescia 13% ao ano”.