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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

HUMANISMO COM OS DOIS PÉS NO CHÃO. E AS DUAS MÃOS TAMBÉM

Compreendo quando alguns me perguntam se não exagero nas críticas às esquerdas e tal. Dada a média do pensamento na imprensa — que está ainda à esquerda do PT —, fica parecendo mesmo algo um tanto exótico. Afinal, é o país em que a defesa da lei pode ser tratada como apoio à tortura ou […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 jun 2024, 00h16 - Publicado em 12 ago 2008, 07h59
Compreendo quando alguns me perguntam se não exagero nas críticas às esquerdas e tal. Dada a média do pensamento na imprensa — que está ainda à esquerda do PT —, fica parecendo mesmo algo um tanto exótico. Afinal, é o país em que a defesa da lei pode ser tratada como apoio à tortura ou à impunidade. Aí escrevo: “Vigaristas!” E então me pergunto: “Mas isso não é muito duro?” Não quando se lê o dicionário: “aquele que, através de um ato de má-fé, tenta ou consegue lesar ou ludibriar outrem, com o intuito de obter para si uma vantagem; embusteiro, trapaceiro, velhaco”.

O PT tem um Secretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais. Chama-se Renato Simões. Ele também é Conselheiro Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Foi deputado estadual. Seu humanismo, com efeito, é das coisas mais encantadoras que há na praça das idéias.

No site do PT, ele escreve um artigo em que somos levados a crer que ele é contra a tortura, é claro. Simões é um homem bom e só quer justiça. Leiam:

A iniciativa da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, apoiada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, de debater em seminário nacional a punição aos militares e outros agentes da ditadura que torturaram e mataram militantes da resistência democrática ao regime militar recolocou o tema na ordem do dia.(…)O fato deste debate ter sido levado a Brasília sob a chancela de dois ministros de Estado e de ter reunido familiares de mortos e desaparecidos políticos, bem como ex-presos políticos vitimados pelo Estado de Exceção, para debater as bases jurídicas no Direito Nacional e Internacional deste tipo de ação, colocou a questão num outro patamar e provocou a irada reação de militares, integrantes do governo federal e parlamentares.O que reúne nesta toada contra o debate pessoas diferentes como o Ministro Nelson Jobim, o Comandante Militar do Leste, General Luiz Cesário da Silveira Filho e o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra? Os deputados federais Cândido Vacarezza, Jilmar Tatto e Jair Bolsonaro? Articulistas da Veja, do Estadão e da Folha? Cronistas de várias emissoras de rádio e TV?Ele apresenta, em seguida, argumentos, estes que andam por aí (íntegra aqui) e ainda escreve:

Afinal, faltam pouco mais de dois anos para o encerramento dos oito anos de governo do presidente Lula, e entre os pontos que ainda faltam ser concretizados de seu programa, que se insere dentro da agenda dos principais movimentos sociais brasileiros, estão a abertura dos arquivos militares ainda não divulgados e a reparação plena dos(as) ex-presos(as) políticos(as), suas famílias e das gerações que aguardam um reencontro do Brasil com seu passado para alavancar um futuro ainda mais democrático e justo.Que homem generoso! Que alma boa! Que coração aberto! Que luta destemida! Lendo o que ele escreve, não sei se choro ou, como Voltaire lendo Rousseau, sou tentado a andar sobre quatro patas. E por quê?

Na sua página na Internet, Simões canta as glórias, vejam vocês, de ninguém menos do que Olívério Medina. Sim, trata-se daquele terrorista colombiano que mora em Brasília, cuja mulher foi empregada no governo federal a pedido de Dilma Rousseff — segundo Eliane Cantanhêde, ela não poderia “morrer de fome”, coitada!

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E o que ele diz sobre Medina, este outro gigante do humanismo. O que segue em vermelho:
“em 2003, [Medina] foi um dos responsáveis por tentar criar as condições para um encontro do Secretário Geral da ONU e um Representante das FARC para tratar do assunto de intercâmbio humanitário de prisioneiros políticos. (…) em 2004 e 2005 [Medina] tem se dedicado a lutar pelo intercâmbio humanitário entre os prisioneiros políticos da guerrilha e do governo (…)”

Entenderam? Simões está entre aqueles que querem fazer a história retroagir 30 anos para punir os torturadores do regime militar. Mas ele chama os detidos nos campos de concentração das Farc de “prisioneiros políticos”. Mais ainda: iguala esses “prisioneiros políticos da guerrilha” aos “prisioneiros políticos do governo”, como se fossem equivalentes; como se aqueles que as Farc mantêm cativos tivessem sido caputurados na “luta”. Eis o humanismo do rapaz.

Critiquei Simões aqui no dia 1º de agosto. Recebi um comentário, que trazia o seu nome, afirmando que eu deveria comer alfafa. Não se sei foi ele mesmo que escreveu. Telefonei três vezes para a sua assessoria no PT para confirmar e não obtive resposta. Sou tentado a achar que era ele mesmo, mas o que vai abaixo independe ter sido ou não.

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O humanismo de Simões é do tipo que tem os dois pés no chão — e as duas mãos também (by Ivan Lessa). Ele é a melhor evidência do real compromisso dos revanchistas com a democracia.

E já que o segredo de aborrecer é dizer tudo, não pensem que não percebi a impostura logo no seu primeiro parágrafo, quando se refere a “militantes da resistência democrática ao regime militar”. Até havia alguns, também punidos, mas não nas esquerdas. Estas tinhas divergências táticas e estratégicas, mas queriam uma cosa só: ditadura. Simões, sem dúvida, é herdeiro da turma. E, por isso, trata terrorista como herói e seqüestrados como “prisioneiros políticos”.

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