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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

HÁ TROUXA PRA TUDO. OU: OS MARQUETEIROS DO VITIMISMO

Eu não sei as motivações da tal Paula Oliveira para ter mentido. O que é certo é que foi uma mentira meticulosamente construída, não?, com as fotos exibindo a sua suposta gravidez enviadas a todo mundo. Gravidez que ela exibia por fora, com a barriga estufada, e por dentro, com o falso ultrassom, colhido na […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h07 - Publicado em 19 fev 2009, 19h27
Eu não sei as motivações da tal Paula Oliveira para ter mentido. O que é certo é que foi uma mentira meticulosamente construída, não?, com as fotos exibindo a sua suposta gravidez enviadas a todo mundo. Gravidez que ela exibia por fora, com a barriga estufada, e por dentro, com o falso ultrassom, colhido na Internet. Parece que ela estava plantando indícios, até chegar à falsa agressão, propagandeada no Brasil por certos ramos da imprensa — ou quase isso — chegados no marketing do vitimismo. Os bocós vestiram a camisa verde-amarela e saíram por aí.

Também seu namorado suíço sustentava a gravidez. Quem é ele? Trabalha em quê? Como ganha a vida? Certo, certo, o povo da antiga Helvécia, vocês sabem, é frio como a neve lá fora, mas o será a ponto de não se interessar minimamente em ver os exames médicos que provam uma gravidez? Ou muito me engano, ou este rapaz lamentou a perda das duas “menininhas”, enquanto os vitimistas brasileiros suavam seu nacionalismo ofendido por todos os poros, e Celso Amorim, o Gigante, prometia vingança. E alguns gritavam por aqui: “Sim, é a xenofobia! Agora vão culpar o Terceiro Mundo pela crise! Eles não querem saber de nós!”

Mais: inconformada com a história que começava a se fragilizar, a imprensa foi ouvir os amigos de Paula:
— “Ah, ela seria incapaz de mentir!”
— “Ah, ela jamais faria isso”.
— “Ah, conheço desde criancinha”.

Pois é… Mesmo sem eu dever nada — como diria José Dirceu: estou convicto de minha inocência, pouco importa a acusação… —, espero que ninguém tente se informar a respeito de minha vida ouvindo vizinhos:
— “Ah, sei lá, né? O cara fica acordado à noite e dorme de dia”.
— “De vez em quando, ele usa boné.”
— “As empregadas comentam que usa chapéu até dentro de casa”.
— “Antes de entrar no carro, ele sempre acende um cigarro, dá duas tragadas e joga o resto fora. Estranho!”
— “Ouvi dizer que acendem vela lá dentro de vez em quando…”.
E, bem, se ouvirem minha mãe, minha mulher e meus amigos, todos dirão que sou incapaz de matar uma mosca — como Zé Dirceu diria de si mesmo. Quer dizer, mosca, eu mato… Dirceu já não sei…

O vulgo não serve pra nada — corre-se o risco é de inocentar os culpados e culpar os inocentes. Ademais, as motivações de Paula são irrelevantes. Caso de psiquiatra ou de polícia? Tanto faz. Trata-se de um problema individual — mesmo que ela tenha tentado dar um golpe. A questão é outra. Por que o Brasil caiu na esparrela? Por que a imprensa expressou todo o seu amor pelos “oprimidos”?

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Há setores do jornalismo brasileiro que não podem ouvir ou ler a palavra “direita”, que já começam a babar. Não chega a ser, como sabem os especialistas, uma reação pavloviana. Está mais para hidrofobia mesmo. E, nesse caso, Paula fez tudo direitinho. Simulasse um ataque qualquer, praticado por algum maluco, não conseguiria inflamar os nossos baixos instintos vitimistas. Então escolheu o ataque neonazista, com o requinte de gravar no corpo a sigla de um partido de direita — que virou de “extrema direita” por aqui e, em seguida, neonazista.

Ignorei o caso no primeiro dia. No segundo, escrevi o meu texto obrigatoriamente indignado, mas levantando severas dúvidas a respeito da versão. Assim são os tempos. A imprensa está impedida de pensar, patrulhada pelo politicamente correto. Pensar, hoje em dia, pode render processo. Antes de se ocupar da verdade, você tem de tomar cuidado para não ofender as minorias e os oprimidos. O post original foi vetado por Dona Reinalda: “Não, mais essa briga, não!” Compreendo o cuidado. Nele eu indagava se os neonazistas ariano-suíços partilhavam da memória ancestral da cultura indígena… Aqueles traços paralelos, na diagonal, me lembravam, sei lá, uma ornamentação caiapó (ou de qualquer outra cultura de nossos irmãos silvícolas…). Sei bem porque meu bisavô era índio documentado. Por isso, é me distrair e começo a bater o pé no chão para exaltar a natureza. Já a dança para acordar os mortos, a gente executa batendo os pés do chão. Nas cerimônias de casamento, aí a gente varia e bate os pés no chão… Memória ancestral é fogo! A gente não se livra e se trai mesmo…

O que realmente me fascina é que, até agora, ninguém admite que errou: nem Celso Amorim nem os que superestimaram o caso. Já escrevi aqui que compreendo o sofrimento da família, mas tal compreensão tem um limite. Paulo, o pai de Paula, precisa mudar o discurso e parar de afirmar que acredita na versão da filha. Ou deixará a imagem até agora cultivada de pai extremoso para se confundir com um pai ou licencioso ou comprometido com as mentiras contadas pela moça. E os motivos ainda são obscuros. QUE ELA TENTOU DAR CONOTAÇÃO POLÍTICA AO CASO, ISSO É EVIDENTE.

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“Delírio motivado pelo lúpus”, dizem agora… É, então foi um delírio metódico, continuado, até com sotaque ideológico (dada a realidade política da Suíça). Os mercadores do vitimismo também deveriam estar envergonhados e se desculpar com os leitores. Mas não vai acontecer. Afinal, sabem existir trouxa pra tudo.

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