Grau de Investimento 4 – “Fiquei perplexo com o timing da promoção”
Por Patrícia Campos Mello, no Estadão:Em meio à euforia despertada pela promoção do Brasil a grau de investimento, Thomas Trebat, diretor do Centro de Estudos Brasileiros na Universidade Columbia, é uma das poucas vozes de cautela. Sem desmerecer o grande feito da economia brasileira, Trebat questiona o timing da promoção do País. “Fiquei perplexo com […]
Em meio à euforia despertada pela promoção do Brasil a grau de investimento, Thomas Trebat, diretor do Centro de Estudos Brasileiros na Universidade Columbia, é uma das poucas vozes de cautela. Sem desmerecer o grande feito da economia brasileira, Trebat questiona o timing da promoção do País. “Fiquei perplexo com o timing da promoção do Brasil, porque estamos em plena virada de ciclo econômico”, diz Trebat, que acompanha o Brasil há mais de 35 anos e foi diretor de pesquisas de mercados emergentes no Citibank por 10 anos. Para ele, seria melhor aguardar para ver como a economia brasileira vai se portar no cenário de desaceleração. Trebat também teme que a euforia com o grau de investimento desestimule o governo a implementar reformas.
O que o sr. achou do timing da promoção do Brasil a grau de investimento?
Fiquei perplexo com o timing. Eu aplaudo e acho que é maravilhoso para o Brasil, mas fico preocupado por dois motivos. A economia americana está balançada, os bancos americanos estão com problemas de balanço, o mercado aqui chega ao ponto de festejar porque o desemprego não aumentou tanto quanto se temia. Essa mudança do ciclo econômico ainda não se refletiu totalmente nas contas externas e internas do Brasil. As melhoras citadas pela Standard & Poor”s – perfil da dívida, taxa de crescimento, inflação, aumento do nível de reservas internacionais – devem-se, em grande parte, ao ambiente externo super favorável ao Brasil. Agora, esse ambiente está mudando – então, por que dar o grau de investimento agora, em vez de esperar para ver como a economia brasileira vai se comportar no novo ambiente? Em segundo lugar, as empresas avaliadoras de risco vêm nos dizendo há anos que, para um país se consolidar como grau de investimento, tem de fazer uma série de reformas importantes, como tributária, trabalhista, sistema regulatório. Dessas reformas, quantas foram feitas no Brasil? Nenhuma. Não é que tenham feito parcialmente, ou que estejam em fase de aprovação. Nenhuma reforma importante foi feita. Agora qual será o sentido de pagar o alto preço político de passar uma reforma tributária? Não precisa mais, já tem investment grade. O Brasil está em 121º lugar em competitividade. Melhorar para que, se já virão rios de dinheiro para o Brasil?