Gramática
O leitor quer saber:Leio neste artigo, aliás, primoroso como todos, a frase:“…o mesmo que fez de José Serra o prefeito mais bem avaliado desde que a pesquisa é feita…” e pergunto: ao invés de “Mais bem” não deveria ter sido usado “melhor”?Respondo:Não deveria. E o erro é muito comum, especialmente na imprensa. “Bem”, na frase […]
Leio neste artigo, aliás, primoroso como todos, a frase:
“…o mesmo que fez de José Serra o prefeito mais bem avaliado desde que a pesquisa é feita…” e pergunto: ao invés de “Mais bem” não deveria ter sido usado “melhor”?
Respondo:
Não deveria. E o erro é muito comum, especialmente na imprensa. “Bem”, na frase acima, é advérbio, a classe das palavras invariáveis, que só são modificadas por outro advérbio. Também vale para “mal”. Veja só:
Exemplo a – FHC foi um presidente MELHOR do que o Apedeuta.
Exemplo b – O Apedeuta é um presidente MAIS BEM avaliado que FHC.
Quando os advérbios BEM e MAL antecedem um adjetivo ou verbo no particípio, é INCORRETO empregar MELHOR ou PIOR.
Outro erro comum, nesses casos, é meter o hífen entre o advérbio e o particípio: “bem-avaliado”. Está errado.
É errado na gramática, embora certo no espírito, escrever:“Lula é o presidente PIOR informado que o Brasil já teve”.Mas está certo, na escrita e na história:“Lula é o presidente MAIS MAL informado que o Brasil já teve”.
O leitor quer saber:
“Uma dúvida besta: quem transcende transcende algo ou transcende a algo?”
Respondo:
As duas coisas. Transcender pode ser transitivo direto ou indireto.
Habitualmente, é fato, é empregado como transitivo direto, no sentido de superar:
Ex: No poder, o petismo transcende o malufismo no que respeita a certas escolhas éticas.
Mas pode ser transitivo indireto no sentido de elevar-se, pôr-se acima:
Ex: A vida humana transcende aos postulados da ciência.
A diferença, de tão sutil, é quase nenhuma, e se tem escolhido cada vez mais a transitividade direta. Noto, no entanto, que os verbos transitivos diretos admitem a voz passiva. Por exemplo:
Voz ativa: Por meio do mensalão, o PT comprou o Parlamento.
Voz passiva: Por meio do mensalão, o Parlamento foi comprado pelo PT.
O verbo “transcender”, embora empregado como transitivo direto, raramente é usado na voz passiva, embora seja possível:
“O malufismo foi transcendido pelo petismo”.
Parece que isso indica que o verbo tem, vá lá, uma certa natureza transitiva indireta. E noto ainda quanto à regência:
“Transcender” também admite a preposição “de”, no sentido de “exorbitar”:
Quando o Babalorixá disse que a reforma tributária que está no Congresso não vale, transcendeu de sua função de presidente e se comportou como Legislativo.
Viram só? Fiz como o picareta Paulo Freire: um pouco de proselitismo para tratar de gramática.