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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Gonçalo Osório, um leitor querido, expressa a sua divergência

Gonçalo Osório, leitor deste blog, com quem sempre aprendo muito, manda-me o seguinte comentário a respeito do que ando escrevendo sobre a Líbia e a observação que fiz sobre Dresden, Hiroshima etc: Rei, Faz tempo que estou para te escrever. Vamos deixar a questão Dresden/Hiroshima de lado pois é óbvio que você, na pressa, colocou […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h23 - Publicado em 25 out 2011, 06h53

Gonçalo Osório, leitor deste blog, com quem sempre aprendo muito, manda-me o seguinte comentário a respeito do que ando escrevendo sobre a Líbia e a observação que fiz sobre Dresden, Hiroshima etc:

Rei,
Faz tempo que estou para te escrever. Vamos deixar a questão Dresden/Hiroshima de lado pois é óbvio que você, na pressa, colocou o bombardeio feito para aplacar Stalin (que se preparava, naquele momento, para o assalto final a Berlim) com o evento chave para o final da guerra no Pacífico. O que me interessa é um problema que julgo identificar no seu argumento-base em relação ao que está ocorrendo no mundo árabe. Muitos de seus textos sobre o assunto se debatem em torno de dois eixos: 1) deveria o Ocidente (vamos usar a expressão tradicional) apoiar opositores de ditaduras amigas? 2) estamos apenas trocando uma ditadura pela outra, com o agravante de que, agora, vamos enfrentar os islâmicos e suas idéias apocalípticas?

Quanto à primeira pergunta, parece-me óbvio que o Ocidente não tem alternativa. O Ocidente está sendo confrontado com transformações importantes, de final imprevisível, que fogem ao seu controle. Mesmo no caso da Líbia. É como se você assumisse que o Ocidente fosse “responsável” por qualquer tipo de evento. Não é. Quanto à segunda questão, estamos de novo diante do imponderável e, possivelmente, do inevitável. Dependendo do tipo de instituição que encontramos nos diversos países árabes, é possível, sim, antecipar algum tipo de regime mais aberto, democrático, pluralista, ainda que distante dos nossos “valores”.

Em outras lugares (Líbia, por exemplo) é difícil imaginar o triunfo de idéias ocidentais. O que não se pode – e acho que você, no calor da batalha, comete esse equívoco – é assumir que tratamos apenas de dois pontos extremos de uma escala muito detalhada e rica em facetas e nuances. Na verdade, não se pode mais falar de uma “Primavera Árabe”. Deve-se falar de vários processos concomitantes, alguns com óbvia influência sobre os outros. Serão, ao que já se sabe, caminhos diferentes com resultados diferentes. Essencial é observar o Egito. As coisas ali não estão ainda decididas. A Irmandade Muçulmana é uma hidra, um enigma, uma charada, um embuste, uma organização de fachada pronta a fazer o que os aiatolás fizeram no Irã? Não podemos responder ainda.

Na minha opinião pessoal, o Egito tem condições de formar alguma coisa entre um regime autoritário baseado nas Forças Armadas, composto de um Parlamento fraco e políticos idem, com algum grau de liberdades civis. Não necessariamente uma república islâmica à Khomeini. Acredito que essa possibilidade é o melhor cenário possível, é o mais provável do jeito que as coisas estão hoje. A noção de “pior” ou “melhor” aqui, como você bem sabe, é sempre relativa à posição de alguém. No caso, o Ocidente. Mubarak, Kadafi et caterva, no fundo, nada garantiam – conforme demonstrado pelos fatos.

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Abração afetuoso e saudoso

Comento
Caro, você anda sumido. Faz falta!

Vamos lá. Não me esqueci dos interesses estratégicos, e até táticos, que dizem respeito a Dresden e a Hiroshima e Nagasaki. Não tem nada a ver com pressa. Não me tomaria muito tempo, convenha. Apenas evidenciei que os civis, mesmo numa guerra justa — como chamei —, são as vítimas indesejáveis. De perto, do ponto de vista de quem sofre, todas as guerras são injustas. É perfeitamente possível indagar quantos milhares, outros milhares, teriam morrido sem aquelas ações. Mas AQUELES MILHARES MORRERAM em ataques indiscriminados.

Quanto à questão dos países árabes, não quero caceteá-lo repisando argumentos — que você certamente considera frágeis. Posso até me alinhar com as dúvidas e as possibilidades todas que você coloca, mas não me escapa um aspecto de sua observação. Você escreve: “É como se você assumisse que o Ocidente fosse ‘responsável’ por qualquer tipo de evento. Não é.” AMIGO, EU ACHO QUE NÃO É. E, porque não é, não cabia a EUA, França e Reino Unido, com uma resolução da ONU e os aviões da Otan, entrar numa guerra civil, especialmente porque o fez evocando motivos humanitários.

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Note bem, Gonçalo: faria mais sentido ter dito, embora fosse difícil, você há de admitir, explicar: “Estamos fazendo essa escolha porque ela nos é útil, atende aos nossos interesses estratégicos”. Bem, não consigo, e acho que ninguém consegue, explicar por que atenderia, mas vá lá… Foi o Ocidente que se colocou como “responsável por qualquer tipo de evento”. Tanto é assim que decidiu determinar o seu rumo.

Eu quero muito estar errado, mas o fato é que não gosto nada do que vejo acontecer no Egito. As liberdades civis para os cristãos, por exemplo, na prática, diminuíram. Os primeiros movimentos da Líbia não me parecem muito auspiciosos. E há, e isso me parece evidente, o incentivo à desordem internacional que a intervenção na Líbia traz consigo. Embora seja uma guerra com efeitos imediatos muito menores do que a do Iraque — não há termo de comparação no que concerne às conseqüências econômicas —, creio que, politicamente, algo muito mais grave se deu. Forças multinacionais, sob o comando da ONU, não podem simplesmente impor um governo — e foi isso o que aconteceu. Não há um maldito item daquela resolução que tenha sido seguido.

Abração! Já não dá mais adiar o nosso uísque! Continuo rezando por você por conta de sua excessiva confiança nas leis da física, hehe…

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