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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Goethe e os apetites do capeta

Alguns leitores não entenderam a referência ao traseiro dos anjinhos em Goethe (post abaixo). Tenho de explicar, né? Pois é… Como sabem, Fausto faz um pacto com o diabo. Ao morrer, o Coisa Ruim aparece para cobrar a fatura: a alma do ambicioso. Mas, no Fausto contado por Goethe, Deus dá um jeitinho, e os […]

Por Reinaldo Azevedo 31 out 2007, 20h10 • Atualizado em 31 jul 2020, 20h15
  • Alguns leitores não entenderam a referência ao traseiro dos anjinhos em Goethe (post abaixo). Tenho de explicar, né? Pois é… Como sabem, Fausto faz um pacto com o diabo. Ao morrer, o Coisa Ruim aparece para cobrar a fatura: a alma do ambicioso. Mas, no Fausto contado por Goethe, Deus dá um jeitinho, e os anjos resolvem disputar com Mefistófeles, no túmulo, a alma do que morrera. E o Bem vence a parada. O diabo perde a sua prenda.

    Mas os anjinhos recorrem a um estratagema curioso. Decidem seduzir o demônio. É, sedução mesmo, de caráter erótico. Como diria São Paulo, o diabo fica todo “abrasado” pelas “formas” dos seres angelicais, e até lhes sugere algumas poses mais “apetecentes”. Resultado: acaba se dando mal por não conter seus apetites…

    O trecho que segue vai na tradução, em versos, de Jenny Klabin Segall (Edusp, 1981). Há uma outra, também muito boa, de Flávio M. Quintiliano. Observem que aos anjinhos nada têm de inocentes. Vejam que o diabo se interessa especialmente por um mais taludinho.

    MEFISTÓFELES
    Dizei-me, lindos jovens, pois:
    Também de geração de Lúcifer proviestes?
    Quisera vos beijar tão sedutores sois,
    Julgo que em boa hora aqui viestes.
    Tão natural me sinto e grato,
    Como se amigos velhos fôsseis e bem-vindos;
    Chegais sensuais, mansinhos, como gatos,
    E cada vez mais lindamente lindos;
    Oh vinde perto, oh concedei-me um vosso olhar!

    ANJOS
    Aqui estamos: que te obriga a recuar?
    Estamos perto; fica se o puderes.

    MEFISTÓFELES
    (…)

    É isso, do amor a elementar essência?
    Meu corpo todo em brasas se tortura,
    Mal sinto, já, da nuca a incandescência.
    De cá flutuais, de lá; baixai para o meu plano,
    As formas agitai de modo mais mundano;
    De fato, o aspecto austero em vós é lindo,
    Mas, quisera uma vez, tão só, vos ver sorrindo;
    Ser-me-ia um gosto eterno, nuca visto dantes.
    Digo: do modo pelo qual se olham amantes,
    Dos lábios é um jeitinho, tão-somente.
    Alto marmanjo, és tudo quem mais me agrada;
    Não te orna o ar sonso de padreco em nada,
    Olha pra mim algo lascivamente!
    Podíeis sem desonra andar mais nus, aliás;
    As amplas vestes são supra-decentes;
    Desviam-se; assim vistos, por detrás!
    São os malandros por demais apetecentes.
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    *
    Bem, o fato é que o diabo se distrai, e os anjos resgatam a alma de Fausto. Abaixo, transcrevo o lamento final de Mefistófeles, agora na tradução de Quintiliano (em prosa), censurando a si mesmo:

    MEFISTÓFELES
    E agora a quem posso queixar-me? Quem devolverá os direitos que conquistei? Foste enganado nos teus velhos dias! Era o que merecias! Tens de pagar por isso! Agi como um perfeito imbecil! Tanto esforço deu em nada; prazeres vulgares, tolos namoricos viraram a cabeça do mais empedernido dos diabos. O experiente deixou-se levar por truques pueris; não foi pequena a insensatez que causou a desgraça.

    *
    É isso aí. Os petralhas vivem pedindo um debate “de nível”. Espero que Goethe, o alemão, não o Falcão, lhes pareça bom…

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