Gedimar, Abel, Mercadante…
Os petistas se metem em tanta lambança e criam tal número de versões, que nos vemos, muitas vezes, como um Dante visitando os círculos do inferno, só que sem Virgílio para dar uma mãozinha. Hoje, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) depôs na PF sobre o dossiê, e o empresário Abel Pereira depôs na CPI dos […]
Uma das mais esclarecedoras reportagens a respeito do assunto foi publicada pelo Globo ainda no dia 19, terça-feira. E tinha como fundamento o depoimento à PF de Gedimar Passos, o petista que é advogado e policial aposentado. Gedimar foi preso em companhia de Valdebran com o dinheiro que pagaria a armação contra Serra e Alckmin. Vale retomar aspectos da reportagem de Alan Gripp e Anselmo Carvalho Pinto.Incriminando o PT – Segundo Gedimar, o pacote negociado com os Vedoin incluía supostas informações que também comprometiam o PT. Esse dado desapareceu dos jornais. Ele é importante porque justifica que petistas se mobilizassem para obter a malandragem. A um só tempo, estariam se preservando e atacando os adversários. Se estava havendo chantagem, os chantageados, provavelmente, eram os petistas. (…) “A família Vedoin se dispôs a vender informações graves que comprometiam não só políticos de outros partidos, como políticos do PT”, disse Gedimar à PF.E o que seria o dossiê contra Serra? – Segundo Gedimar, naquela língua estranha dos depoimentos, “ocorre que a documentação mostrada aos jornalistas e aquela que foi protocolizada na Justiça se resumia em fatos já conhecidos da sociedade em geral, que se tornaram de pouca importância ao PT e ao órgão de imprensa [leia-se: a revista IstoÉ]; que, como os Vedoin estavam interessados em receber o restante do dinheiro, se apressaram e, ainda na cidade de Cuiabá, entregaram um CD-ROM que afirmavam que continha toda a documentação prometida; que os jornalistas, ao chegarem em sua base, verificaram que o CD nada continha” Na seqüência, ele diz que os Vedoin ficaram de entregar novos documentos e que ele os analisaria para liberar ou não outra parcela do dinheiro.Hamilton Lacerda – Agora já sabemos que o órgão de imprensa é a IstoÉ e que foi Hamilton Lacerda, assessor de Mercadante, quem negociou com a revista. Isso significa que ele estava, claro, por dentro do caso, incluindo as ameaças que Vedoin fazia aos petistas. A quais petistas? Bom, o fato é que um assessor de Mercadante estava no rolo. Os outros são homens de Lula.Se dossiê havia… – Se havia mesmo um dossiê, parece que não era exatamente contra o candidato tucano. Afinal, o homem encarregado de analisar o material não viu nada além do que todo mundo já sabia: fotos do ex-ministro da Saúde em cerimônia de entrega de ambulâncias.
Pois bem. Dois meses depois, em depoimentos que poderíamos dizer se tratar de uma “concertação” (com a devida licença de Tarso Genrso, uma espécie de “dono” da palavra), Expedito Veloso e Oswaldo Bargas decidiram se sair com uma versão que não haviam relatado à Polícia Federal: eles estariam interessados em supostas provas que ligariam Abel à campanha de José Serra em 2002. Reparem que a versão dos homens que juram jamais ter ouvido falar em dinheiro não combina com a de Gedimar. Já a de Abel Pereira, como vêem, confere com a de Gedimar.
Agora Mercadante
O senador negou, claro, mais uma vez, que soubesse das ações de seu subordinado, Hamilton Lacerda, o homem da mala: é ele quem aparece nas fitas do Hotel Íbis carregando a dinheirama. Mercadante sustenta que só ficou sabendo de tudo depois da prisão dos aloprados.
Quer dizer que ele nunca tinha visto antes esses moralistas? Não é bem assim. Ele confirmou ao delegado Diógenes Curado que se reuniu em seu gabinete no Senado com Expedito Veloso e Oswaldo Bargas no dia 4 de setembro: dez dias antes da prisão de Gedimar e de Valdebran Padilha. Ah, mas a reunião servia para quê? Veloso e Bargas teriam ido pedir que a bancada petista comparecesse em peso ao depoimento de Luiz Antonio Vedoim, marcado para o dia seguinte no Conselho de Ética. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também estava presente. Cabe a dois estafetas da campanha presidencial ir a senadores da República pedir atenção a uma sessão no Congresso? Segundo Mercadante, isso é muito normal…
Como observador da cena, escrevo o óbvio: a posição de Mercadante, nessa história, é absolutamente inaceitável. Sua justificativa para alegar que nada tem a ver com o caso é frágil. Diz ele, com toda a carga de ambigüidade que a declaração pode ter, que jamais faria ataques pessoais a Serra. Dossiê é um ataque político, não é pessoal. Da forma como ele fala, até parece que, caso o tucano estivesse envolvido na falcatrua, seria uma questão privada. Não seria. Assim como o caso do dossiê fajuto está longe de ser uma mera questão policial. Era uma tentativa de golpear a democracia.
Mercadante só tem uma saída: tem de indagar, caso não saiba, a Hamilton Lacerda: “Quem lhe deu o dinheiro?”