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Foucault, Santo Tomás e Maria Imaculada

Falei mal de Foucault. Chutei a “santa”. O indignado abaixo reproduz trecho do que escrevi (em itálico) e depois dispara: “O francês Michel Foucault (1926-1984), só um literato meia-bomba para quem busca justificativas teóricas para desregrar os sentidos (em bom português: “enfiar o pé na jaca”) foi o mais lustroso — mais lustroso do que […]

Por Reinaldo Azevedo 29 set 2007, 21h46 • Atualizado em 31 jul 2020, 20h21

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Falei mal de Foucault. Chutei a “santa”. O indignado abaixo reproduz trecho do que escrevi (em itálico) e depois dispara:

“O francês Michel Foucault (1926-1984), só um literato meia-bomba para quem busca justificativas teóricas para desregrar os sentidos (em bom português: “enfiar o pé na jaca”) foi o mais lustroso — mais lustroso do que sua lustrosa careca — defensor da tese de que a loucura é um “discurso socialmente construído.”

Isso é tão imbecil e intelectualmente desonesto quanto dizer que Sto. Tomás de Aquino é só um carola que procura dar alguma dignidade intelectual a teses tão absurdas e ridículas quanto a possibilidade de uma virgem conceber.

Respondo
Calma, colega!
Em tão curto trecho, tantos equívocos!
É inescapável supor, lendo o seu comentário, que você considera Santo Tomás de Aquino e Foucault grandezas de mesmo calibre. Acho que nem mesmo Foucault se tinha em tão alta conta. Falaremos de Tomás enquanto houver civilização. Foucault já está está relegado à arqueologia dos equívocos. Mesmo na França, ninguém mais dá bola pra ele. Ele é referência só em universidades do Terceiro Mundo, onde certa esquerda pretende usá-lo como demonstração de seu suposto não-dogmatismo.

Se você conhece mesmo Santo Tomás, sabe que ele jamais chamaria de ciência a concepção imaculada. Volte aos livros. O que é matéria de fé está fora do escrutínio científico. Mesmo as provas da existência de Deus, na Suma Teológica, são exercícios lógicos. Assim, em termos estritamente tomistas, Maria ter concebido virgem não pode jamais ser um “absurdo” porque há uma condição anterior a qualquer verificação da experiência: “é preciso crer”.

Já a loucura como um discurso socialmente construído, na obra do careca, aspira à condição de um saber científico. E a ciência prova, a cada dia, que aquilo era só ideologia. No caso de Foucault, se formos ser rigorosos, era mais uma tentativa de justificar-se a si mesmo do que de explicar o mundo que o rodeava.

Mas fique tranqüilo. Da próxima vez, falo mal de Maria Imaculada. E acho que você não dará um pio para defendê-la, não é mesmo? Há aí uma hierarquia, não sei se você percebe, em que Foucault vem antes de Jesus. É um jeito de ver o mundo. Não é o meu, como você deve supor.