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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Forças Armadas nas ruas de Natal? Ainda bem! É o certo!

Caso se preservem os valores da democracia, sempre estaremos prontos a fazer a escolha certa e a reformar o mundo para fazê-lo mais generoso

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 fev 2017, 16h41 - Publicado em 19 jan 2017, 17h12

O presidente Michel Temer deu autorização para que as Forças Armadas reforcem a segurança nas ruas de Natal. Por quê? Aconteceu o esperado: a guerra de facções dentro dos presídios foi para as ruas. Aliás, esse é o risco para o qual o, desculpem a franqueza, idiotas ainda não atentaram. A inferência de que conflito em presídio “é coisa lá deles, dos bandidos, não nossa” é uma das maiores bobagens que se podem dizer a respeito. Nunca será.

Há gente que precisa aprender a pensar as coisas segundo a sua gravidade particular e específica. Um dos caminhos mais pavimentados do autoengano é aquele composto por raciocínios metafóricos ou comparativos. No primeiro caso, o sujeito encontra uma resposta para a metáfora e pensa que o problema está resolvido; no segundo, alevanta um valor ainda mais alto para se omitir de dar uma resposta à questão original.

Explico.

Vamos aplicar ao caso do Rio Grande do Norte a máxima de que “o mal se corta é pela raiz”. Eis uma verdade ensinada pela natureza, que assume um valor genérico. Bem, no limite, esmaguem-se todos os rebelados de Alcaçuz, e a fatura estaria liquidada. E as lorpas ainda babam: “Sem essa de direitos humanos….”. Nem é preciso ser especialmente sagaz para saber que, nesse caso, o sangue vai regar o mal. Assim, a metáfora é boa como metáfora e desastrosa como ação prática.

Ou, então, e tenho recebido muitas mensagens nesse sentido, o sujeito vem falar das urgências da saúde, que são reais; da educação, que são reais; da moradia, que são reais. Deus do céu! Sou até mais amplo: há um déficit de felicidade no mundo, não é? A dificuldade é saber quais são as questões que, embora precárias, não inviabilizam a sociedade. Quem não investiria com mais gosto em creches e escolas do que em presídios?

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Há dificuldades que tornam a vida mais triste, mais acabrunhada, mais miúda, mas que, ainda assim, mantêm as esperanças, nem que seja em estado latente. Mais: se as instituições funcionam, apesar de todas as precariedades, permanecem abertos os caminhos da reforma. Notem que não falo em “redenção”. Essa palavra, em matéria de ciência social, é coisa de autoritários tarados.

O que está em curso, no caso dos presídios, afeta a própria essência de um regime ancorado nas liberdades públicas e nas liberdades individuais.

Onde está, a propósito, a deformação moral da esquerda quando lhe é dado responder ao desafio à segurança pública? Ela parte do princípio de que os bandidos são seres revolucionários em estado larvar; ela infere que estamos a lidar com uma espécie de “rebelde primitivo” que ainda não descobriu o inimigo certo. Aliás, os comunistas, deixados nos mesmos presídios de criminosos comuns, estão na raiz do Comando Vermelho. No fim das contas, são uns idealistas estúpidos. Acham que não se pode delinquir por vontade.

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Onde está, a propósito, a deformação da direita brucutu? Em ignorar que, com efeito, há fatores condicionantes da delinquência que podem ser corrigidos. E as iniquidades sociais, é evidente, estão entre eles. Mas ela não quer se ocupar de políticas públicas. Acredita que se elimina o problema com a eliminação do problemático. E, no mais, viva a competição. Como se a competição realmente virtuosa não fosse apenas aquela que se estabelece entre competentes.

Estamos diante de uma questão civilizatória, ora bolas!, não de um problema meramente policial. Caso se preservem os valores da democracia e do Estado de Direito; caso se mantenha a hierarquia de valores que nos distingue da Besta; caso se conservem os fundamentos da empatia, que nos levam a reconhecer no outro um nosso semelhante, sempre estaremos prontos a fazer a escolha certa e a reformar o mundo para fazê-lo mais generoso.

Destruídos esses pressupostos, então chegamos ao fim da linha. Aí, meus caros, estaremos condenados a entrar naquele lugar onde não entra a esperança.

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O inferno existe. E ele pode ser aqui.

Forças Armadas, sim! Enquanto forem necessárias.

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