Fora do Eixo, a seita totalitária 1 – Mais uma vítima torna público o seu depoimento. Ou: À diferença de Capilé, digo: “Não me sigam!”
Publiquei ontem aqui parte do depoimento-desabafo da cineasta Beatriz Seigner, que acusa os métodos muito pouco civilizados empregados pelo Fora do Eixo, grupamento que comanda a tal “Mídia Ninja”, que andou sendo reverenciada por alguns tolos desinformados e deslumbrados da grande imprensa. Impressionante a repercussão! O post correu, perdoem-me o clichê, como um rastilho de pólvora […]
Publiquei ontem aqui parte do depoimento-desabafo da cineasta Beatriz Seigner, que acusa os métodos muito pouco civilizados empregados pelo Fora do Eixo, grupamento que comanda a tal “Mídia Ninja”, que andou sendo reverenciada por alguns tolos desinformados e deslumbrados da grande imprensa. Impressionante a repercussão! O post correu, perdoem-me o clichê, como um rastilho de pólvora no Facebook e no Twitter. Beatriz acusa a existência de trabalho semelhante à escravidão, apropriação indébita de trabalho e de recursos, ódio à cultura, culto à personalidade… Bem, no link da reportagem, remeto para a integra de seu depoimento. Agora, dou visibilidade a um outro, este de autoria de uma moça chamada Laís Bellini. Se o texto de Beatriz espanta, o de Laís assusta. Se, até havia pouco, recorria-se a uma metáfora para falar do Fora do Eixo como uma seita, agora já não se trata de figuração. E Pablo Capilé, sabe-se lá no uso de quais atributos não perceptíveis a olho nu (o discurso racional é que não é), é o seu Profeta, é o homem da Revelação. Pior: aparece também, depreende-se do depoimento de Laís, como um tirano com poderes maiores do que aqueles de que dispõe Kim Jong-un, o anão tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Ao ler as palavras da moça, a gente se pergunta: como é que jovens alfabetizados, com aspirações ou reais dotes artísticos, caem na lábia de Capilé? Bem, não é de hoje que a literatura religiosa trata dos falsos profetas, não é mesmo?
Antes que prossiga, uma informação relevante. Laís, que escreve o depoimento, cujos trechos transcreverei, não gosta de mim. Na verdade, ela me detesta. Como eu não sou o Capilé e não preciso que ninguém me adule, antes de reproduzir qualquer coisa de sua autoria, informo na íntegra o que ela diz a meu respeito:
“ (…) espero eu que pessoas como Reinando Azevedo, um dos caras que mais me enojam na grande mídia, não venha considerar que quem está descrevendo aqui sua experiência tem alguma coisa a ver com seus ideais… pelo contrário.”
Comento
Não sei se entendi direito, mas parece que Laís teme que, por ter se tornado uma crítica do Fora do Eixo, eu passe a considerar que ela é da minha turma. Fique tranquila, moça! Eu não tenho turma! Zero! Nenhuma! Sou do bloco do “eu sozinho”. Não sou profeta. Não catequizo. Não tento ganhar ninguém para a minha “causa” porque não tenho causa nenhuma — não, ao menos, consubstanciada numa doutrina. Não preciso que ninguém me adule. Todas as pessoas que eu queria que gostassem de mim já gostam. Todas aquelas cujo ódio me regozija já me odeiam. Se eu ganhar novos amigos, Laís, fico contente. Mas também não os procuro porque estou satisfeito com os que tenho. Se eu quisesse companhia, não escreveria certas coisas, não é? Seria mais tendente a buscar o acordo, o meio-termo, o meio do caminho, a média de opiniões. Mas eu gosto, Laís, é do dissenso, do confronto de ideias, do choque. Eu, Laís, gosto mesmo é de coisas fora do eixo, daí a razão por que repudie, por princípio, que alguém crie uma entidade gigantesca para cuidar da suposta cultura alternativa. Ora, que alternativa pode haver, como você experimentou muito bem, num aparelho montado para odiar certas coisas e reverenciar outras? Que alternativa pode haver onde há doutrinação ideológica e moral, para dizer o mínimo?
Eu a enojo? Só se for por causa dos valores que vão acima. Não será pelo meu hálito, garanto, tampouco pelo cheiro que exalo — além do banho diário (no mínimo, um), anuncio aqui a descoberta de uma essência deliciosa em minha recente incursão pela Toscana… É claro que você não é seguidora não precisamente das minhas ideias, mas, vá lá, de alguns dos meus valores. Se me lesse com um pouco mais de cuidado, não teria caído na conversa de tipos como Pablo Capilé. Teria percebido a tempo, sem passar pelos óbvios constrangimentos por que passou, que, em que pese a dimensão coletiva da arte, é só no sossego do claustro e no mergulho da própria intimidade que se produz uma obra relevante. Teria, quem sabe?, sido advertida há tempos e a tempo de que tudo aquilo que esmaga a individualidade acaba servindo sempre a um senhor, a um tirano — nem que seja um tirano de almas.
Ainda que me solidarize com você, moça — solidariedade que devo a qualquer um que sofre ou que é vítima de uma burla —, não dou destaque a seu depoimento apenas para emprestar relevo à sua história. Espero, isto sim, que ela sirva de advertência a outros tantos jovens vulneráveis ao discurso dos falsos profetas.
Este post já ficou longo demais. Volto no próximo, então, com o depoimento de Laís.