Fá-lo, fê-lo e o homem que foi dar em Budapeste
Ai, ai… Um sujeito, tentando me dar aula de direito, naquele post sobre o Rola da CUT (a quanto me obriga esta profissão…), lascou lá um “fá-lo”, uma construção gramatical correta naquele caso, mas pernóstica. Aí resolvi mangar do rapaz e escrevi: “Não sei se começo comentando o aspecto político ou o psicanalítico. Tá: primeiro […]
Um sujeito, tentando me dar aula de direito, naquele post sobre o Rola da CUT (a quanto me obriga esta profissão…), lascou lá um “fá-lo”, uma construção gramatical correta naquele caso, mas pernóstica. Aí resolvi mangar do rapaz e escrevi:
“Não sei se começo comentando o aspecto político ou o psicanalítico. Tá: primeiro o divã. No post sobre o Rola, o companheiro opta pela construção “fá-lo”… Cuidado com a terceira pessoa do singular do pretérito do indicativo. Eis aí o que Lacan definiria como um “ato falo”.
Aí dois leitores resolveram me corrigir:
O “Gramático Dramático” escreve:
Você escreveu…”Cuidado com a terceira pessoa do singular do PRETÉRITO do indicativo”. Será que você não queria dizer PRESENTE do indicativo?
Publicar Recusar (Gramático Dramático) 17:40
Aí vem outro, Anônimo, e foi ainda mais longe:
No post sobre o Rola, o companheiro opta pela construção “fá-lo”… Cuidado com a terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo.
Você nunca ouviu falar do PRESENTE HISTÓRICO OU NARRATIVO? Quer dizer que não utilizamos um tempo verbal em lugar de outro?
Quer dizer então que vc nunca leu algo parecido com isto:” O presidente Costa e Silva ASSINA,então, o AI-5,que TOLHE toda a liberdade do indivíduo e da imprensa”. Serve para tornar mais vivos fatos do passado,mesmo os que não são tão passados assim,entende?
Quer dizer que na casa do Tio Rei ninguém nunca dirá, vg: VOU amanhã ao banco/ Quando voltar CONTO tudo o que houve… / O São Paulo JOGA amanhã…
Santa Nossa Gramática Contemporânea do Luiz Antônio Sacconi!
Publicar Recusar (Anônimo) 19:18
Comento
O primeiro, tadinho, não entendeu a piada e, creio, expressou uma dúvida. O segundo, além de não ter entendido, resolveu comentar um assunto que não guarda qualquer relação com o post. E com aquela arrogância dos ignorantes. Que mané presente histórico, meu… Há pessoas, já disse, que vieram ao mundo sem tecla SAP. Lá vou eu com um manual de instruções para piadas.
Ele escreveu “fá-lo”, entenderam? Isso eu não explico. Todo trocadilho já é de gosto duvidoso. Ter de explicar o sentido ambíguo de “fá-lo” é o fim da picada (ops!). Adiante. Aí eu recomendei que ele tomasse cuidado com o terceira pessoa do pretérito perfeito do indicativo – ou seja, com a construção “fê-lo”. E mais não explico.
Não que o “fê-lo” já não tenha freqüentado penas nobres. Mário Faustino lascou um “fê-lo” em um de seus poemas. Foi seu único mau passo em poesia. Claro, um “fê-lo” do “eu lírico” de Faustino não chega ser uma experiência tão traumática, suponho, quanto a que teve o narrador de um romance de Chico Buarque. Acompanhem:
“Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio, mas a impecável companhia aérea, além de não ter culpa pelo transtorno, ainda nos hospedou em um hotel de primeira qualidade no aeroporto aquela noite…”
Convenham: ninguém merece isso só por causa de um pouso imprevisto…