Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

EXPANSÃO E BARBÁRIE

Leiam primeiro um post abaixo. Uma estudante da Uniban, campus de São Bernardo, foi quase linchada, ou currada, porque usava um “vestido curto” — ia da escola para uma festa. Foi xingada, humilhada, filmada, exibida na Internet. Segundo seu testemunho, funcionários da universidade, até professores, a responsabilizaram pelo ocorrido. A síntese é esta: “Quem mandou […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h32 - Publicado em 30 out 2009, 17h14

Leiam primeiro um post abaixo. Uma estudante da Uniban, campus de São Bernardo, foi quase linchada, ou currada, porque usava um “vestido curto” — ia da escola para uma festa. Foi xingada, humilhada, filmada, exibida na Internet. Segundo seu testemunho, funcionários da universidade, até professores, a responsabilizaram pelo ocorrido. A síntese é esta: “Quem mandou usar vestido curto? Quem usa vestido curto está mesmo provocando”. Foi preciso a ação da polícia para que ela pudesse deixar o prédio. Vândalos chutavam a porta e pediam que a “gostosa” fosse entregue à massa.

A nova lei que pune o estupro não distingue a efetivação do ato da tentativa. Acho a lei toda atrapalhada — digo outra hora por quê —, mas ela existe. Se existe, quero saber se a universidade está empenhada em identificar os agressores para que possam ser processados. E seria até curioso, não? Porque, tudo indica, mulheres também participaram da barbárie. Não! Eu não quero saber quão curto era o vestido da moça. Ainda que estivesse nua!!! Ela que arcasse com a responsabilidade de transgredir os códigos daquele ambiente — que, suponho, mesmo abrigando linchadores, deve proibir a nudez, não é mesmo?

Demagogos das mais variadas colorações, incluindo aqueles que estão no jornalismo e suas submodalidades, saúdam a chamada “expansão” do ensino universitário no país. É evidente que não estou aqui estabelecendo uma relação de causa e efeito, a saber: não fosse a dita expansão, isso não teria ocorrido. Não! Isso acontece nos ambientes em que a ética não tem grande relevância; em que os membros do grupo não se submetem a um código de conduta; em que vigora a anomia e o salve-se quem puder.

Então, agora sim: o que vai acima define boa parte das ditas universidades brasileiras, em sua desordenada expansão, freqüentemente com o leite de pata do dinheiro público. Se eu escrevesse aqui que aquilo a que se assistiu na Uniban é “inaceitável” numa universidade, muitos poderiam indagar: “Mas seria aceitável em qualquer outro ambiente?” A resposta, obviamente, é “não”. Aquilo é inaceitável numa sociedade civilizada.

Mas, numa universidade, choca ainda mais. Esperamos de estudantes de terceiro grau que sejam especialmente tolerantes com a diferença. Afinal, aquele deveria ser um lugar especialmente dedicado ao estudo e à reflexão. Mas quê… A universidade brasileira, a bordo de algumas teses vigaristas — à esquerda e à direita, é bom deixar claro —, está se transformando numa espécie de supletivão para a conquista de um diploma. Não é só o conteúdo específico que é freqüentemente sofrível. Falta também apuro ético e moral.  Isso é mais visível hoje em franjas do ensino privado de terceiro grau. O ensino público segue pelo mesmo caminho. É questão de tempo.

Continua após a publicidade

Não! Não estou satanizando o ensino privado — até porque sou contra universidade pública, qualquer uma. Estou lastimando, isto sim, é a baixa qualidade que marca essa expansão. Não se enganem: ocorrências como essa não são fortuitas; não estamos diante de uma explosão irracional de violência. Estamos diante, infelizmente, de um ambiente de baixo padrão ético; em que um candidato a estuprador insuflando outro candidato a estuprador não chega a caracterizar um comportamento chocante, fora do aceitável. Isso atinge todos os estudantes da Uniban? É claro que não! Mas a ocorrência se deu ali, com estudantes que estavam ali.

A Uniban tem de exibir as fichas dos candidatos a estupradores e tem de expulsá-los da universidade. Ou, então, estará dizendo à opinião pública que seus bancos comportam esse tipo de gente. Nesse caso, em vez de regulada pelo MEC, deve ser supervisionada pela Secretaria de Segurança Pública; em vez de diplomas de conclusão de curso, terá de oferecer folha corrida. Que a escola entregue primeiro os bandidos. O resto se vê depois.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.