Exclusivo 8 – Fala Marcola: Nagashi, demitido por Lembo, lhe teria pedido um plano. Se é verdade, o homem caiu tarde
Nos trechos abaixo, Marcola afirma que teve ao menos duas conversas bastante significativas: uma com o próprio Nagashi Furukawa, ex-secretário de Administração Penitenciária. Ele foi demitido pelo governador Cláudio Lembo. Essa interlocução existiu num momento em que estava havendo a troca de guarda no PCC. Marcola substituía a liderança de Geleião. Mais adiante, ele afirma […]
Faria de Sá – Você diz que não usa celular. Por que você não gosta de celular, Marcola?
Marcola – Porque o celular é uma arma contra mim, simplesmente. Minha voz é gravada. É uma prova que eu posso estar dando para alguém. Quer dizer, nem com a minha esposa… é raro eu falar com celular, o senhor entendeu? É incrível eu ter sido fotografado vendo um clipe no celular, mas…
Faria de Sá – Aquela fotografia você não…
Marcola – Não, é um clip. É aqueles celulares que acionam a Internet. Tinha clips da Playboy, essas coisas assim… 10 segundos, se não me engano. Eu estava admirado porque eu tinha saído daqui, nunca tinha visto aquilo.
Faria de Sá – Você diz que, numa das suas manifestações, teve um relacionamento com o Nagashi. Que relacionamento foi esse?
Marcola – O relacionamento que eu tive com o Nagashi foi que, logo após a morte do Dr. Machado, o juiz aqui de Prudente, o sistema penitenciário estava um caos, totalmente… Morriam uns 80 presos por ano, assassinados dentro da prisão. E ele sabia que a minha posição era contra. E ele veio até mim porque eu tinha brigado com o Geleião, com aquele pessoal que era a cúpula, e esse pessoal tinha sido repudiado pelo resto da população carcerária. E ele veio até mim falar… Mostrando que ele era um cara idealista — eu acreditei nele, inclusive —, que tinha planos de humanizar, de dignificar e que, para isso, ele precisaria de pelo menos um ano sem morte dentro do sistema penitenciário.
Faria de Sá – Ele é batizado no PCC?
Marcola – Quem?
Faria de Sá – Nagashi?
Marcola – Se ele fosse batizado, ele não faria o que ele fez com a gente: deixar a gente 2 dias sem comida, sem roupa, sem nada.
Faria de Sá – Mas, nesse relacionamento aí…
Marcola – Não, ele foi pedir para que eu conversasse com outros presos, para que houvesse uma conscientização; e, para que ele pudesse fazer algo por nós, a gente tinha que dar uma demonstração de paz. Foi quando… ficou, acho, dois anos sem mortes, sem assassinatos.
Faria de Sá – Sua mãe é viva?
Marcola – Não.
Faria de Sá – Naquela negociação com a Dra. Iracema, estava presente um delegado de Polícia, estava presente um corregedor da SAP e estava um coronel da PM.
Marcola – Exato.
Faria de Sá – Tinha mais alguém?
Marcola – Não.
Faria de Sá – E eles pediram alguma coisa para você? Conversaram alguma coisa com você?
Marcola – O Coronel, não é, falou: “Pô, cara, está morrendo do meu lado e está morrendo do lado da criminalidade. Acho que é hora da gente parar”. Eu falei pra ele: “Eu concordo com o senhor, só que, para que a gente pare, tem que dar dignidade ao preso. A gente não está pedindo nada mais do que isso”. “E o que é que você pode fazer pra parar?” Eu falei: “Que eu posso fazer para parar é o que eu já fiz no DEIC. É comunicar o meu ponto de vista, ou seja, dar uma manta, alimentação e a visita do preso que teve esse direito. Eu me proponho a ir lá, em Venceslau, que é de onde parte a situação, conversar com os presos para que eles se comuniquem e parem com essa situação”. Foi tentado tudo assim que o senhor possa imaginar no sentido de que não houvesse essa situação, e o Nagashi sempre taxativo na intransigência. Eu não entendo até hoje porque isso.
(…)
Marcola – Deixa eu fazer uma colocação. Eu tinha um sonho, que depois eu vi que era um sonho impossível. Mas eu tinha um sonho de, sei lá, humanizar, de fazer os meus companheiros enxergarem que o mundo é muito mais amplo do que aquele mundinho medíocre em que eles são obrigados a viver. Eu tinha vários sonhos, que infelizmente foram detonados. Há 6 meses atrás o Nagashi mandou um cara conversar comigo, o Carlos Alberto. É um assessor dele. E ele falou: “Pô, vamos procurar juntos o melhor caminho para o sistema penitenciário de São Paulo”. Eu falei: “Pôxa vida, eu acho que esse diálogo aqui deveria ter sido há muito mais tempo, não é? Porque, se nos ouvissem, vocês pelo menos iriam saber como que a gente pensa no sistema penitenciário. E com isso vocês iam ter uma forma melhor de trabalhar com isso”. Aí, ele pediu que eu fizesse um projeto, para se colocar dentro do sistema paulista, sobre a minha visão do sistema. Então, por isso que eu digo que essa deflagração que ele falou que ia haver… Só mudando um pouco e voltando, porque eu tinha um sonho. Não tinha sentido, porque a gente estava conversando nesses termos.
Faria de Sá – Chegou a fazer o projeto?
Marcola – Cheguei a pegar opiniões de várias… O que te incomoda? Depois eu vou fazer uma análise de tudo aquilo e colocar minhas próprias idéias. Mas eu quero uma idéia geral de todos, o senhor entendeu?