Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Evita, a múmia que assombrou um país e que desafia a imaginação do realismo fantástico. Ou: A civilização preza a obra de seus heróis; a estupidez adora seus cadáveres

Vejam esta foto. A América Latina já viveu o seu patético momento com uma múmia (com os vivos, então…) — no caso, a de Evita Perón. A história é misto de comédia com filme de terror — o que não chega a ser uma síntese ruim da história da América Latina, muito especialmente a da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h43 - Publicado em 8 mar 2013, 00h24

Vejam esta foto.

Eva Peron morta

A América Latina já viveu o seu patético momento com uma múmia (com os vivos, então…) — no caso, a de Evita Perón. A história é misto de comédia com filme de terror — o que não chega a ser uma síntese ruim da história da América Latina, muito especialmente a da Argentina, que experimenta, no momento, o pastelão trágico de Cristina Kirchner, que vai ficar lá até a última besteira, até conduzir o país para um beco sem saída. Essa tem sido a rotina desde Perón, não é?, com alguns poucos espasmos de lucidez.

Evita, mulher de Perón, morreu de câncer no dia 26 de julho de 1952. Era a “mãe dos descamisados”.  A exemplo de Chávez, o general era autoritário, autocrata, mas um grande distribuidor de prebendas que minoravam o sofrimento dos mais pobres. Evita já era adorada em vida quase como uma santa. A Argentina assistiu, no dia de sua morte, a uma das maiores manifestações públicas de sua história.

Perón mandou embalsamar o corpo, que ficou abrigado na sede da central sindical peronista, a CGT. O chefe populista foi deposto por um golpe em 1955, liderado pelo general Eduardo Lonardi, logo deposto por outro, Pedro Eugênio Aramburu, que governou até 1958. Para evitar que o corpo se tornasse objeto de culto, Aramburu determinou que Carlos Eugênio de Moori Koenig, chefe do serviço de inteligência do Exército, sepultasse o corpo em local secreto. Não foi obedecido. Koenig mandou um subordinado seu esconder a múmia no porão de sua própria casa, o que deu margem, depois, a falatórios, segundo os quais ele teria se apaixonado por ela, exercitando, digamos, paixões necrófilas. Calma, que isso é só o começo da loucura.
NOTA UM – Koenig, um oficial graduado, iniciava ali o caminho do fim. Tornou-se um alcoólatra e passou a perambular pelas ruas.
NOTA DOIS – O pobre rapaz que guardava a múmia de Evita em casa também se desgraçou. Vivia aterrorizado. Um dia, ouviu barulho no porão e desceu armado. Atirou. Matou a mulher, grávida de seis meses, que descera para saber, afinal, que mistério se escondia lá. Não acabou, não!

Continua após a publicidade

Aramburu ficou furioso ao saber que o corpo ainda estava na Argentina. Mobiliza a cúpula da Igreja Católica para que fosse transferido para a Itália. Foi enterrado com nome falso: Maria Maggi de Magistris. Reza a lenda que uma série de acidentes incomuns ocorreram no trajeto até o aeroporto. Aramburu documentou toda a operação, deixando ordens expressas de que o material só fosse aberto depois de sua morte.

Em 1970, foi sequestrado por terroristas montoneros. Uma das exigências é que revelasse onde estava Evita. Não revelou. Foi assassinado. Em 1971, o governo argentino devolve o corpo para Perón, que estava exilado na Espanha. Uma nova onda de boatos tem, então, início. José López Rega, um misto de secretário e faz-tudo de Perón, dizia-se também um bruxo. Foi acusado de usar a múmia em rituais de magia para transferir a alma de Evita para Isabelita, a nova mulher do caudilho. Os montoneros não se deram por satisfeitos: sequestraram o corpo de Aramburu e prometeram entregá-lo apenas quando Evita voltasse à Argentina.

Em 1973, com a redemocratização argentina, Perón volta ao país e se elege presidente. Morre no ano seguinte, e Isabelita, que era sua vice (afinal, havia roubado a alma da outra, né?) assume a Presidência. Manda buscar o corpo de Evita na Espanha, em 1974, e o deposita ao lado do de Perón na Quinta de Olivos, residência oficial. É a fato que vocês veem lá no alto.

Continua após a publicidade

Ainda não era o descanso final. Em 1976, Isabelita é deposta por um golpe de estado. Os generais decidem, então, entregar o corpo de Evita às suas irmãs, que o enterram no Cemitério da Recoleta. Em 1977, o corpo de Perón é sepultado secretamente no cemitério La Chacarita. Ele não tinha sido exatamente embalsamado, mas substâncias conservantes tinham sido injetadas no corpo. Em 1987, seu túmulo foi profanado, e suas duas mãos foram decepadas e roubadas, como se vê na foto abaixo.

Perón corpo sem mãos

Pois é…

A América Latina desafia a imaginação do realismo mais fantástico. Uma nova múmia está chegando por aí. A ela, desconfio, outras se seguirão. A civilização costuma prezar a obra de seus heróis. A estupidez adora seus cadáveres.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.