Esquerdopatia nas escolas, a nota do MEC, a educação no pântano
A questão em que toca Ali Kamel (ver abaixo) é séria, é grave. Ele diz que não vai importunar o leitor com Gramsci ou temas como “hegemonia”. Entendi o que escreveu mais ou menos assim: “Não vou importuná-los com teorias; prefiro, no caso, demonstrar com as coisas funcionam na prática”. E fez muito bem. O […]
Qual é a tragédia no caso do ensino de história e de geografia? Kamel citou um caso. E, eu lhes asseguro que são centenas, talvez milhares. Por incrível que pareça, o comunismo é um sucesso entre nossos acadêmicos. E da pior forma possível. Olhem aqui: falo do que li. Karl Marx é leitura difícil, pedregosa. Boa parte dos nossos “inteliquituais” de esquerda ignora o que ele escreveu. Começo pelo óbvio: ele nunca teve do capitalismo o ódio que esses bocós demonstram. Ao contrário: entendia-o como um desdobramento positivo, virtuoso, da marcha da humanidade (aí vem o delírio) rumo ao socialismo. A sua posição em relação ao capitalismo não era judiciosa ou moralista nem quando se comportava apenas como militante comunista. Cínico, sim; tonto, não.
Mas o que sabem a respeito esses coitados que escrevem esses livrinhos? Nada! Formados com leitura de segunda mão para eles, basta que o aluno seja induzido — se possível, abduzido — a odiar “o capitalismo”. Faz parte da guerra de valores. Se essa gente não leu Marx, também não leu Gramsci. Não a canalha festiva ao menos. Mas alguns leram. Nos Cadernos do Cárcere, há anotações sobre educação, de que já tratei aqui e num artigo da VEJA. Na visão gramsciana, fazia parte da construção da “hegemonia” a destruição, é claro!, dos valores burgueses. E assim como se faz nesses livros: desmoralizando o inimigo.
Depois do artigo de Kamel, o MEC divulgou uma nota, de que seguem trechos (em vermelho):
(sic) no conteúdo e nas atividades propostas; e a contribuição para a cidadania, sem expressar preconceito, doutrinação ou publicidade. É o que explica a coordenadora-geral de estudos e avaliação de materiais da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC), Jane Cristina da Silva.(…)O MEC estabelece convênio com universidades federais para realizar a avaliação. O ministério coordena, institui os critérios e elabora o edital. É nomeada uma comissão técnica, composta por especialistas na área: professores-doutores com experiência no ensino fundamental, vindos de diversos lugares do país. As editoras precisam indicar os livros ao MEC, pelo menos, dois anos antes da avaliação.(…)O resultado da última avaliação saiu em abril deste ano. Em junho/julho, os professores já escolheram os livros a serem utilizados no período de 2008 a 2010. O livro “Nova História Crítica”, para a oitava série, da editora Nova Geração, foi excluído desta lista por apresentar problemas conceituais. Assim, não estará nas escolas nos próximos três anos.Indicado pela editora em 2001, o livro “Nova História Crítica” foi considerado ‘recomendado com ressalvas’ no PNLD 2002, ou seja, possuia (sic) limitações, mas poderia propiciar um bom trabalho pedagógico, desde que o professor estivesse atento às ressalvas apontadas no Guia do Livro Didático. No PNLD 2005, foi considerado aprovado – neste ano, foi abolida a categoria ‘recomendado com ressalvas’ -, mas apresentou praticamente os mesmos problemas detectados antes.(…)“O MEC não privilegia nenhuma abordagem. Dentre os livros selecionados pelo programa, o professor tem autonomia para fazer sua escolha”, destaca Jane. A coordenadora explica, ainda, que o ministério disponibiliza (sic) uma resenha de todos os livros escolhidos, por meio do Guia do Livro Didático, que orienta a escolha dos professores. (…)
Voltei
Uma nota do MEC traz um erro de concordância (“teórica-metodológica” — o certo é “teórico-metodológica”), um de acentuação (“possuia” em vez de “possuía”, com acento) e o monstruoso neologismo “disponibilizar”. O Brasil está no pântano educacional, no brejo, mergulhado na barbárie. Há dias em que escrevo 30 posts, às vezes mais. Também erro. Os leitores me ajudam. Mas não sou o MEC. Ao redigir uma nota, o Ministério da Educação está obrigado a honrar a norma culta da língua. Quantas notas foram divulgadas hoje? Essa gente que vá se catar.
É conversa mole essa história de que não há “orientação” ideológica. Há, sim. Inclusive em vestibulares feitos em universidades federais — e não só nas federais, também é verdade. Já escrevi aqui alguns posts a respeito do tema, que vou recuperar.
E que se note: nas escolas particulares do ensino fundamental e médio, a realidade não é muito diferente, não! Professores da chamada área de humanidades estão convictos de que seu papel é açular, sei lá, a revolta na clientela “pequeno-burguesa” (o MEC escreveria “pequena-burguesa”) e nos filhos da Dona Zelite. Já relatei aqui: num livro de inglês de uma das minhas filhas, uma americaninha tem como herói… Chico Mendes! Ao que ela comentou: “Nossa! Será que ela não tinha nenhum americano para escolher, mesmo que fosse o índio Touro Sentado?” Tenho orgulho dessa menina, hehe… Continuarei com este assunto.